Nos primeiros tempos de confinamento, as vendas da Lenovo cresceram, efeito do investimento das empresas e particulares para se ajustarem à nova normalidade. No entanto, Miguel Hernández, director de consumo da Lenovo Iberia, diz que uma contracção do mercado poderá estar no horizonte.
Que prestação está a Lenovo a ter no mercado, neste momento?
Mundialmente, somos o primeiro fabricante de informática. A nível ibérico, estamos em segundo lugar, apesar de em alguns segmentos já ocuparmos a primeira posição. No consumo, por exemplo, somos o número dois, quer em Espanha quer, pontualmente, em Portugal. Já no mercado das grandes empresas, sector público e contas globais, somos líderes em Portugal.
Como gostaria de ver a Lenovo nos próximos anos?
Gostaria de ver a empresa a ser líder na inovação. Um líder que seja capaz de colocar nas mãos dos clientes e das empresas soluções que sejam, sobretudo, úteis aos negócios e às pessoas. É claro que, depois queremos ser o número um em volume e ter muitas vendas, é muito importante sermos grandes nesta indústria.
Mas creio que sempre procurando um bom equilíbrio entre sermos um fabricante líder em termos de unidades e facturação e igualmente líder no desenvolvimento de soluções inovadoras que nos ajudem a todos. É aqui, neste equilíbrio, onde pessoalmente gostaria de ver a empresa nos próximos anos.
O consumidor português é relativamente distinto do consumidor espanhol. Há diferenças em fazer negócio em ambos os países?
Para nós, Espanha e Portugal são tão diferentes como a Argentina e a Finlândia. Tratamos os dois países totalmente diferentes, com estruturas distintas. Em Portugal, temos um departamento de produto e vendas próprio, o que partilhamos, isso sim, é a direcção. Eu, por exemplo, dirijo Espanha e Portugal, mas é verdade que depois, em termos operacionais, somos estruturas diferentes. Temos uma estratégia comum que, digamos, adaptamos ao mercado em questão.
Qual a prestação de Portugal no mercado ibérico?
Portugal está a registar progressos muito grandes, especialmente nos últimos três anos. Não só no segmento de consumo mas igualmente nos segmentos profissionais onde, em alguns casos, passou a representar 20% do negócio ibérico, o que é muito interessante.
O português é diferente ao nível do utilizador? O que privilegia mais?
A tecnologia. O cliente português sabe o que compra, está informado e exige muito ao nível tecnológico. Em Portugal, o compromisso de termos a última tecnologia disponível no mercado é obrigatório. Não poderíamos, por exemplo, ter a 8.ª geração da Intel, temos de vender a 10.ª geração porque o cliente português sabe qual é a diferença, entende quais as suas vantagens… isso, a um fabricante como nós, exige mudar as operações, daí termos uma estrutura local para poder fazer face à exigência do negócio português, já que o cliente é muito diferente.
Está há três na Lenovo e recentemente assumiu a direcção da área do consumo. Como classifica a concorrência neste sector, onde a consolidação tem vindo a ser uma constante?
Sim, essa consolidação está a acontecer entre fabricantes a nível mundial, com óbvio reflexo no mercado português. Temos visto nos últimos oito ou nove meses uma mudança na liderança em Portugal. Vemos uma HP muito potente e uma Asus a assumir a liderança no negócio de consumo, há cerca de seis meses. Quanto à Lenovo, nos últimos três anos passou de uma quota de mercado muito pequena para agora estar entre o segundo e o terceiro lugar. Estamos muito empatados com a HP.
O que levou a essa melhor prestação?
Sobretudo a excelente equipa que temos em Portugal, desde o Vasco Oliveira ao António Paulo que estão a fazer um trabalho fenomenal, sempre ao lado dos clientes. Podemos ter uma estratégia muito boa, mas se não nos colocarmos ao lado da FNAC, da Worten da Rádio Popular ou da PCDiga e não lhes acrescentamos valor, não conseguimos crescer. Ter uma equipa líder, baseada em relações de confiança com os clientes e sendo muito estáveis, resultou numa evolução crescente. Por outro lado, a equipa de marketing tem conseguido que a marca Lenovo seja cada vez mais conhecida e reconhecida em Portugal. A Bárbara Rebelo, e a equipa que lhe dá apoio a partir de Espanha, tem feito um trabalho muito bom.
Qual é a estratégia?
Sermos constantes e fazermos negócios sustentáveis tanto para nós como para os nossos clientes. Não adianta termos um crescimento muito rápido, se não o conseguirmos manter.
Quais têm sido os grandes desafios na área do consumo?
Em Portugal, o grande desafio tem sido a área de gaming, com a gama de computador Legion. Nos últimos anos, este segmento tem sido chave e a cada trimestre temos vindo a ser empurrados para a liderança. Por isso, para mim, o grande desafio e conquista em Portugal é termos conseguido ser líderes em gaming com uma marca não tão conhecida como, por exemplo, a Asus ou a HP. Em dois anos, conseguimos alcançar a confiança junto do canal e transmitir o quão boas são as nossas soluções em gaming. Foi uma grande conquista.
Entretanto, a COVID-19 é declarada pandemia com as consequências que daí resultaram um pouco em todo o mundo, nomeadamente medidas de confinamento e fecho de espaços comerciais. Como está hoje o mercado?
Até Março, a tendência global era de queda, apesar de, felizmente, em Portugal essa quebra não ter sido muito grande, relativamente ao ano passado. No momento que nos confinaram em casa, a reacção do mercado foi crescer muito rapidamente.
Particulares, empresas e mesmo os governos, nomeadamente as escolas, aperceberam-se de que a tecnologia é fundamental. A única forma de não parar a indústria e a economia de um país é através da tecnologia. Um estudante tem de ter um computador ou um tablet para acompanhar as suas aulas, a tecnologia veio ajudar a estarmos mais próximos da normalidade. Ou seja, um facto tão dramático como o que estamos a vivenciar teve um efeito oposto no mercado tecnológico. Aliás, li num jornal espanhol que aproximadamente 85% dos negócios portugueses continuam a operar, o que é excelente. Portugal soube adaptar-se a nível tecnológico, desde a última crise que o tem vindo a fazer.
É possível fazer algum tipo de previsão até ao final do ano?
Sim, mas é, mais que tudo, uma crença pessoal. Creio que vamos sofrer uma contracção da procura durante o Verão. A dimensão da contracção irá depender do tempo que estivermos em confinamento. Se voltarmos relativamente rápido à normalidade, a contracção vai existir na mesma, mas acredito que não muito forte, permitindo que em Novembro ou Dezembro seja recuperado o crescimento ou, pelo menos, que a procura seja retomada. Já se o confinamento for muito prolongado… então já tenho algumas dúvidas porque isso implica a perda de emprego.
Como gostaria de ver a Lenovo ser reconhecida na Ibéria?
Gostaria que nos identificassem como um líder tecnológico, em inovação, que fabrica tecnologia inteligente. Não gostaria que nos identificassem como um fabricante que vende computadores em todo o mundo.
Queremos ser reconhecidos como uma empresa que tem tecnologia que ajuda os alunos a estudarem e as empresas a fazerem negócio, que ajuda à investigação e ao desenvolvimento mas também a jogar e a passar um bom momento.