Os entraves à inovação
A Europa tem algumas desvantagens face a outras geografias. Uma delas, claramente identificada por Willem Jonker, é o acesso ao mercado. A Europa é um continente fragmentado pelo que colocar um produto no circuito não é propriamente fácil. «Voltemos ao exemplo dos Estados Unidos. É um país com dimensão suficiente para que uma empresa, primeiro, sustente o mercado nacional e, depois, vá para fora. Mas uma empresa holandesa tem um mercado interno muito pequeno – isto limita o sucesso, estamos a trabalhar a nível europeu nesse sentido, mas é difícil harmonizar, são muitos Estados, muitas opiniões, todos querem a mudança mas ninguém quer mudar…».
Outro grave problema é o tal acesso a financiamento. «Simplesmente há mais dinheiro disponível noutras partes do mundo. A questão é que tende a piorar, dinheiro faz dinheiro. Como os recursos financeiros europeus são mais escassos, temos de ser mais criteriosos onde investimos. Temos de apostar nas tecnologias certas, nas áreas certas. E isto também é complicado na Europa».
Inovação europeia tem vindo a melhorar
Apesar de tudo, o Painel Europeu da Inovação e o Painel Regional da Inovação já de 2019, publicados pela Comissão, revelam que o desempenho da UE em matéria de inovação tem vindo a melhorar desde há quatro anos consecutivos, com a inovação na Europa a superar, pela primeira vez, a dos Estados Unidos.
No entanto, a UE continua a perder terreno em relação ao Japão e à Coreia do Sul, com a China a aproximar-se rapidamente. Os dados complementam as recentes recomendações específicas por país (REP) da Comissão Europeia, no âmbito do Semestre Europeu, que destacam o papel da investigação e da inovação e incluem recomendações para incentivar o aumento da produtividade e da competitividade.
Na altura, Carlos Moedas, comissário responsável pela Investigação, Ciência e Inovação, disse que a inovação significa emprego e crescimento no futuro. «Congratulo-me com os progressos gerais realizados na UE. Todavia, para se manterem na frente da corrida mundial, tanto a UE como os Estados-Membros têm de continuar a investir e a desenvolver as políticas adequadas para que a inovação possa prosperar».
Os fundos da política de coesão da UE são considerados pelo responsável «um dos principais motores da inovação e do desenvolvimento sustentável», com as empresas em fase de arranque e as pequenas empresas a ajudarem a criar novos modelos empresariais no sector digital ou ecológico. «No entanto, os pólos de inovação podem também crescer em países com economias menos fortes; são estes resultados que nos ajudam a apoiar a inovação nos ecossistemas regionais, incluindo nas regiões menos desenvolvidas.»
Atrair talentos é fundamental
Administrar uma empresa de tecnologia bem-sucedida tem tudo a ver com atrair os melhores talentos – e para isso, é preciso construir um ecossistema de inovação. Historicamente, no Ocidente, tudo isso foi centrado em Silicon Valley, um inegável sinónimo de excelência em tecnologia. Ora isto, segundo alguns analistas, isso cria uma situação tipo ‘galinha e ovo’, ou de quem nasceu primeiro, pois inevitavelmente, as mentes mais brilhantes procuram ambientes onde estejam cercados por outros talentos. Como isso já existe em Silicon Valley, os melhores talentos europeus serão atraídos continuamente para a costa oeste dos Estados Unidos – o que significa que é difícil replicar este tipo de sucesso na Europa.
Resumindo: talento atrai talento. Muitos estudantes das principais universidades americanas seguem para Silicon Valley após a formatura, atraídos pela atmosfera animada, oportunidades ilimitadas e reputação global. Os trabalhos de programação são abundantes, enquanto os salários são geralmente generosos.
Mas não são apenas os estudantes que já moram nos EUA que sentem a atracção. A reputação global desta geografia significa que os seus negócios atraem recursos humanos de todo o mundo e, às vezes, os talentos europeus criados ‘em casa’ podem ser perdidos, deixando as empresas europeias com uma grave escassez.