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O desafio de ser unicórnio em Portugal

Em gestão, um unicórnio ainda consegue ser mais raro e valioso que o próprio animal mitológico. Em Portugal, são quatro as empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares, que lutam para atrair investidores e potenciar a inovação.

A Europa é o lar de 243 unicórnios, uma parte considerável dos 642 existentes no mundo, pelo menos segundo as contas da CB Insights. Embora a maioria destas startups, cuja capitalização bolsista atinge o valor de mil milhões de dólares, venha de grandes países europeus como o Reino Unido, Alemanha e França, Estónia, Portugal e até Malta, conseguem atrair investidores e produzir unicórnios (re)conhecidos.

A empresa de mobilidade Bolt na Estónia, a plataforma de low-code OutSystems em Portugal, bem como a VistaJet em Malta, estão na lista dos unicórnios de alto valor na Europa. O investimento de capital de risco em Portugal, Malta e Estónia tem aumentado constantemente desde 2015, atingindo um total combinado de quase 260 milhões apenas em 2019, de acordo com dados da European Startups.

Entretanto, países mais pequenos, como a Lituânia, tiveram sucesso na criação de ecossistemas de startups, com Vilnius a ocupar o primeiro lugar num índice recente de investimento directo estrangeiro em startups.

Mas não é fácil: os países mais pequenos têm, normalmente, escassez de talentos e os investidores costumam hesitar em investir em ecossistemas de startups menos estruturadas. Como podem, então, países como Estónia, Malta e Portugal conseguir construir unicórnios de sucesso?

A importância da regulação
A rápida adaptação regulatória às tecnologias emergentes fornece um incentivo para as empresas se estabelecerem em jurisdições com legislação forte. Malta, o país mais pequeno da União Europeia, foi um dos primeiros países a introduzir uma estrutura regulatória holística para tecnologias de razão distribuída (DL). «As três leis maltesas que regulam DLT são de classe mundial e podem servir de modelo para qualquer país, incluindo a União Europeia [que] está agora a implementar uma iniciativa regulatória séria neste espaço», disse à comunicação social local Steve Tendon, fundador da consultora de blockchain ChainStrategies e o mentor da legislação DLT em Malta.

Com uma série de empresas de blockchain de alto nível a mudarem as suas operações para Malta, o sector de blockchain deverá representar 10% do PIB daquele país até 2027. Players renomados da indústria de blockchain, como Binance e OKEx, já mudaram as suas operações para aquele país desde o lançamento da lei em 2018.

Aliás, para Steve Tendon , a implementação e execução de tais estratégias são fundamentais para a construção bem-sucedida de um ecossistema local de unicórnios de alto desempenho. «Não adianta ter uma estratégia inovadora e leis de classe mundial se a regulação e o sistema bancário se tornarem um obstáculo intransponível», diz Tendon. «Os reguladores devem familiarizar-se com as especificidades da tecnologia e ser capazes de discernir se uma startup realmente se enquadra no domínio da conformidade regulatória ou não».