Entrevista

«Queremos fazer algo desafiante, sair do ‘staus quo’ e mostrar do que somos capazes»

Entrevista a Seon Hwang, vice-presidente da Vivo na Europa.

Foto Marvin Ruppert

A Vivo resolveu apostar no mercado europeu. E entrou “a matar”, com o X80 Pro, um equipamento que ronda os 1300 euros e, por isso, luta lado-a-lado com as grandes marcas já estabelecidas no Velho Continente. Seon Hwang, vice-presidente da Vivo na Europa, não se mostra preocupado. Se fosse fácil, não seria desafiante.

Recentemente, começaram a comunicar uma aposta mais forte e consolidada no mercado europeu. Quais os grandes objectivos?

Ainda somos uma criança, estamos a dar os primeiros passos. Começámos o nosso negócio na Europa há dois anos e, no ano passado, o que tentámos foi criar uma relação de confiança com os nossos parceiros. Isto é particularmente importante, já que fazer negócio na Ásia e na Europa é muito diferente. O produto pode ser similar, mas a abordagem ao mercado é distinta. Os consumidores são diferentes e os parceiros também: com muitos, foi a primeira vez que reunimos e isso é muito significativo. Diria que os últimos dois anos servira, para criar uma rede que nos permitisse ter uma entrada positiva e forte neste competitivo mercado europeu.

O mercado europeu era o que esperavam?

Reparámos que em países como a República Checa e a Áustria estávamos em quarto e quinto lugar em termos de quota de mercado. Noutros, ainda somos uns bebés. Percebemos que a qualidade do produto é fundamental, mas na Europa a tal relação de confiança com os consumidores e parceiros é ainda mais importante. O nosso objectivo é sair da categoria ‘outros’ e que a nossa marca passe a ter um lugar isolado nos rankings. Esta é a nossa meta a médio prazo.

Em termos de volume de vendas a nível global, qual é a vossa posição no mercado?

Variamos entre o quarto e o quinto lugar.

É esse o objectivo que também querem atingir na Europa?

É, por que não?

Como definem este mercado? Estratégico?

Sim, definitivamente estratégico. Em 2019, creio, a Vivo começou a pensar numa abordagem à Europa. Na China, estamos entre o primeiro e o segundo lugar. Noutros países, como Índia, também estamos entre os três primeiros. Em termos de volume, somos uma marca líder. Por isso, começámos a discutir qual seria o nosso próximo passo. Qual era o nosso objectivo final? A resposta é que nos queremos tornar uma marca global. Decidimos, então, entrar na Europa.

Disse que os consumidores europeus são diferentes. Dê-me um exemplo.

Sim, muito diferentes e esta é a primeira vez que o nosso produto principal é introduzido neste mercado. Sendo verdade que a qualidade da câmara é muito importante para os europeus, o que esperam de uma fotografia é diferente de um asiático. A imagem, tonalidade e conceito são muito diferentes. No mercado sul asiático, por exemplo, privilegiam as selfies, os retratos, com muito auto tuning, que torne muito mais jovem o utilizador. O objectivo é que se pareçam uma década mais novos, com maquilhagem automática e tudo!

Na Europa, os consumidores privilegiam as cores naturais, mais “limpas”. Querem que as fotografias se assemelhem ao que vêem com os olhos – por isso, a parceria com a Zeiss foi tão importante. Temos de dialogar com os nossos parceiros para entender o utilizador final. São eles, os parceiros, que nos ajudam a vender o produto. Já somos globais, trabalhamos com a Zeiss, com a Google, com a Samsung, mas se não entendermos como funciona o mercado europeu, e os seus consumidores, como podemos pensar em ir para países como os Estados Unidos ou o Canadá? Ou seja, sim: é um mercado estratégico e com o qual podemos aprender muito.

Quais os países mais fortes no contexto europeu? Já falou da Áustria, da República Checa…

Além desses dois, a Espanha está a crescer bastante, assim como a Polónia.

Que interesse pode ter a Vivo num país como Portugal, um mercado de dimensão reduzida?

O tamanho não é particularmente importante para nós. Não viemos para a Europa para estar em apenas um ou dois mercados. Patrocinamos o Campeonato Europeu de Futebol porque queremos criar laços, queremos que sintam um compromisso de nossa parte a longo prazo, neste mercado. Se fosse apenas pela dimensão, haveria outros mercados, mas é muito mais que isso, muito mais que quantidade.

Faz sentido ter, na Europa, alguns recursos de investigação e desenvolvimento?

De alguma forma, já temos, nomeadamente na nossa colaboração com a Zeiss e na forma como estamos a tentar perceber o mercado e os clientes: parece-me um excelente começo. À medida que formos desenvolvendo o nosso negócio, com certeza iremos ponderar uma presença mais alargada. Por exemplo, na Europa, a questão do design está muito avançada, estão na liderança.

E relativamente à percepção da marca? A Vivo, na Europa, não é muito conhecida. Como pretendem entrar neste mercado, quando há players que já têm uma presença tão forte? Apresentaram o X80 Pro, um equipamento que ronda os 1300 euros e, por isso, luta com Apple, Samsung…

Cerca de 70% do mercado é composto por consumidores de equipamentos abaixo dos quatrocentos euros. Por isso, cerca de 30% são compradores acima desse valor. Sabemos que, com equipamentos de cem ou duzentos euros, é possível fazer escala. É algo fácil de fazer, mas não queremos fazer o que é fácil. Queremos algo desafiante, sair do ‘staus quo’, queremos mostrar do que somos capazes. Somos novos, mas de confiança. Mas isto demora tempo, especialmente no segmento premium. Tenho plena convicção de que o vamos conseguir.

Como gostaria que um analista descrevesse o novo equipamento?

O smartphone com a câmara mais forte e progressiva do mercado. Colocamos sempre, em primeiro lugar, a perfeição. Colocamos sempre a câmara em primeiro lugar e acho importante comunicar isso ao mercado.