A IBM tem sabido reinventar-se e é, hoje, um dos grandes players de cloud em conjunto com a AWS, Google e Microsoft. Em entrevista à businessIT, John Granger explicou como o mais importante na viagem para a cloud é o «destino e não o caminho».
‘Transformação digital’ é a buzzword do momento, mas o que é a digitalização para a IBM e de que forma a cloud está no centro desta mudança?
A cloud e a transformação digital estão intimamente ligadas. No processo de digitalização é vital termos um enquadramento que molde qual vai ser o destino porque na transição para a cloud, o mais importante não é o caminho mas sim o que se faz quando se chega lá. É isso que acreditamos ser fundamental para os nossos clientes terem sucesso.
As empresas devem ter, no seu centro, esta ideia de plataforma de negócio e de que é esta plataforma (cloud) que lhes vai dar vantagem competitiva. É preciso perceber quais são as tecnologias exponenciais, como o 5G, IoT, a automação etc., que vão ser necessárias, quais são os dados que vão alimentar a plataforma e ter à volta disso uma cultura de inovação ágil. A isto chamamos a ‘empresa cognitiva’, que só é possível graças à cloud híbrida.
A cloud e a transformação digital andam de mãos dadas e eu chamo a esta relação ‘o Sol e a Lua’. Assim, a forma como se faz a transição para cloud não é importante, mas sim qual é a ideia que a organização tem para se transformar numa empresa cognitiva com a ajuda da cloud híbrida.
Hoje em dia as empresas já têm as suas aplicações e workloads críticas na cloud ou ainda são apenas as menos importantes?
O que vemos no processo de transformação digital é que existem diferentes etapas. Mas não é só o que vemos, é também o que nos dizem os nossos clientes. Na primeira etapa, que é a fase em que temos estado, houve uma enorme quantidade de inovações excitantes, muitas provas de conceito e pilotos, principalmente com foco aplicações para o cliente. Estas eram relativamente fáceis de desenvolver e flexíveis. Nesse período, apenas 20% das aplicações foram mudadas para a cloud.
O que começamos a ver agora, e a que chamamos segunda etapa, é a saída desta fase de experimentação para uma de escala. Os actos digitais aleatórios estão, agora, a crescer e a ganhar escala nas organizações. As empresas fizeram muitas provas de conceito e agora estão, realmente, a pensar implementar automação, e inteligência artificial, em grande escala. A cloud híbrida é a plataforma que vai permitir este pensamento em escala. O que vemos agora é que os nossos clientes estão a considerar seriamente mudar o resto das aplicações para as cloud. Estes 80% são aplicações essenciais e críticas.
Antes, era só experimentação, mas agora as coisas estão a tornar-se sérias e temos clientes como a American Airlines e outras grandes empresas a mudar para a esta segunda etapa e a «mergulhar de cabeça» na cloud.
Hoje a abordagem de cloud híbrida e muticloud é considerada a mais madura. Concorda? Como é que IBM vê esta complexidade?
Sim, concordo. A IBM define um ambiente de cloud híbrida como a conjugação de três coisas: o ambiente tradicional de TI, a cloud privada e a cloud pública. O que vemos que cerca de 60% das empresas estão na nuvem pública e 40% na privada ou ainda on premises.
Estas empresas, e não estou a falar de startups, sabem que há determinadas coisas que vão ter de deixar on premises por questões de segurança. É complicado, mas é o mundo em que vivemos e temos de nos adaptar. Segundo alguns estudos que fizémos, a maioria dos clientes usa entre cinco a seis clouds públicas, por isso a complexidade já existe e foi decidida pelas próprias empresas.
A verdade é que há uma crescente preocupação com a dependência de apenas um fornecedor (vendor lock-in). Além disso, os clientes querem ter a oportunidade de beneficiar do melhor que cada nuvem oferece e preferem ter essas vantagens à simplicidade.
A cloud híbrida e a muticloud não são inimigas da segurança?
Não me parece. Neste mundo multicloud, se uma empresa quer segurança, acreditamos que a cloud pública da IBM é a mais aberta e segura para os negócios. Ao longo dos últimos anos temos apostado em diversas funcionalidades para a tornar mais segura, mais eficiente e uma opção mais atractiva para os clientes.
Por exemplo, anunciámos recentemente a nossa parceria com o Bank of America para quem criámos os primeiros serviços financeiros dedicados do mundo na cloud pública. A área financeira tem sempre muita relutância em passar da primeira para a segunda etapa por questões de segurança.
Nós conseguimos criar uma plataforma que está de acordo com os requisitos de segurança e resiliência do banco que agora está a mudar as suas aplicações para a cloud pública. A IBM Cloud permite também inovar já que pode ter integração com serviços de outros ISV [vendedores de software independente], fornecedores de SaaS e fintechs.
Como é vê o papel da cloud na inovação?
O grande objectivo da cloud é a inovação. Considero que há uma enorme quantidade de oportunidades para inovar e à medida que usamos a nuvem para avançar em direção a novas tecnologias exponenciais, como a automação, a IA e por aí em diante, vemos que vamos precisar de um sistema operativo para a cloud. Penso que estamos apenas a começar a ver o que é possível fazer na nuvem, ao nível da inovação.
O open source tem tido um papel importante no mundo da cloud. A IBM tem estado atenta a este movimento e concluiu este ano a aquisição da Red Hat. O que mudou para a IBM com esta compra?
Se pensarmos num mundo de cloud híbrida e multicloud, as empresas querem ter a capacidade de criar uma vez, mas implementar em qualquer lugar. Os clientes não querem ficar em silos e em todas as competências que têm são em Azure ou em AWS. Isso porque querem mover aplicações entre nuvens, especialmente privadas, em segundos e as competências técnicas são escassas.
Vou dar o exemplo dos caminhos de ferro suíços que têm uma app desenvolvida com OpenShift que permite interacção multicloud e que os diferentes sistemas falem entre si. Assim, quando se consulta os horários estamos a usar AWS, mas se quisermos comprar um bilhete estamos num data center on premises. É isto que queremos dizer com ‘criar uma vez e depois implementar em qualquer lugar’.
É por isso que insisto que necessitamos de um sistema operativo para a cloud que inclua containers, Kubernetes e a Red Hat dá-nos isso e permite essa abordagem. A lógica da IBM é que se estivermos num mundo de cloud híbrida e multicloud queremos que seja aberto para termos acesso às mais recentes e melhores tecnologias e foi por isso que compramos a Red Hat, para dar continuidade à nossa visão de cloud.
Tem falado muito nesse novo sistema operativo. A IBM está a desenvolvê-lo em conjunto com a Red Hat?
Fundamentalmente, nós vemos esse SO como a suite completa da Red Hat. O OpenShitf é o único sistema de containers multicloud do mundo em produção. Muitas outras empresas estão a pensar na sua criação (um sistema operativo para a cloud) mas é ainda conceptual. Mas nós já temos isso com o OpenShitf e o com o RHEL, o sistema operativo Linux da Red Hat para empresas. A plataforma multicloud já existe na Red Hat e achamos que existe aí uma grande oportunidade.
Resumidamente, qual é a estratégia da IBM em relação à cloud?
A nossa estratégia resume-se a cinco pilares: híbrida, multicloud, aberta, segura e gerida. A primeira situação centra-se em ir ao encontro dos clientes e onde eles estão, seja cloud pública e/ou privada. Na segunda, e como disse antes, é reconhecer que as empresas usam diversas clouds públicas. Aberta é realmente importante porque é aqui que vão estar as melhores e mais inovadoras tecnologias e, quanto a segura, já falámos da importância desta dimensão. Quando a gerida, é a oportunidade de simplificar e usar um único painel de controlo para todas as clouds. Este pilar é uma parte crítica da nossa estratégia.
Falou anteriormente das etapas da cloud. Quando é vamos chegar a uma terceira etapa? Em que etapa está a IBM e como vê o futuro da empresa?
Vai demorar. Penso que ainda temos um longo caminho a percorrer na segunda etapa e só agora é que entrámos nesse capítulo. A IBM está a na segunda etapa da cloud e os nossos clientes também já que estão a mudar os seus sistemas críticos para a cloud. Estou muito entusiasmado porque somos talvez a tecnológica mais antiga do mundo e a forma como temos consigo sobreviver é sabendo reinventarmo-nos. Ao termos adquirido a Red Hat, preparámo-nos para os desafios dos próximos quinze a vinte anos. Agora, temos de saber mantermo-nos relevantes.