A portuguesa Boost IT tem quatro anos no mercado, metade deles a fazer negócio em contexto de pandemia. Bruno Ribeiro, CEO desta consultora tecnológica, explicou à businessIT que os objectivos passam por investir no Porto e manter o foco nos mercados internacionais, responsáveis por mais de 75% da facturação.
Apresentam-se como uma tecnológica. Mas em que espectro actuam?
Somos uma consultora tecnológica 100% portuguesa. Actuamos em várias áreas dentro dos serviços de tecnologia, em particular na área de outsourcing, na área de nearshore ou extended teams. Por último, focamo-nos ainda na área que está relacionada com transformação digital, onde actuamos quase como uma ‘digital factory’.
O capital é 100% português?
O capital é 100% português, entre os vários sócios. Tivemos duas holdings de investimento mas, neste momento, temos apenas um investidor, também português, que não faz parte da vida activa da empresa.
Anunciaram que queriam alcançar um volume de negócios de 10 milhões de euros em 2021. Cumpriram e até ultrapassaram esta meta, fechando o ano com um valor superior a 13 milhões, correcto?
Sim, 13,4 milhões na Boost IT e cerca de 15 milhões no grupo de empresas.
Neste momento, a holding contempla quantas estruturas empresariais?
São cinco nesta área, sendo que a holding funciona como um agregador das várias empresas, todas relacionadas com tecnologia.
Nas várias comunicações que fizeram apontam a internacionalização como um dos vários focos, estando em mais de vinte países. No ano passado divulgaram a chegada à Malásia e às Filipinas. Neste momento, o negócio fora de Portugal representa quanto do vosso negócio?
Mais de 75% da facturação. Mas isso não quer dizer que não apostemos no mercado nacional. Pelo contrário, temos vários projectos de referência aqui em Portugal. A questão é que os projectos que temos no mercado internacional têm uma envergadura muito grande. Em termos de escala, e mesmo de volume de negócios que geram, é superior aos negócios nacionais. Mas é verdade que, actualmente, mais de 75% da nossa facturação advém do mercado externo. Somos orgulhosamente portugueses a fornecer serviços para fora de Portugal.
Continua a ser complicado contratar neste sector? E reter os talentos?
A Boost IT fez quatro anos em Março de 2022 e temos pessoas que estão connosco desde o primeiro dia da empresa. Temos uma elevada taxa de retenção quer nas nossas equipas de gestão, quer nas nossas equipas tecnológicas. Ou seja, no fundo, os colaboradores estão alocados a projectos. Não estou a dizer que não temos pessoas que acabam por sair ao fim de seis meses ou um ano. Mas temos uma taxa de retenção muito elevada.
No seu entender, qual a explicação para isso?
Acredito que está relacionado com o tipo de projectos que temos. Ou seja, o mercado tecnológico está muito difícil para contratar e ainda mais difícil para reter os melhores talentos, fruto de muito aliciamento e competitividade entre as várias empresas. A Boost IT tem uma coisa que a distingue de algumas das empresas deste sector: neste momento, temos dos melhores projectos em Portugal para clientes internacionais. E quando falo em ‘melhores projectos’, falo em projectos que realmente acrescentam alguma coisa ao mercado, que trazem valor, que utilizam tecnologias de ponta, ou seja, tecnologias mais recentes. E é isso que, normalmente, move estas pessoas, que as alicia. Ou seja, o facto de serem projectos internacionais com tecnologias que acrescentam valor dá-nos vantagem não só no momento da contratação mas na retenção das pessoas ao longo do tempo. Temos mais capacidade financeira para reter e para investir no momento da contratação dessas pessoas. Temos condições que, provavelmente, são um pouco acima daquilo que é praticado no mercado nacional, fazendo com que a nossa taxa de retenção seja mais elevada que a média em Portugal.
Sente que, além da questão da remuneração, o tal desafio de lidar com tecnologias mais recentes, em projectos aliciantes, é cada vez mais importante nas novas gerações?
Sem dúvida. A essência da Boost IT e a visão dos sócios que criaram a empresa era trazer a diferença para o mercado. Não queríamos que fossem palavras vãs. São palavras que estão mesmo na nossa cultura, somos extremamente próximos dos nossos colaboradores. Não temos consultores, temos colaboradores, todos nós somos colaboradores da mesma empresa, iguais. Tratamos as pessoas com respeito, com dignidade, conhecemos as pessoas pelo nome, não fazemos ‘body shopping’, não temos aquela política de ‘carne para canhão’. O nosso modelo é de proximidade com os nossos colaboradores, com os nossos clientes e as pessoas sentem-se respeitadas, ouvidas, sentem que fazem parte da empresa e dos planos a curto, médio e longo prazo. Além disso, conseguimos promover as pessoas dentro da nossa estrutura, participar em vários projectos em simultâneo e participar em projectos estruturais que nos permitem trazer novos negócios ao mercado. No fundo, acho que, além das condições serem boas, as pessoas sentem que fazem parte da vida da empresa. Esta conjugação de factores faz com que as pessoas fiquem felizes a trabalhar aqui.
A Boost IT não é uma marca propriamente forte, sobretudo quando há outros nomes no mercado, nomeadamente multinacionais, que se podem apresentar como mais apelativas aos candidatos a um emprego. Sentem isso?
Posso dizer-lhe que 60% das nossas contratações são por recomendação. Ou seja, temos pessoas felizes dentro de casa pois recomendam-nos aos amigos. Quando assim é, é muito mais fácil para nós contratar. As pessoas confiam nos amigos, vêem que eles estão felizes por trabalhar aqui e querem vir. Mas é verdade que temos quatro anos, não temos o nome e marca de outras empresas que estão há muito tempo, outras multinacionais, por exemplo… mas repito: temos mesmo bons projectos, projectos de referência no mercado nacional. As pessoas que vierem trabalhar para eles, o seu valor de mercado vai subir, vai aumentar.
Pode dar-me um exemplo desses projectos?
Não posso dizer nomes ou marcas, por causa dos contratos, mas trabalhamos com uma das maiores multinacionais no sector das bebidas, de cervejas. Um desses projectos, antes da COVID-19, foi criar em Portugal uma loja de e-commerce que será implementada a nível mundial. Toda a arquitectura do design da solução foi feita em Portugal, com uma equipa portuguesa, com as tecnologias mais recentes que existem no mercado. Agora, essa plataforma está a ser implementada nos vários mercados, em vários países, a nível global. Isto permitiu a esta empresa, na altura em que deixaram de conseguir vender nos canais tradicionais do retalho, devido à pandemia, alavancar as vendas nos mercados asiáticos, que saíram primeiro da onda de choque da COVID. Ou seja, começaram a vender acima de tudo através do canal digital, com uma plataforma aqui criada. Este projecto é altamente disruptivo, um projecto digital, relacionado com a transformação digital – é um dos projectos de montra em Portugal.
Porque é que os clientes vos adjudicam os projectos, tendo em conta o que já referimos: o facto de a marca Boost IT não ser propriamente muito conhecida?
Porque somos bons. Porque, também aqui, são os clientes que nos referenciam. Aliás, grande parte do nosso pipeline para 2022 está assente em projectos que são recomendações de outros clientes. Ou directores que trabalhavam connosco no cliente, saíram para montar outros projectos e querem continuar a trabalhar com a Boost IT. Grande parte do nosso negócio, assim como dos nossos colaboradores, assenta na recomendação, em confiar no nosso trabalho. Mas não é só isso, temos dinamizado muito a marca, sobretudo no mercado internacional, no sentido de estarmos visíveis para conseguir captar os clientes. Isso tem acontecido também, mas não mas não somos uma empresa muito agressiva comercialmente. Felizmente, temos conseguido que os projectos tenham vindo ter connosco, temos entregado boas soluções e acabamos por conseguir trazer mais negócio face a isso.
Li que querem replicar a estrutura de Lisboa, no Porto. Que dimensão tem a empresa na capital?
Já temos cinco escritórios, alguns alocados a equipas internas e outros a externas. Não vai haver crescimento nacional, se não investirmos na zona Norte. Neste momento, já temos uma estrutura muito grande de colaboradores aí e sentimos que temos de estar mais próximos. Por isso, a curto prazo, já está definido: vamos ter um escritório mesmo no centro do Porto, um grande investimento da empresa. Já temos um director do negócio contratado e estamos a começar a montar a nossa equipa de gestão. No fundo, não direi que é replicar em quantidade mas replicar e, qualidade. Queremos oferecer os mesmos serviços com a mesma qualidade na zona Norte como fazemos em Lisboa e como fazemos fora de Portugal.
Têm quatro anos: metade da vossa vida empresarial foi em contexto de pandemia. Como foi?
A empresa começou com um teste de fogo, que foi a COVID. Agora, os desafios continuam, com a guerra na Ucrânia. Mas, em particular, a pandemia preparou-nos e obrigou-nos a crescer rápido como empresa em termos de processos internos, de estrutura para o futuro: não vou dizer que foi fácil, mas felizmente tínhamos as pessoas certas que nos permitiram ultrapassar essa fase, crescer de forma sustentada e, pelo meio, ainda conseguimos fazer uma série de iniciativas só a pensar nos nossos colaboradores. A COVID não nos influenciou tanto na questão de trazer mais negócio, isso felizmente conseguimos, mas afectou os nossos colaboradores. O estado emocional e a privação de liberdade obrigou-nos a desenvolver uma série de iniciativas como, por exemplo, ter um departamento focado apenas na felicidade dos nossos colaboradores, não só na retenção, mas também em serviços de apoio psicológico. Criámos diversas iniciativas ao longo destes dois anos para garantir que as pessoas estavam bem, se sentiam felizes e tinham condições para prestar o seu trabalho da melhor forma possível, talvez não tanto para fazer crescer o lucro da empresa, mas mais para o nosso capital humano. Porque sabemos que depois do fim da pandemia, vamos estar muito mais fortes que as outras empresas.