Reportagem

No reino das apps encantadas

Chamar um TVDE pela Uber, pedir uma bifana pela Glovo, marcar um hotel pelo Booking.com, pesquisar o voo pela Skyscanner, apontar tudo no Evernote para que não falhe nada e ver a situação financeira na Toshl. Vale tudo no imenso (e rentável) reino das aplicações.

Diz a Marktest que são mais de nove milhões os portugueses, com mais de dez anos de idade, a utilizarem telemóvel. Feitas as contas, são 96,5% dos residentes em Portugal Continental, sendo que a posse de telemóvel tem registado um crescimento constante nos últimos catorze anos, passando de 76,6% em 2004 para os tais 96,5% observados o ano passado. A taxa penetração destes equipamentos aumentou 26% em 14 anos.Mais interessante é o facto de três em cada quatro telemóveis (6,8 milhões) dos portugueses serem smartphones logo, poderem usar aplicações.

No primeiro trimestre de 2019, segundo o portal Statista, os utilizadores de Android podiam escolher na Google Play entre 2,1 milhões de aplicações. A App Store, da Apple, permaneceu como a segunda maior loja, com 1,8 milhões de aplicações disponíveis. Estas pequenas maravilhas da mobilidade geram receitas de distintas formas, como por exemplo cobrar uma pequena quantia de dinheiro aos utilizadores pelo uso da aplicação (uma média de 0,91 euros por aplicação na Apple Store), cobrar pelo acesso a recursos premium ou simplesmente vender espaços publicitários. Segundo o Statista, os gastos dos consumidores com aplicações de jogos para dispositivos móveis, por exemplo, deverão atingir os 95,5 mil milhões de euros em 2021.

Tendo em conta tudo isto, toda esta imensidão de aplicações disponíveis nas diversas lojas, é óbvio que é muito complicado eleger ‘as melhores aplicações de sempre’. E mesmo seguindo critérios como ‘as apps mais descarregadas’ pode sempre ser uma “armadilha”. Porque, por exemplo, dados referentes a 2018 apontavam que muitas das aplicações descarregadas não eram usadas mais que uma vez em seis meses. Ou seja, eram descarregadas, mas não úteis.

Assim, resolvemos fazer uma coisa diferente: dar “uma volta” pelo nosso telemóvel e ver quais as aplicações que realmente nos fazem falta. Aquelas que, sem dúvida, vieram abrilhantar o nosso dia-a-dia e das quais fazemos um uso efectivo.

A arte de comunicar
Messenger, WhatsApp e Skype. Provavelmente, já nem faz sentido mencionar estas aplicações. É como se fizessem parte de nós. Mas se o critério for o das que usamos mais, então estas devem estar em primeiro lugar. E por esta ordem, até porque estas ferramentas deixaram de ser eminentemente de uso particular. Hoje, comunicamos com colegas, chefias e interagimos com marcas cada vez mais através delas.

Há, ainda, outras duas que têm de ser obrigatoriamente referidas: o Facetime e o iMessage. É que sendo exclusivamente do ‘clube da maçã’, são amplamente usadas pelos seus utilizadores. Viber e Hangouts (da Google). Estas aplicações não precisam de apresentação, servindo basicamente para comunicar (voz e vídeo) desde que haja dados ou Wi-Fi disponíveis.

Cinco em um
Uber, Cabify, Kapten, Bolt e Free Now. Isto se até à ida da businessIT para banca não alterarem de nome, o que tem vindo a acontecer nos últimos meses, de forma regular. No nosso caso, esta é a segunda categoria de aplicações que mais utilizamos, depois das de comunicação. Temos as cinco apps instaladas e já as usámos todas, apesar de a Uber ser a mais requisitada, sobretudo por ser a que mais rapidamente se apresenta disponível com um motorista – provavelmente por ser a que tem maior frota. A Free Now, antiga myTaxi, tem táxis “normais” que aderiram a uma plataforma de agendamento de viagens.

Quanto ao tema ‘preço’, a comparação é complicada, havendo vários factores que o influenciam – o melhor é ver, no momento, qual a melhor opção para determinada viagem. Todas as plataformas permitem ganhar viagens grátis ou descontos através da partilha do código associado à conta.

O estado das finanças
Toshl Finance. Admitimos que esta aplicação mudou a nossa vida… financeira. Pelo menos, a percepção sobre a nossa vida financeira. Depois de experimentarmos várias outras apps do género (Mint, You Need a Budget…), acabámos por nos fidelizar à Toshl Finance. Tanto assim que passado um par de meses até optamos pela versão paga (19,99 euros por ano), já que permite sincronizar com outros dispositivos e colocar, por exemplo, mais do que um rendimento mensal. As categorias de despesas e receitas são personalizadas: podemos criar um orçamento, visualizar e exportar relatórios, tudo de forma bastante intuitiva.

O nosso conselho é que perca algum tempo a estruturar as suas despesas e receitas, crie categorias e marcações adaptadas à sua realidade (já vêm sugeridas muitas, mas cada caso é um caso) e vai ver que tem uma percepção muito mais real sobre os seus gastos, como se de uma empresa se tratasse.

Ai, que me esqueci disso…
Todoist. No campo da produtividade, esta aplicação é um verdadeiro anjo que desceu ao mundo virtual para nos facilitar a vida. A Todoist é, mais que tudo, uma lista de tarefas. Experimentámos várias aplicações deste género, mas a Todoist acabou por ganhar a corrida – apesar de completa, mantém um visual simples, sem confundir. O que distingue esta aplicação é o facto de ser inteligente, sendo que quando adicionamos uma tarefa podemos escrever hoje, amanhã, quarta, entre outros, que a app entende que é uma data. Os projectos, que categorizam as listas, também podem ser inseridos directamente na tarefa, com o uso da hashtag (#). Além disso, é possível criar etiquetas para dar contexto ou um local, usando a arroba (@). No nosso caso, optamos por receber alertas no dia anterior com as tarefas a desempenhar no dia seguinte e tem-se mostrado muito produtivo. A Todoist tem uma versão gratuita que dá para gerir oitenta projectos e ter cinco utilizadpres por cada um deles; depois há a verão Premium (35,99 euros/ano) e Business (59,99 euros/ano).

O elefante de trombas
Evernote. Pensámos muito se deveríamos sugerir esta aplicação. Não porque seja fraca, pelo contrário. É a melhor aplicação do mundo e arredores para escrever, organizar e aceder a notas em todos os dispositivos de forma sincronizada. Tanto assim é, que usamos a versão paga para conseguirmos ter acesso em três equipamentos (computador, tablet e telemóvel). A questão é que há rumores que, após dez anos da sua fundação, a empresa passa por algumas dificuldades devido ao baixo crescimento de utilizadores pagos/activos ao longo dos últimos seis anos. A verdade é que a versão gratuita é super-completa, satisfazendo as necessidades da maioria dos utilizadores. Ainda assim, e como tem sido a nossa companheira de tantas aventuras, achámos justo mencioná-la. É esta aplicação que usamos para tirar notas, memos, guardar moradas ou desenvolver projectos. Um verdadeiro “compincha” de trabalho. Neste caso, e face aos rumores, aconselhamos a que use a versão gratuita.

App de barriga cheia
UberEats e Glovo. Entramos, agora, no capítulo das apps que nos ajudam a sobreviver. Literalmente. Pela nossa experiência, a Glovo consegue ser mais rápida na entrega (encomendámos ao mesmo tempo e este estafeta chegou seis minutos mais cedo), além de cobrar menos pela taxa de entrega. Na UberEats são 2,90 euros enquanto na Glovo essa taxa é, na maioria das vezes, de apenas 1,90 euros. Experimentámos o serviço na cidade do Porto e o número de restaurantes que aderiam já consegue garantir uma ampla escolha. Além do preço da taxa de entrega, outra vantagem da Glovo está no facto de os pedidos poderem extravasar a comida. Desde bens de supermercado até farmácia, passando por um simples recado (levar umas chaves a alguém, por exemplo) tudo é possível, desde que possa ser transportado numa moto ou bicicleta. No capítulo dos recados, as taxas de entrega variam, sendo que nas entregas até 3,9 quilómetros o valor é de 7,50 euros.

Um bom garfo
The Fork e Zomato. Pesquisar restaurantes de forma eficaz e reservar mesa directamente. É o verdadeiro ‘dois em um’ das aplicações. É possível procurar por localização, tipo de cozinha, refeição (almoço, jantar, brunch, etc.), preço médio por pessoa ou avaliações. Depois, é possível fazer a reserva de mesa na própria aplicação, confirmada com um email.

Roupa e cama lavada
Booking e hoteis.com. Tal como na vertente dos restaurantes, também o Booking e o Hoteis.com permitem reservas directamente na app, assim como fazer o pagamento do alojamento. No nosso caso, usamos mais o Booking, já utilizámos esta app umas dezenas de vezes um pouco por todo o mundo e nunca tivemos qualquer situação menos agradável, quer quanto à marcação quer quanto ao pagamento do alojamento. Ainda no sector viagens, os agregadores eDreams e Skyscanner são excelentes para a comparação de preços, nomeadamente de voos, mas convém ter em atenção que no final é aplicada uma taxa sobre o preço. O conselho é usar estes motores de busca, mas depois comparar com o preço praticado nas próprias companhias aéreas.

Em viagem
Google Maps, Waze e Via Michelin. Estas são, provavelmente, outras aplicações que não necessitam de apresentação. Mas têm de ser mencionadas de tão utilizadas que são. Fora desta lista fica o Mapas, da Apple, que sinceramente nos desilude a cada utilização. A Waze é a favorita já que permite aos condutores partilhar com os outros ao seu redor as informações de trânsito e alertas que são precisos a todos os que usam as estradas por esse mundo fora. Na verdade, o Waze foi das melhores coisas que nos aconteceu.

Finalmente, a Via Michelin é ideal para planear férias, trajectos e percursos com antecedência, colocando sempre em destaque os custos em combustível e em portagens, inclusivamente mediante a classe do veículo. Actualmente, esta app já dá informações sobre hotéis, restaurantes, meteorologia, trânsito, tudo combinado com o trajeto que vai realizar. Claro que grande parte destes restaurantes fazem parte da lista do Guia Michelin, numa seleção de mais de trinta mil restaurantes, alguns deles com estrela e cozinheiro de renome