Com o tema ‘O Futuro das Organizações (Future Enterprise)’, a 24.ª edição do IDC Directions fica marcada como a da digitalização do evento, que conseguiu chegar, assim, a um número inédito de participantes que não seria possível fisicamente: mais de duas mil pessoas diárias.
A pandemia de COVID-19 afectou significativamente a economia global e nacional e veio evidenciar a importância da transformação digital das empresas. É por isso que a IDC prevê que, nos próximos cinco anos, a economia digital acelere e venha a representar mais de 50% do PIB, o que vai exigir «uma nova espécie de organização, onde a escala e a velocidade de inovação serão críticas para o sucesso das organizações», explicou Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC Portugal.
O responsável salientou que Portugal e o mundo deram «um salto tecnológico de dez anos em poucas semanas com a situação actual», em especial, de «mindset» e que por isso vai haver um «novo paradigma social e económico». O responsável esclareceu que as empresas nacionais vão «sair da crise mais digitais» e que isso será determinante «para serem mais fortes, mais competitivas e conseguirem mais quota de mercado a curto, médio e longo prazo». Gabriel Coimbra explicou ainda que o objectivo do evento foi, precisamente, «servir de inspiração para as empresas que queiram acelerar a transformação digital».
Recuperação lenta e desigual
Crawford Del Prete, presidente da IDC, falou das cinco etapas para a recuperação das empresas, mas começou por explicar como a pandemia foi um «murro no estômago para todos» e que levou a um «corte nas despesas com as TI quase ao nível da quebra do PIB das economias mundiais, ou seja, cerca de 10%».
O responsável realçou que «as despesas com as TI só vão regressar perto do que eram antes da crise no segundo trimestre de 2021», isto num cenário optimista. Sobre as etapas, Crawford Del Prete revelou que, numa primeira fase, as empresas estiveram preocupadas com a continuidade do negócio e que agora, em época de crise, a atenção está voltada para a optimização dos custos e que isto deverá continuar até que a situação de pandemia seja ultrapassada. Segundo um estudo da IDC, 75% das empresas estão a mudar os projectos que têm e a focar-se em iniciativas que a médio prazo tragam receitas e que reduzam os custos.
Em termos regionais, Crawford Del Prete usou os dados do IDC COVID-19 Tech Index para mostrar que a Europa e os EUA vão demorar mais a recuperar do que a Ásia-Pacifico.
Empresas mais digitais
Na recuperação, a terceira etapa passa por ter uma empresa resiliente, seguida de uma altura de investimentos específicos que ajudem a chegar à empresa do futuro, a última fase, que a IDC vê como o «regresso ao normal», mas que será «novo e não o que era habitual».
A consultora questionou as empresas sobre quais serão as prioridades durante o resto do ano e para 2021: os investimentos serão em programas que ofereçam mais resiliência às operações e negócios; na área da experiência do cliente; em analytics; em conectividade; inovação e na confiança digital. «As empresas estão a apostar na tecnologia para ultrapassar a crise da COVID-19» e as «apostas que fizerem hoje vão determinar o seu futuro e sucesso»», disse Crawford Del Prete.
Sendo inegável que a pandemia acelerou a digitalização das empresas, o responsável explicou que em tempos de incerteza, as pessoas querem «conforto, escolha e controlo» e que aquelas organizações que conseguirem oferecer esses três valores aos seus clientes «serão as mais bem-sucedidas». Crawford Del Prete explicou ainda a sua visão sobre a informação: «os dados não são o novo petróleo, mas a nova água já que não podemos viver sem eles numa organização».
Confiança será vital
Robert Parker, senior VP, enterprise app, data intelligence, services, and industry research da IDC, falou da empresa inteligente e das tendências ligadas à inteligência artificial (IA).
A IDC define a empresa inteligente como «a capacidade de uma organização aprender e a habilidade de sintetizar essa informação e transformá-la em insights e fazer isso em escala». E se «antes da pandemia a inteligência já era importante, agora é ainda mais», disse. Assim, o vice-presidente destacou que as empresas que conseguirem «aprender mais depressa, serão as que terão mais vantagens competitivas na economia digital», já que vão conseguir «ser mais inovadoras, produtivas e agradar aos clientes».
De acordo com um estudo da consultora, o que os CEO valorizam mais é a confiança digital (82,8%), as organizações inteligentes (79,8%) e os novos ecossistemas (78,8%). Os dois primeiros serão por isso essenciais no futuro como prevê a IDC. Robert Parker referiu que, em 2024, «90% das novas aplicações empresariais vão incluir funcionalidade de IA» e que «75% vão reconverter os trabalhadores para responder às novas necessidades e formas de trabalho resultantes da adopção da IA».
Por outro lado, a confiança digital vai estar também no centro das decisões e dentro de dois anos, «75% das duas mil maiores organizações mundiais vão ter programas para monitorizar esse parâmetro e 50% vão nomear um diretor de confiança».
Oportunidade para Portugal
O presidente do Conselho Estratégico de economia digital da CIP, Pedro Duarte, destacou que estamos a viver «tempos de aceleração digital» dado «o ritmo com que tudo se está a transformar». Para o ex-secretário de estado esta «mudança foi ainda mais acelerada pela pandemia, mas não é conjuntural e vai continuar».
Já a crise pode «ser uma oportunidade» e Portugal «deve ter capacidade para a aproveitar». Para tal, o País terá de «qualificar e requalificar de forma massiva a população» para funções digitais. Pedro Duarte enumerou três pontos chaves que as empresas e entidades públicas devem instituir nesse sentido: «Identificar as funções mais procuradas e as competências necessárias; disponibilizar percursos de aprendizagem e conteúdos alinhados a essas skills e permitir o acesso a certificações e ferramentas de procura de emprego para quem desenvolveu essas competências, fazendo o match entre a oferta e a procura». Isto em conjunto com infraestuturas de rede eficazes será vital, de acordo com o responsável da CIP para «existirem melhores empresas e agentes económicos a criar valor» e assim «um País melhor». Caso contrário, Portugal, «não terá capacidade para competir com os outros e as empresas nacionais vão ficar para trás e a economia vai estagnar».