Entrevista

As soluções de IoT têm de servir o propósito da sustentabilidade

A entrevista a João Rodrigues, director-geral da Schneider Electric Portugal.

A Schneider Electric tem vindo a mudar o seu negócio e, em Portugal, hoje, a Internet das Coisas (IoT) já é responsável por metade da facturação. Mas João Rodrigues, em entrevista à businessIT, diz que todas estas soluções têm de servir um propósito maior: a sustentabilidade.

O ano passado, mais ou menos por esta altura, disse à businessIT que o negócio da Schneider Electric em Portugal estava a crescer acima da média dos restantes países europeus. E este ano, qual a expectativa?

Este ano, o mercado continua a ajudar o negócio da empresa em Portugal, por isso esperamos fechar o ano em linha com o mercado. Um crescimento modesto, mas ainda assim, um crescimento. Crescer numa economia madura. como é a europeia, e como é a portuguesa, é bastante bom.

O que o que é «fechar o ano em linha com o mercado»?

É ter um crescimento na ordem dos 2% para os 3%, a par da economia. Portugal é hoje um país bom para atrair investimento e talento. Basta vermos os movimentos ligados ao ecossistema da inovação, das startups até à da Web Summit. Mas, mais importante que eventos que vão sendo realizados de forma pontual, é a consistência deste ecossistema que é importante. Podemos ser pequenos, mas somos ágeis.

O grande desafio que estamos a lançar aos nossos parceiros – obviamente, vamos utilizar a tecnologia para tal – é tirar o máximo partido da transição energética, com o digital no centro e com a revolução industrial que está em curso. É sobre estes dois pilares que queremos gerar mais e melhor negócio para todos.

Como caracteriza o negócio realizado este ano?

Os negócios transaccionais, os do dia-a-dia, correm bem, e depois temos os negócios pontuais. Quando estamos a viver o benefício desse negócio pontual, ficamos muito satisfeitos, porque acrescenta um crescimento significativo, que foi o que aconteceu o ano passado. No entanto, seria extremamente injusto pensar que o sucesso que tivemos em 2018 foi baseado exclusivamente em grandes negócios. Não foi. Foi baseado em alguns projectos especiais, mas também na consistência da nossa entrega no dia-a-dia. E essa consistência confirma-se este ano. Jogo muitas vezes com a imagem do copo meio cheio ou meio vazio. Olhando pelo lado do copo meio cheio, digo que podemos fazer mais e melhor. Está a correr bem, sobretudo o tal negócio transaccional, mas sinto que podemos fazer melhor, sou muito optimista.

O ano passado organizaram o vosso Innovation Summit em Paris e, este ano, foi em Barcelona. Nesta edição, qual foi a participação de Portugal?

Multiplicámos a presença de clientes por vinte. Trouxemos cerca de trezentas pessoas ao evento, o que para um país com a dimensão de Portugal é muito significativo.

No evento deste ano, falaram da necessidade de manter o dinamismo da rede de parceiros, da qual vocês querem cada vez mais “depender”. E falaram ainda na necessidade de comunicar a essa rede que o negócio da Schneider tem vindo a evoluir. Porque, sinceramente, quando pensamos em IoT, por exemplo, a marca Schneider não é a que nos vem logo à ideia. Têm conseguido fazer passar essa mensagem?

Vou continuar a seguir o meu natural positivismo: a nossa rede de parceiros tem vindo a evoluir mas tem espaço para continuar a melhorar. Seja a rede de parceiros de TI, da distribuição… aliás, os trezentos portugueses que estiveram presentes no evento representam o ecossistema completo da Schneider, desde o cliente final aos integradores, aos distribuidores, instaladores, prescritores e mesmo aos que chamamos ‘eco experts da Schneider’.

Temos cada vez mais vindo a integrar estes parceiros, tem havido uma grande evolução. Por exemplo, um dos eco experts na área da gestão de edifícios faz parte de um universo muito restrito – são dez parceiros a nível mundial – de entidades com as quais a Schneider trabalha em grande proximidade e que se reúne duas vezes por ano no sentido de partilhar experiências, inputs e ideias de evolução das nossas ofertas. Isto é o ecossistema de parceiros a funcionar na perfeição. A ajudarmo-nos mutuamente em benefício do negócio de ambas as partes, mas também claramente em benefício do negócio do cliente final.

Há, então, espaço para evoluir dentro dessa rede de parceiros?

Sim. Aliás, admito que em algum momento a expressão parceiro possa ter sido excessivamente massificada, ou seja, utilizada como uma espécie de eufemismo para a relação cliente-fornecedor.

Numa linguagem mais politicamente correcta, entendendo a expressão – até porque a utilizo muitas vezes –, digo que verdadeiramente devemos encarar como parceiro aquele que partilha visões, que desafia, que não aceita o conformismo que respeita a diferença.

Hoje, qual é a principal área de negócio da Schneider Electric em Portugal?

A distribuição de energia. No entanto, temos sempre muito orgulho em recordar que a área das TI tem uma presença muito forte em Portugal, é muito importante.

Como vê a evolução do negócio nos próximos anos?

O mercado eléctrico, em termos gerais – onde, de resto, sempre estivemos envolvidos – era encarado como conservador e com poucos desafios. Mas isso já não é verdade. A transição energética, nomeadamente para as energias renováveis, a integração do veículo eléctrico, a descentralização da produção, as cidades… tudo é verdadeiramente inteligente. E isto, sem novamente cair no erro de tornar a palavra ‘inteligente’ um cliché: smartphone, smart city, smart building. Não queremos banalizar a palavra, queremos utilizá-la na sua verdadeira acepção.

Estamos no momento – que há muitos anos as tecnológicas souberam aproveitar – de gerar novas áreas e provar ao cliente que ele precisa de uma coisa que nem ele próprio sabia que precisava. Temos de criar a necessidade. E daí a “nova” Schneider: uma tecnológica suportada nos produtos que sempre soube fazer, mas com produtos cada vez mais adaptados ao digital, conectados, com serviços e software.

Já vendem mais produtos que serviços?

Prefiro dizer-lhe que razoavelmente 50% da nossa cifra de negócio já é dirigida a soluções de IoT.

Pegando precisamente na IoT: o discurso do Innovation Summit do ano passado foi muito focado na Internet das Coisas, até porque, disseram na altura, 45% do volume de negócio da Schneider Electric de alguma forma derivava dessa área. Mas este ano, a mensagem foi muito mais ligada à sustentabilidade. Mudou alguma coisa? Ou a IoT já está tão embutido no negócio que já não é preciso dar-lhe ênfase?

Sim, mas a IoT é um movimento para se alcançar algo superior. Neste momento, tomámos o tema sustentabilidade como verdadeiramente o grande propósito. Ou seja, as soluções de IoT têm de servir o propósito da sustentabilidade. Assim como todo o software, os serviços e tudo o que mais venha!

Mas também é verdade que a indústria gosta destas palavras-chavão, destes conceitos, para vender. E sabemos que a sustentabilidade este ano está mais na moda. Houve de alguma forma a adaptação do discurso aos movimentos sociais?

Preferia dizer que houve uma identificação clara do que tem de ser o nosso foco. Quanto às palavras que são excessivamente usadas, sim, são um risco enorme, como já mencionei. Antes era a eficiência energética, depois veio o smart… prefiro que as palavras sejam resultado de uma prática. Por isso, a sustentabilidade, o IoT, o smart, a eficiência energética… mais do que clichés de moda e marketing, devem ser utilizados e praticados no dia-a-dia. E é isso que pretendemos fazer com os nossos clientes.