Facto: vivemos e sobrevivemos a três revoluções industriais. Mas, mais que sobrevivermos, prosperámos. Já há duzentos anos se dizia que as máquinas iam substituir as pessoas. Apesar de, realmente, cada vez mais as máquinas substituírem tarefas antes destinadas aos humanos, todos os indicadores sociais e económicos melhoraram com estas revoluções industriais, desde a educação, a riqueza, a saúde, a democracia, a literacia, a mortalidade infantil, a vacinação.«Não houve um destes indicadores que não tenha melhorado significativamente após cada um destes processos transformadores. Processos dolorosos mas que trouxeram o planeta para um nível de bem-estar e prosperidade sem precedentes na história da humanidade», explicou Rui Coutinho, director executivo do Center for Business Innovation da Porto Business School.
Hoje, e numa altura em que se defende que estamos na presença da quarta revolução industrial, vivemos um momento que tem tanto de desafiador, como de inquietante, onde o digital nos traz um conjunto de novas possibilidades e onde o mundo se torna interconectado, interdependente e combinatório, com as principais plataformas tecnológicas a acelerarem cenários mais ou menos distópicos.
«Em 2018, alegadamente, nasceram as primeiras crianças a partir de manipulações genéticas. Há um conjunto de transformações que estão a ser aceleradas e se há algo que caracteriza este momento é essa velocidade, essa aceleração e rapidez com que as coisas acontecem». Aliás, Rui Coutinho acredita que na actualidade não há bem mais perecível do que o próprio conhecimento. «Isso exige de nós enquanto pessoas, enquanto organizações, enquanto sociedade, algo novo e diferente».
O factor crescimento
Nesta nova sociedade é preciso pensar em crescimento. Nomeadamente o económico, já que é ele que tem gerado a prosperidade, a riqueza, o bem-estar e todos os progressos civilizacionais. Mas este crescimento, expõe o professor, não poder ser a qualquer custo: «Precisamos de que seja mais inteligente».
São vários os desafios que Rui Coutinho defende para o tal crescimento inteligente. O primeiro é a demografia. «Somos um dos países com maior índice de envelhecimento da Europa. No mundo ocidental, é verdade que olhamos para a demografia do lado do envelhecimento e pelo lado da fraca natalidade, mas a tendência não é essa. O mundo está, do ponto de vista populacional, a crescer de forma imparável».
Fomos ver as projecções das Nações Unidas. Em 2030, seremos 8,5 biliões de pessoas, mas em 2100 podemos vir a ser 11,2 biliões. Um crescimento exponencial que é saudável no sentido de sabermos que a nossa espécie se está a reproduzir, mas preocupante porque «não sabemos se cabemos todos e se há recursos para acolher toda a gente», lembra Rui Coutinho.
Para mais, a distribuição da população não vai ser sequer uniforme, havendo um movimento de concentração demográfica em metrópoles. Em 2030, 60% da população mundial estará a viver em macro cidades e 80% dos 11,2 biliões em 2100 estarão a viver nessas grandes metrópoles. Outro dado relevante é que haverá um novo equilíbrio geopolítico e geoestratégico. As pessoas vão estar concentradas eminentemente em dois espaços geográficos: na mais ou menos óbvia Ásia e na menos esperada África. «Atentem para o crescimento populacional passado, presente e projectado para, por exemplo, a Nigéria». Esta mutação demográfica do nosso planeta, que cresce abundantemente em determinadas áreas consideradas emergentes e que decresce, de forma preocupante, em países desenvolvidos, cria novos desafios.