Reportagem

Glintt: mentoria e networking são essenciais para chegar ao topo

A tecnológica portuguesa organizou nos seus escritórios, em Sintra, o evento Women 2025: The Future is Now em que debateu o que as mulheres devem fazer para chegarem, cada vez mais, a lugares de c-level nas empresas. Mentoria e networking foram considerados pelos participantes como vitais para uma maior igualdade de géneros nos lugares do topo das empresas.

A iniciativa da Glintt, realizada no âmbito do projecto WE Health – Empowering Women Entrepreneurship in Health Innovation, financiado pelo EIT Health, apontou direcções às diversas mulheres que trabalham no sector da saúde sobre como podem ter maior sucesso nas suas carreiras, mas que podem ser aplicadas por todos os que querem melhorar as suas vidas profissionais, independentemente do sector em que trabalham.

Filipa Fixe, executive board member na Glintt, explicou à businessIT que a empresa «entrou no consórcio do European Institute of Innovation & Technology (EIT)» e que como um dos focos é a área da saúde estão ligados ao programa «EIT Health, que tem três eixos de actuação: inovação, campus e business creation».

A responsável explica melhor como funciona este braço do instituto europeu: «Estamos a falar de inovação, formação e garantir que as ideias que nascem nas universidades satisfazem uma necessidade de mercado e se conseguem criar empresas que depois alavancam novamente inovação para dentro do sector da saúde».

A Glintt tem participado em «projectos de inovação na área de campus e business creation» num consórcio com «cerca de 140 parceiros entre indústria, hospitais, universidades, institutos de investigação e cada vez mais associações da sociedade civil e de utentes e pacientes».

Dar mais poder às mulheres
O evento organizado pela Glintt faz parte da iniciativa dedicada ao women empowerment, que quer trazer «mais mulheres à área da saúde» e mostrar «como podem crescer dentro dos seus perfis profissionais, quer sejam académicos, ou industriais, para conseguirem ter cargos de direcção e estarem ao nível de c-level». Filipa Fixe revelou ainda que nas life sciences há estudos que dizem que há «mais de 60% de mulheres a fazem investigação», mas que quando olhamos para as suas carreiras e para o c-level das empresas e nas universidades continuamos a ter «muito poucas mulheres».

Esta é uma realidade que não acontece só em Portugal, já que o Women 2025 contou com a participação de investigadoras catalãs que revelaram que o mesmo se passa em Espanha. Houve também o contributo de algumas responsáveis que trabalharam fora do País e explicaram que as desigualdades de género e de oportunidades ocorrem um pouco por toda a Europa apesar de existirem diferenças sobretudo em países como a Alemanha e Países Baixos.

A administradora salientou também os principais objectivos programa do EIT Health: «O que é que precisamos de fazer efectivamente para que mais mulheres tenham cargos de decisão e como é podemos tornar este percurso mais fácil, não apenas definindo quotas mas como é que impulsionamos que no futuro há igualdade e as mulheres têm o mesmo nível de oportunidades numa sociedade em que os cargos de decisão são dominado pelo sector masculino. Este é o desafio».

Mais mentoria é fundamental
Como se pode promover a capacidade de liderança das mulheres foi o tema debatido em duas mesas redondas em que os diversos participantes partilharam as suas experiências e os desafios com que tiveram de se debater para chegar a cargos de direcção. No primeiro painel, Filipa Mota e Costa, managing director da Janssen, disse que «a igualdade de género tem sido um tópico no grupo onde trabalha», a Johnson & Johnson, mas que «hoje, as pessoas estão mais conscientes de que é preciso diversidade, não só de géneros mas em todos os aspectos» e que nunca sentiu «qualquer tratamento diferente por ser mulher».

A responsável referiu que é «contra o estabelecimento de quotas» e que «há vinte anos, muitas mulheres acreditavam que para terem sucesso tinham de agir como homens e isso hoje já não acontece», o que foi corroborado por Fátima Carioca, dean da AESE Business School. A reitora esclareceu que «as mulheres devem ser elas próprias» e que «o verdadeiro desafio é a maternidade» e que esse é «um facto cultural que é preciso mudar». Céline Abecassis-Moedas, dean for executive education da Católica Lisbon School of Business and Economics, destacou a importância da mentoria: «As mulheres estão menos habituadas ao mentoring mas têm de aprender a fazê-lo. Temos de ser mentoras para as mulheres mais jovens e dizer-lhes que vai ser difícil, mas que vão conseguir. É preciso dar estes incentivos». A responsável da Católica explicou também que é necessário criar mais consciencialização já que «as suas alunas nem sempre percebem os desafios que vão enfrentar nas suas carreiras profissionais».

Networking não é só para homens
Ainda durante o primeiro debate, Margarida Bajanca, partner da New Angle, explicou que a área que é preciso também desenvolver é o «networking». As mulheres pensam que é «perda de tempo» e muitas vezes «a vida familiar não facilita esta tarefa», mas «a maioria das pessoas quer ajudar» e os momentos de network «são ocasiões privilegiadas para isso».

O segundo painel contou com a presença de Susana Guedes, delivery manager – top commercial segment da Microsoft Portugal, que explicou que na tecnológica existe uma «grande cultura de diversidade nas equipas» já que a missão da empresa é «criar tecnologias que intencionalmente incluam as pessoas» e isso só é possível «se se conhecer as necessidades de diversos tipos».

Quanto ao sector das TI, conhecido por ter poucas mulheres, a responsável explicou que a abordagem da multinacional passa por «acções de formação em escolas para diversas idades» com o objectivo de «despertar interesse de estas seguirem estudos e carreiras tecnológicas». O único homem presente no evento, Francisco Rocha Gonçalves, director healthcare technologies management da Luz Saúde, referiu que «sempre trabalhou em ambientes de diversidade» e que se isso for «incutido desde o início, tal deixa de ser uma situação e passa a ser algo natural», acrescentando que é uma «questão de cultura».

Já Rita Pelica, chief energy officer e fundadora da OnYou, reforçou a ideia da relevância do «networking» e revelou como «foi essencial para o seu sucesso profissional». O networking «deve ser encarado como trabalho» já que apesar de ser «feito muitas vezes fora do horário, essas relações são muito importantes» para «criar confiança e para que os outros conheçam o nosso valor».

Todas os participantes concordaram que é preciso mudar mentalidades e que a situação está a melhorar. As novas gerações estão mais alerta para as situações de igualdade de género mas que não se pode descansar e é preciso continuar a consciencializar, principalmente os mais jovens, para que uma mudança cultural realmente efectiva.