Reportagem

A logística deve ser considerada uma vantagem competitiva e não um custo

O terceiro webinar da iniciativa Economia Digital – Talks Club foi dedicado à logística no comércio electrónico e mostrou a importância de ter cadeias de abastecimento mais “verdes”.

O Estudo da Economia Digital, realizado pela ACEPI e pela IDC (que são também os promotores do Talks Club), identificou a logística como um «factor crítico» no sucesso do comércio digital das empresas. A inovação nesta área está a acontecer a um «ritmo acelerado com múltiplas tecnologias a garantir maior eficiência e melhor experiência», diz a consultora. Filippo Battaini, head of IDC retail insights da IDC Europe, divulgou os dados de um estudo que mostra que as tecnologias mais usadas para aumentar a visibilidade dentro das cadeias de abastecimento e torná-las mais eficientes são «portais de fornecedores e clientes (57%), tecnologias de rastreabilidade (46%), aplicações de gestão da cadeia abastecimento (43%), ferramentas empresariais de colaboração (35%), de gestão de documento de fluxos de trabalho (35%), de business intelligence & analytics (35%) e blockchain (35%)».

O responsável salientou que a «pandemia tornou a venda de artigos de mercearia e supermercado online rentável» – as empresas deixaram de ver a logística como um «custo» e passaram a vê-la como uma «vantagem competitiva» e que esta estratégia deverá ser «transversal a todas as organizações que queiram ter sucesso no mundo do comércio digital».

Foco na sustentabilidade
Filippo Battaini falou da crescente importância da sustentabilidade das supply chain e afirmou que será «fundamental para o futuro das empresas», já que houve «uma mudança no comportamento dos consumidores, que estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental do seu comportamento quando fazem compras» e «escolhem as marcas de acordo com as suas estratégias ambientais e éticas». Assim, as organizações, ao terem uma cadeia de abastecimento mais sustentável, não estão apenas a reduzir o seu impacto no ambiente, mas também a melhorar o estatuto e confiança junto do consumidor e a criar, assim, competitividade. É na verdade uma vantagem competitiva», frisou.

O futuro, segundo o head of IDC retail insights, deve passar «por um modelo de supply chain-as-a-service» em que «empresas mais avançadas fornecem os seus serviços de cadeia de abastecimento sustentáveis a outras empresas mais pequenas que não têm capacidade para o fazerem sozinhas». Filippo Battaini deu como exemplo a Alibaba e a H&M, que estão a ajudar outras organizações a serem mais sustentáveis. No fim da sua apresentação, o responsável deixou a mensagem às organizações: «Liguem a logística aos objectivos ambientais já que isso tem impacto na rentabilidade».

O exemplo da DPD em Portugal
«O transporte urbano de mercadorias é muito poluente, representa 30% das emissões

de CO2 nas cidades e é responsável por 50% de todas as emissões de partículas finas encontradas em centros urbanos», disse Carla Pereira, head of marketing da DPD Portugal.

A responsável explicou que a empresa já está a trabalhar numa estratégia de mitigação do impacto ambiental desde 2012 que, nos últimos cinco anos, «reduziu as emissões de CO2 por encomenda em 14%, mas que quer chegar aos 30% em 2025».

A empresa prevê investir, na Europa, duzentos milhões de euros nos próximos quatro anos, para ser mais verde e o primeiro passo dessa estratégia «foi medir a poluição». A cidade de Lisboa foi usada como piloto e os dados recolhidos, através de sensores em carrinhas e lojas, estão disponíveis para que os cidadãos e empresas saibam a qualidade do ar do local onde estão. A informação é também facultada à Câmara Municipal de Lisboa que fica, assim, com dados detalhados da poluição da cidade.

O desafio é, agora, «chegar a entregas com zero emissões em Lisboa, em 2021, e no Porto, em 2023»; para isso, a empresa vai usar veículos eléctricos ou a gás, em conjunto com urban depot, pequenos armazéns que permitem fazer a cobertura de circuito urbano com outros meios de transporte, como skate e bicicleta ou a pé. A DPD vai também incentivar o uso do levantamento em rede de proximidade, ou seja, em lojas ou lockers.