Patrícia Teixeira Lopes, no que diz respeito à necessidade de adaptar as pessoas, acredita que vá haver um problema de talento e falta de qualificações, que de resto já se tem vindo a sentir, nomeadamente em Portugal, no mercado em determinadas áreas. «Vai ter de haver um trabalho de reskilling, de transformação de competências para colmatar esta escassez». A professora desenvolve a ideia da necessidade de ir buscar talento fora das áreas mais ‘directas’. «Vamos passar a ir buscar talento com backgrounds diferentes, desde as ciências às humanidades. Vai ter de haver mais diversidade nas equipas, geracional e étnica. Vamos ter de aproveitar todo o talento porque vai ser escasso».
Assim, a nova cultura organizacional estará sustentada em novas formas de trabalho. «Vamos passar de uma cultura de silos, que trabalha por áreas funcionais, para organizações muito mais interdisciplinares, colaborativas, com menos hierarquia, mais ágeis, não só individualmente mas em termos organizacionais». Da mesma forma, no entender de Patrícia Teixeira Lopes a Inteligência Artificial vai estar no centro de tudo, e até na base da decisão, «mas vai ser cada vez mais determinante a componente humana. As máquinas estão aí mas os humanos vão ser eventualmente ainda mais relevantes neste novo mundo das máquinas e da robótica».
A especialista acrescenta que vamos viver e trabalhar até mais tarde – numa mesma equipa Patrícia Teixeira Lopes que vamos passar a ter cinco gerações – tudo sustentado numa cultura empresarial de inovação. «Acabou a especialização. As pessoas estão a alterar a forma de estar na vida e a forma como querem estar na vida. As empresas têm de mostrar que são um bom sítio para estar, para reter os seus talentos». De resto, a organização biónica, que mistura biologia com electrónica, «terá a melhor capacidade para avançar no futuro».
A mobilidade no novo mundo
A mobilidade obviamente vai ser afectada em todo esta época de transformação e aceleração. Paula Teles, presidente e fundadora do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, diz que vamos refrear o nosso desejo de mobilidade por imposição, com apenas a poderem transitar em determinados dias carros pares ou ímpares, ou subindo tanto as tarifas que fica complicado. «A mobilidade urbana é um colete salva-vidas para um planeta B que não existe».
O problema é que as pessoas estão muito dinâmicas, agem com uma velocidade enorme «e eu que desenho as cidades e a sua mobilidade não sei onde meter tanta gente». Paula Teles contou que quando acabou o curso no início dos anos 90 – é engenheira de tráfego – ensinaram-na a desenhar cidades que tinham 20% de população. «Hoje, as cidades já têm 50% ou 60% de população, mas as ruas são as mesmas. Aliás, temos um volume enorme de pessoas a circularem todos os dias, com multideslocações durante esse período. Não é como antigamente, ir para o trabalho e vir para casa. São várias deslocações e muitas vezes com vários modos. Não é um assunto de engenharia civil, é mais do que tudo um assunto sociológico, de saúde públicos pelos níveis de dióxidos de carbono que provocam náusea, problemas de alergia».
A realidade é que, à medida que aumenta o número de carros na cidade, aumenta em proporção directa o número de pessoas a recorrerem no hospital. «Aí sim, a mobilidade tem a função de colete salva-vidas porque somos responsáveis por 1/3 ou 2/3 do dióxido que sai para a atmosfera. Estamos a acusar externalidades que colocam problemas económicos e de saúde».
Paula Teles mencionou ainda o facto de as cidades hoje estarem a abdicar dos espaços públicos na vertente da sociabilidade, pelo que basicamente o segredo parece estar na mobilidade inclusiva, respondendo com escala humana e não urbana.