Dados têm benefício finito
As empresas recolhem dados principalmente através de algoritmos que controlam a actividade económica – comprando e vendendo coisas – algo significativamente mais barato do que fabricar um produto tradicional ou criar algo novo em laboratório. Os dados recolhidos são usados como um dispositivo de previsão para prever tudo, desde flutuações no mercado de acções até o comportamento do consumidor. À medida que a tecnologia de recolha de dados continua a melhorar e os modelos de previsão se tornam mais precisos, a acumulação de dados, segundo este relatório, resultará em retornos mais baixos. «Ter mais e mais dados, logicamente, aproximará cada vez mais as empresas da informação perfeita», defendem as autoras. «Mas as previsões perfeitas têm um valor finito; portanto, os dados produzem um benefício finito. Não há limite para a criatividade humana, mas há um limite para até que ponto a inteligência artificial pode melhorar a nossa tomada de decisão».
Os modelos de previsão da IDC, encomendados pela Comissão Europeia, estimam que o valor da economia de dados na Europa pode ser de até 739 mil milhões de euros num cenário de alto crescimento ou tão baixo quanto 354 mil milhões num cenário de desafio.
Rumo a políticas de dados mais actuais
A proliferação de dados na economia oferece uma tremenda oportunidade para impulsionar o crescimento por meio da eficiência e da inovação. Mas para fazer isso sem comprometer outros objectivos, como a privacidade, a equidade e a estabilidade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que os governos precisam modernizar as políticas actuais para fazer face a alguns crescentes. Entre eles o facto de os mercados de dados serem muito obscuros. «Embora a maioria de nós participe da economia de dados todos os dias, não sabemos exactamente como os nossos dados são usados, transferidos e processados. Isso resulta na recolha de um enorme volume de dados, mas em pouquíssima privacidade», defendem os economistas do FMI Yan Carrière-Swallow e Vikram Haksar num trabalho publicado em conjunto. «As políticas públicas devem esclarecer os direitos e obrigações em matéria de dados para que o mercado funcione de maneira eficiente».
Outro desafio é tentar que as empresas que acumulam grandes conjuntos de dados não os guardem apenas para si, algo que pode reprimir a concorrência e reduzir os benefícios sociais que poderiam advir de um acesso mais amplo aos dados. «Os governos podem implementar uma série de políticas de estímulo à partilha de dados para promover a concorrência e a inovação, ao mesmo tempo em que se respeita a privacidade».
Por último, parece não estar claro se as empresas estão a fazer o suficiente para proteger os dados em seu poder contra roubo e uso indevido. Algo que o FMI diz ameaçar a confiança do público e criar riscos para a estabilidade, que devem ser mitigados por políticas para assegurar o investimento suficiente em cibersegurança. «Enfrentar esses desafios exigirá cooperação, tanto entre os órgãos nacionais como na esfera internacional. Tradicionalmente, as questões que envolvem crescimento, privacidade, concorrência e estabilidade têm sido tratadas por ministérios e órgãos reguladores distintos. Uma política de dados eficaz exigirá uma abordagem integrada para administrar trade-offs complexos».
António Duarte Mendes, corrobora esta opinião, salientando que a cooperação mundial é absolutamente essencial até para afastar o risco de fragmentação da economia digital, com o acesso aos dados limitado pelas fronteiras nacionais. Ou seja, se os países não confiarem na forma como seus parceiros globais lidam com os dados, podem decidir erguer barreiras digitais para impedir a partilha internacional de dados, minando a inovação e a eficiência. Segundo o FMI, a economia dos dados aponta para um futuro promissor, desde que sejam formuladas as políticas certas hoje.
Uma estratégia europeia de dados
A UE pode tornar-se um modelo de liderança para uma sociedade potenciada pelos dados para melhorar decisões – nos negócios e no sector público, diz a Comissão Europeia. Para cumprir esta ambição, a UE pretende basear-se num forte quadro jurídico – em termos de protecção de dados, direitos fundamentais, segurança e cibersegurança – e no mercado interno com empresas competitivas de todos os portes e variadas indústrias: «Para que a UE assuma um papel de liderança na economia de dados, deve agir agora e enfrentar, de maneira coordenada, questões que vão da conectividade ao processamento e armazenamento de dados, poder computacional e segurança cibernética. Além disso, terá que melhorar a sua estrutura de governança para manipular dados e aumentar os seus dados de qualidade disponíveis para uso e reutilização».
O objectivo é, segundo a CE, recolher os benefícios de uma melhor utilização dos dados, incluindo maior produtividade e mercados competitivos, mas também melhorias na saúde e bem-estar, meio ambiente e serviços públicos convenientes.
O que promete ser um verdadeiro desafio. O volume de dados produzidos no mundo está a crescer rapidamente, passando de 33 zettabytes em 2018 para uns esperados 175 zettabytes em 2025. «Cada nova onda de dados representa grandes oportunidades para a UE se tornar líder mundial nesta área», dizem os governantes. Além disso, a maneira pela qual os dados são armazenados e processados mudará drasticamente nos próximos cinco anos. Actualmente, 80% do processamento e análise de dados ocorre em data centers e instalações de computação centralizada e 20% em objectos conectados inteligentes, como carros, eletrodomésticos ou robôs e em instalações de computação próximas ao utilizador, o denominado ‘edge computing’. Em 2025, essas proporções provavelmente serão invertidas. «Além das vantagens económicas e de sustentabilidade que esse desenvolvimento apresenta, abre oportunidades adicionais para as empresas desenvolverem ferramentas para que os produtores de dados aumentem o controlo sobre seus próprios dados», esclarece a CE num relatório publicado em Fevereiro deste ano.
Quanto pode vir a valer a economia dos dados? É só fazer as contas.