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No epicentro da quarta revolução industrial

A onda da quarta revolução industrial, que agora se materializa, é um mundo onde as linhas do físico e do digital estão esbatidas e se misturam e em dificilmente saberemos onde acaba uma e começa a outra.

No final do século XVII, a máquina a vapor foi a grande responsável por começar uma revolução industrial. Desta vez, diziam os especialistas que os robots integrados em sistemas ciberfísicos seriam os grandes responsáveis por uma transformação radical. Prontamente, os economistas deram-lhe um nome: ‘quarta revolução industrial’ ou ‘indústria 4.0’, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. «Trata-se de uma nova onda tecnológica que traz transformações profundas nas vidas das pessoas e das empresas. Um mundo novo, onde as novas tecnologias têm um avanço tão profundo que impactam modelos de negócio, empregos, estilos de vida e a própria economia», diz Duarte Miguel Freitas, CEO da Anturio.

No entanto, na crista desta onda de oportunidades existe também desconforto e incerteza para o futuro de cada um. «Uma revolução é mais que uma mudança, é uma alteração às regras do jogo. Uma alteração da forma como se vive e das prioridades. Traz muitas incertezas, nomeadamente em relação à automação, à possibilidade dos postos de trabalho se tornarem obsoletos».

Mas, esclarece o CEO, há que olhar para o outro lado, o lado das oportunidades, do crescimento constante, e da saída da zona de conforto. «É uma oportunidade de criar o nosso próprio futuro, com recurso a todas as ferramentas novas que aparecem».

Até porque tudo está a mudar muito rapidamente. São várias as consultoras que apontam que cerca de vinte milhões de empregos sejam perdidos para a tecnologia até 2020. «Isso implica que as pessoas estejam mentalizadas de que o emprego requer uma inovação constante, um crescimento crescente e a saída da zona de conforto. O conceito tradicional de trabalho estável acabou».

No entender de Duarte Miguel Freitas, só há uma forma de olhar para esta conjuntura, sendo que o único caminho é abraçar a mudança: tomar consciência de que tudo vai mudar e agarrar a oportunidade. «Temos muita sorte em presenciar este acontecimento e vivermos esta época mágica. Uma época onde tudo é possível, onde as regras do jogo mudam, onde as principais ameaças às empresas são startups, e não multinacionais». O CEO diz mesmo que estamos numa época em que a inteligência artificial já faz muito melhor que os humanos, com um crescimento de qualidade que adjectivou de assustador. «Teremos uma quantidade de ferramentas tecnológicas que funcionarão como uma extensão dos humanos. Os advogados, por exemplo, não precisarão mais de trabalhar na base da pesquisa de conhecimento e serão valorizados com base na especialização. No que toca à segurança, o reconhecimento facial será mais eficiente do que qualquer humano. Multiplicam-se os exemplos em todas as áreas e sectores. O sistema de carros automáticos irá baixar o número de acidentes nas estradas, salvará vidas e mudará drasticamente o modelo de seguros automóveis».

Há que redesenhar processos
Já os negócios terão como base a IoT, conceito que parte do princípio de que todos os objectos poderão ganhar a capacidade de comunicar, realidade alavancada certamente pela tecnologia 5G, que está à porta e pronta para entrar e acelerar ainda mais esta transformação económico-social. «Os negócios serão em tempo real, ninguém aceitará nada menos do que isto, tudo será instantâneo e terá sempre associado tempos de entrega previstos ou tempos de execução projectados, com base em dados fiáveis».

Para o CEO, hoje, as startups têm uma grande vantagem relativamente aos gigantes empresariais: podem ser construídas e desenhadas a partir de novos modelos de negócio, possíveis na realidade actual e com a tecnologia existente. «Se olharmos para o mercado, vemos já muitos exemplos de casos de sucesso a este nível, incluindo multinacionais, líderes mundiais, que não existiam há dez anos. Está na altura de redesenhar processos, negócios e fazer acontecer novos projectos, aproveitando a época de mudança e oportunidade».

Basicamente, Duarte Miguel Freitas diz que uma revolução é uma mudança drástica, é acabar com modelos de negócio de décadas ou até de séculos. «Se olharmos para o exemplo da Uber, vemos que acabou com o modelo tradicional dos transportes, melhorando a qualidade, a segurança e a conveniência. Tudo porque a tecnologia permitiu a existência de smartphones avançados (minicomputadores) com pacotes de dados rápidos e acessíveis, tornando possível uma quantidade de acções que antes não eram sequer imagináveis. Isso impacta a economia e a sociedade, tornando até necessário a criação de novas leis».

Assim, a regra ‘quem sobrevive é quem mais se adapta à mudança’ nunca foi tão verdadeira como nos tempos que correm. «Numa altura em que até o sistema financeiro está a mudar, com a bitcoin e a libra, num mundo onde, todos os dias, lemos novidades em todos os sectores, o resultado é o entusiasmo geral com as novas frentes de oportunidade que se abrem. O empresário de hoje tem de ter o mindset da mudança, porque o que funciona hoje não é certo que funcione amanhã. É uma época entusiasmante para todos e onde temos a enorme responsabilidade de criar valor e um contributo único para um futuro melhor».

Optimismo e preocupação
Os líderes empresariais e governamentais de todo o mundo estão optimistas em relação às mudanças que decorrem da quarta revolução industrial, mas sentem que as suas organizações não estão ainda preparadas para influenciar e aproveitar todas as oportunidades oferecidas, diz o estudo ‘The Fourth Industrial Revolution is Here – Are You Ready?’ da Deloitte.

As questões colocadas aos executivos – centradas em quatro grandes áreas (impacto social, estratégia, talento/ força de trabalho e tecnologia) – mostraram que, apesar de estes perceberem a importância das mudanças inerentes à indústria 4.0, estão menos seguros sobre a estratégia a seguir para aproveitarem todo o seu potencial.

Segundo a consultora, a evolução das tecnologias ligadas à indústria 4.0 está a desencadear rápidas mudanças sociais e económicas, num contexto sem precedentes de conectividade global e de alterações demográficas. «Estou confiante de que os líderes que adoptarem uma visão mais abrangente sairão vencedores nesta nova era», sublinhou em comunicado enviado à imprensa António Lagartixo, que recentemente assumiu a liderança da Deloitte em Portugal. «Irão encontrar várias relações entre o seu negócio e as necessidades sociais; entre os resultados financeiros e as estratégias inovadoras; entre a produtividade e a sensação de estabilidade e bem-estar das pessoas; entre a integração das tecnologias existentes e a criação de soluções completamente novas».