Fomos novamente à procura de dados. Segundo informações de 2019 do barómetro da Edelman, a população em geral confia menos nas organizações não-governamentais, nas empresas e, particularmente, não confia nos governos e nos media. «A questão é que os governos e os media são instituições que criámos enquanto sociedade precisamente para intermediarem e mediarem as nossas relações. Estão a ser desacreditadas e isso é preocupante». Segundo dados de Portugal, não confiamos no sistema político, confiamos ligeiramente no sistema jurídico e confiamos um pouco mais na polícia.
A economia da partilha
Apesar destes fenómenos de desconfiança serem uma tendência fortíssima, garante Rui Coutinho que, se pensarmos mais a fundo, nunca na história do nosso planeta confiamos tanto. «Não estamos a confiar nas instituições mas estamos a confiar em nós próprios. É curioso ver que 64% dos britânicos confiam mais na Wikipédia do que na BBC, sendo que a Wikipédia somos todos nós».
Outros exemplos como o Airbnb ou a Uber são igualmente “gritantes”. Neste momento, damos mais valor a um comentário de um utilizador numa destas plataformas do que a uma avaliação expressa numa revista da especialidade. «Estamos a confiar cada vez mais uns nos outros e cada vez menos nas instituições que nos intermedeiam. E isto tem de ser um ponto de reflexão para todos nós».
Os desafios da democracia liberal
Segundo o Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais, mais conhecido como The Graduate Institute, em Genebra, o mundo está sob pressão, com o aumento das democracias iliberais, também conhecida como democracia parcial, como é o caso da Turquia ou da Rússia, que têm um presidente que transcende, prolonga e perpetua. «Ou o aumento de autocracias liberais, como a China, que sendo uma autocracia tem uma economia liberal e é hoje líder do comércio livre. Estamos em guerra comercial. Naturalmente os populismos, os extremismos, crises de representatividade como o número de pessoas que vota para o Parlamento Europeu e já nem falo nas restantes… Tudo são um conjunto de pressões que são colocadas sobre nós, sobre o nosso planeta e o nosso crescimento que tem de passar a ser mais inteligente do que tem sido até agora».
Não vai haver emprego?
Que impacto terá então a digitalização no emprego? Vai deixar de existir? A evidência é ao contrário, até deverá aumentar, diz Patrícia Teixeira Lopes, doutora em ciências empresariais e vice dean da Porto Business School. «Após estas transformações, a história prova que o emprego aumenta. O que vai acontecer, com alguma certeza, é uma maior pressão sobre os salários, porque as máquinas vão substituir o trabalho das pessoas. Se nada for feito, vai haver um aumento do gap salarial e uma redução da coesão, algo que nos preocupa muito. Esta desigualdade do rendimento é um risco grande».
A especialista diz que quem está ligado aos temas da automação e da robótica e desenvolve os modelos de negócio nesse âmbito terá mais condições para a apropriação de riqueza do que os outros que poderão ficar fora desta evolução. «É normal que tenha de haver algumas políticas de apoio a esta transição e transformação».