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A Europa está mais inovadora… mas não o suficiente

A inovação na Europa superou, pela primeira vez, a dos Estados Unidos. Mas isso não chega. Em termos reputacionais, e de captação de investimento, o Velho Continente tem ainda um longo caminho a percorrer.

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O cenário tecnológico europeu está a prosperar. Esta é uma visão materializada nos chamados ‘unicórnios’ que, supostamente, estão a crescer mais rápido que os seus rivais nos Estados Unidos. No final de 2018, dados da Bolsa de Londres revelavam que 69 empresas europeias de tecnologia tornaram-se públicas durante o ano, em comparação com apenas 28, nos EUA.

Enquanto isso, um número crescente de cidades europeias – incluindo Londres, Amesterdão ou Estocolmo – estão a ganhar reputação como centros de tecnologia e a atrair uma grande quantidade de financiamento. Estima-se que um recorde de 21 mil milhões de euros tenha sido investido no sector de tecnologia da Europa no ano passado, um aumento significativo em relação a 4,5 mil milhões no ano anterior – e, esperançosamente, um sinal do que está por vir.

No entanto, a verdade é que as empresas europeias de tecnologia ainda são ofuscadas pelas empresas norte-americanas e chinesas. Para colocar as coisas em perspectiva, a avaliação actual mais alta de um unicórnio tecnológico europeu é de pouco mais de dez mil milhões de euros. A avaliação do principal unicórnio chinês atinge os 68 mil milhões. Ou seja, não é propriamente complicado concluir que se a Europa quer competir num cenário verdadeiramente global, há muito mais trabalho a ser feito.

O exemplo dado à businessIT por Willem Jonker, CEO do EIT Digital, pode parecer caricato, mas espelha bem o que se passa na Europa: «Muitas vezes, quando falo para alunos, faço esta simples pergunta: ‘Quem tem um iPhone? ‘Quem tem um telefone com sistema Android?’ E quem tem um telefone europeu? Relativamente a esta última pergunta, a reacção é sempre a mesma: riem. Riem muito». O problema, para este executivo, é o que uma empresa como a Apple, por exemplo, move num país. Os impostos que gera, os postos de trabalho que cria, desde o arquitecto que desenhou a nova sede até aos motoristas que guiam os executivos, passando pelos jardineiros que mantêm o espaço agradável. Isto, mesmo considerando que muita da mão-de-obra está fora dos Estados Unidos. Mas a mais “importante”, a de valor acrescentado e geradora de talento, está nos EUA.

A Europa está consciente desta situação e reconhece que precisa de aprofundar a sua capacidade de inovação para competir nos mercados mundiais e manter e melhorar o modo de vida europeu, tal como solicitado pelo Conselho Europeu, em Junho de 2018 e Março de 2019. Por esse motivo, a Comissão Juncker definiu um novo nível de ambição para a UE e os seus Estados-Membros e regiões e propôs o Horizonte Europa, o programa de investigação e inovação «mais ambicioso de sempre», nas palavras da própria Comissão Europeia. O objectivo seria manter a UE na vanguarda da investigação e da inovação a nível mundial.

Quando questionado sobre como está a saúde digital da Europa, Willem Jonker, entre sorrisos, lá nos foi dizendo «que a situação não é lá muito boa, na verdade».