Após vinte anos no mercado nacional, a Masterlink, que hoje se assume como uma empresa de produto, faz as primeiras incursões pelos mercados externos. Espanha, Brasil e Angola são as geografias escolhidas para uma abordagem inicial.
Estão no mercado há mais de vinte anos. Hoje, como se apresenta a Masterlink?
Durante grande parte da sua existência, a Masterlink prestou serviços (o que agora se apelida de ‘consultoria’) de desenvolvimento, de aplicações Web, portais, enfim, todo este contexto. Basicamente, era uma empresa de desenvolvimento à medida. Ao longo do seu percurso foi ajustando a estratégia e, nos últimos sete anos, mais intensivamente, tem vindo a fazer uma transformação. Passou de uma empresa de serviços para uma de produto. Aliás, de apenas um produto, não temos um cardápio alargado. Temos uma plataforma No-Code (a nossa propriedade intelectual) e uma área de consultoria que aplica esse produto no mercado e capacita os nossos parceiros.
O nosso pilar de consultoria é, na realidade, uma consultoria funcional de transformação digital, já que o objectivo é passar os processos dos nossos clientes para o digital. Este braço de consultores faz essa implementação para o digital, sem precisarem ser engenheiros informáticos, porque usam a nossa plataforma No-Code. Estrategicamente, posicionam-se como a linha de capacitação e apoio aos nossos parceiros.
Actualmente, quantas pessoas integram a empresa?
Aproximadamente vinte pessoas.
O que vos fez alterar a vossa abordagem ao mercado?
Foi uma questão de oportunidade. Há alguns anos, tornou-se óbvio que a oferta de profissionais tecnológicos, face à procura, estava desajustada – e não exclusivamente de Portugal, mas a nível global. Este gap ainda existe, mas tende a ser mitigado com a transformação profissional de pessoas, cujo DNA académico não é de informática – e há muitas formações para transferir pessoas para esta nova carreira – o que acaba por, também, diminuir alguma qualidade dos serviços prestados, de forma geral.
Portanto, o nosso posicionamento tem sido o de abordar este mercado, esta necessidade de as organizações terem o espaço para se transformarem, para se digitalizarem e não ficarem reféns desta escassez de competências. Portanto, é uma questão de oportunidade. Foi uma caminhada em que percebemos que conseguíamos agregar algum valor ao mercado e acabámos por provocar a nossa própria transformação, especializando-nos nisto.
As empresas já estão, efectivamente, mais digitalizadas? A pandemia veio mesmo acelerar este processo?
A transformação digital é um tema antigo, acontece desde que se começaram a digitalizar as organizações, há décadas. Mas é verdade que continua a não estar suficientemente democratizada por todas as organizações. O COVID-19 veio, de alguma forma, pressionar o caminho da transformação digital. Confesso que me parece que veio pressionar mais na linha da mudança de mentalidades e na adopção do digital como instrumento para o trabalho remoto, para facilitar toda esta orquestração entre colaboradores e a organização, os seus clientes e os parceiros.
Já a transformação digital das organizações pressionou naquilo que é pegar nos processos, mudá-los, adaptá-los às ferramentas do digital… não teve uma resposta explosiva por causa da pandemia. O que aconteceu foi que as pessoas começaram a usar mais as videoconferências, os e-mails e todas as ferramentas que até já existiam, mas que não estavam tão massificadas. A transformação digital das organizações requer investimento na transformação dos seus processos e na implementação de sistemas de informação. Este é um caminho que já estava a ser feito e que agora continuará. Não sei se o COVID-19 teve um impulso tão drástico nesta componente, que cada vez mais é necessária numa perspectiva de sobrevivência para se tornarem mais eficientes, mais eficazes e terem um alcance maior no seu mercado, atingindo mais clientes. Mas nem todas empresas têm a oportunidade, mesmo que tenham alguma capacidade de investimento, de ter um projecto activo, com fornecedores disponíveis para o implementar. Realmente, há uma escassez muito grande nessa disponibilidade.
Qual o cliente-tipo da Masterlink?
A nossa plataforma, como não é um vertical, por exemplo, não é uma solução de gestão de chão de fábrica, não é um ERP. Permite, sim, implementar qualquer processo por cima. Desse ponto de vista, o nosso mercado é bastante abrangente. A nossa plataforma é entregue em cloud, o que significa que um cliente que adquira a nossa solução fica com uma subscrição anual que mantém ao longo do tempo, para usar o produto. Normalmente, são médias empresas, já que as muito pequenas não têm disponibilidade e estratégia de investir.
Dentro das grandes organizações, por ser uma plataforma No-Code que permite abordagens muito ágeis, ao estarmos presentes, estamos mais em processos transversais e administrativos, não no core business. Para já, não estaremos, por exemplo, no core business da banca ou de uma operadora. Temos muitos clientes do sector público, nos ministério do Ambiente, da Saúde e da Economia, onde há necessidades completamente díspares, como aplicações de gestão da contratação, de stocks e de recursos humanos, entre outras. Se olharmos para o privado, já prestamos serviços em empresas como a Coca-Cola, numa de torrefacção de café… ou seja, abordamos áreas e sectores de negócio completamente diferentes.
Como tem sido o negócio no pós-pandemia?
Apesar de haver incentivos e apoios no mercado, sentimos bastante contenção na tomada de decisões de fecho de negócio. Nos últimos dois/três anos não temos sentido um crescimento dinâmico, mas alguma estabilidade. Ou seja, não temos crescido à velocidade de que gostaríamos. Isto está intimamente ligado ao facto de termos mudado de paradigma: saímos de uma abordagem onde já tínhamos produto, mas entregávamos on-premise, para uma abordagem onde entregamos em cloud. Estamos muito implantados no sector público, onde, apesar de haver toda uma clara estratégia sobre a adopção cloud, o facto é que depois, no dia a dia, há mentalidades e formas de pensar que estão ainda a ser transformadas.
O que temos sentido é que o mercado está lá, existe a possibilidade e a nossa oferta tem adesão. Estamos actualmente a entregar o produto com muita rapidez e qualidade. Não obstante, não estamos a expandir no mercado nacional de forma extraordinariamente acelerada. Por isso, estamos a começar a trabalhar outros mercados e tentar perceber o potencial da ferramenta a nível internacional. Estamos a começar a planear o nosso crescimento internacional.
Essa presença internacional já existe? Ou ainda é residual?
Do ponto de vista de negócio, não existe negócio firmado. Do ponto de vista da actividade comercial, já existe. Estamos a trabalhar no sentido de testar o mercado, ver a adesão e a começar a preparar os primeiros negócios, para depois avançar para as primeiras entregas. A nível internacional, a nossa estratégia será a de trabalhar com parceiros locais. O produto é nosso, mas a consultoria será local. Nós estaremos numa terceira linha de apoio para dinamizar o que for necessário. São todas estas construções, com parceiros locais, com contactos locais, que estamos a trabalhar neste momento.
Há alguma geografia particularmente interessante para começar?
Internamente, costumamos dizer que privilegiamos os mercados de proximidade cultural (e aí entram os de língua oficial portuguesa), geográfica, jurídica e económica, que é a União Europeia. Aqui, estamos a fazer alguns exercícios na Península Ibérica e dentro dos mercados de língua oficial portuguesa, e a abordar Brasil e Angola.