Mais de três mil pessoas estiveram presentes no Centro de Congressos do Estoril para assistir ao IDC Directions, um dos principais eventos nacionais dedicados à transformação digital. Gabriel Coimbra (na foto), group vice president e country manager da IDC Portugal, explicou que «dada a incerteza em relação ao contexto económico e geopolítico», a consultora «reviu a previsão de crescimento, de cerca de 4% para 0,8%».
O responsável esclareceu que isto se deve «maioritariamente a uma quebra ao nível das vendas de equipamentos como PC, tablets, monitores, entre outros, quer no sector do consumo, quer no empresarial que está a puxar o mercado para baixo». Segundo a IDC, «alguns dos grandes investimentos estão a ser adiados para o próximo ano ou para daqui a dois anos» e, por isso, o mercado vai voltar a crescer, mas não como antes, referiu, à businessIT, Gabriel Coimbra: «Em 2021 tivemos um crescimento de quase 18% devido ao COVID. Depois, houve um ajuste natural e o mercado aumentou 4%, em 2022. Isto, misturado com alguma incerteza, faz com que em 2023 vá ter um crescimento reduzido; mas, em 2024, vamos voltar a crescer 4%. Já em 2025, o mercado vai regressar a aumentos na ordem dos 11 a 12%».
O digital continua a ser o “motor”
Gabriel Coimbra salientou que a transformação digital continua a ser o driver do mercado: «A inovação é a única forma de conseguirmos mudar o status quo, de criar valor e resolver problemas, até mesmo em contextos financeiros e geopolíticos adversos, tais como, a inflação e a guerra. Por essa razão, acreditamos que a transformação digital vai representar 50% de todo o investimento nacional em TIC, até ao final de 2025».
A consultora estima que, entre 2022 e 2025, os investimentos directos em transformação digital no País vão registar um crescimento anual médio de 14,5%. Além disso, «70% dos investimentos em TI em Portugal, que vão atingir 5,3 mil milhões de euros, em 2023, serão feitos em tecnologias de terceira plataforma», ou seja, em cloud, mobile, big data e analytics e social business.
Gabriel Coimbra destacou que a cloud «ultrapassou os oitocentos milhões de euros em Portugal e cresce a uma taxa de mais de 20%; que os investimentos em segurança ultrapassaram os trezentos milhões de euros em Portugal, estão a crescer mais de 13% e que já representam 7,5% do orçamento anual das empresas em TI». Por outro lado, country manager da IDC Portugal, afirmou que, em Portugal, a área de «data e analytics está quase a chegar aos quatrocentos milhões de euros e a crescer acima dos 10% e que os gastos com IA estão a aumentar a um ritmo superior a 24%, ultrapassando os noventa milhões de euros».
Uma quarta plataforma
Além da importância crescente do digital, Gabriel Coimbra, em declarações à businessIT, realçou que o mercado está a mudar: «Há novo paradigma nas tecnologias. A terceira plataforma e os aceleradores de inovação (IoT, realidade virtual e aumentada, robótica, inteligência artificial) já estão consolidados e estamos a entrar numa nova era, a que chamamos a automação inteligente». O country manager revelou que «é um novo paradigma, uma nova plataforma tecnológica que vai acontecer nos próximos cinco a dez 0 anos em que todos os negócios terão de ser automatizados de forma inteligente, usando não só com IA e IA generativa, mas também a computação quântica e o metaverso com a integração do mundo físico com o digital, entre outras tecnologias disruptivas».
O responsável disse que este é um «momento de inflexão» e que, hoje, as organizações «vão levar os seus negócios digitais a uma escala maior, de forma automatizada e inteligente». É, pelo menos, assim que a IDC vê o mercado das TI a evoluir na próxima década.
Ameaças cibernéticas a mudar
Um dos grandes destaques do IDC Directions foi a presença de Theresa Payton, especialista em cibersegurança e a primeira mulher a ocupar o cargo de CIO da Casa Branca. A responsável salientou que a maior ameaça global são, agora, as «contas empresariais comprometidas, que já ultrapassaram os ataques de ransomware» e que podem levar ao «roubo de propriedade intelectual, de identidade e a fraudes em transferências bancárias». Segundo esta responsável, neste momento, este é o tipo de cibercrime «mais lucrativo, inclusive, mais rentável que o tráfico de droga».
A responsável falou de inteligência artificial generativa e aconselhou os presentes a usar a tecnologia, já que não é uma ameaça: «Os humanos são, muitas vezes, imitados, mas nunca os conseguimos replicar. E a inteligência artificial, por si só, nunca vai substituir a nossa essência. Os humanos são únicos. Os computadores não têm uma essência e não têm empatia. Os humanos são únicos nesse aspecto. Por isso, não tenham medo da tecnologia porque não deverá substituir os humanos».
É preciso estar alerta
Theresa Payton falou ainda de alguns perigos associados à IA generativa: «O ChatGPT recolhe, basicamente, toda a informação da Internet, quer seja boa, fictícia e a que é lixo. Tudo isto é analisado e transformado nas respostas que obtemos». A responsável alertou para «não se confiar cegamente nas respostas» dadas por esta tecnologia e deu um exemplo que aconteceu nos EUA: advogados recorreram à IA generativa e apresentaram processos como forma de mostrar jurisprudência para defender os seus clientes; mas, na verdade, eram fictícios e estavam em livros do conhecido autor John Grisham.
No final, Theresa Payton deixou algumas sugestões que as empresas devem seguir, quando se fala de inteligência artificial generativa para garantir um correcto uso da tecnologia: «A existência de uma política para colaboradores e parceiros sobre a forma como a informação é tratada; perguntar à IA sobre a organização e a equipa de liderança para garantir que a informação que existe na Internet está correcta; ter uma política para lidar com erros e a desinformação; saber se o roadmap de cibersegurança tem em consideração a IA generativa e ter frases-passe para detectar deep fakes pois esta é a melhor forma de garantir a veracidade de quem está num vídeo ou áudio». A responsável indicou que esta medida é importante, pois poderá existir um deep fake do CEO enviado aos colaboradores, por cibercriminosos, a pedir que façam uma transferência falsa e que ter «frases-passe permite garantir que essa mensagem é real ou identificá-la como uma possível ameaça».