Entrevista

«Hoje, é difícil as empresas saberem quanto gastam em TI»

Entrevista a Luís Urmal Carrasqueira, director-geral da SAP Portugal.

A alemã SAP fez 25 anos em Portugal. Luís Urmal Carrasqueira, director-geral desde 2017, explica em entrevista o conceito de ‘empresa inteligente’ e como isso pode transformar o negócio dos cliente.

Estão em Portugal há mais de 25 anos, antes da digitalização, das clouds, da IoT… hoje o que é a SAP? 

A SAP é uma tecnológica cuja missão é desenvolver e ajudar as empresas nos seus processos de negócio. Basicamente, somos uma consultora da tecnologia.

Os últimos anos foram particularmente dados à mudança, quer do negócio dos vossos clientes mas obviamente do vosso próprio negócio. O vosso ‘core’ mudou? 

A SAP usa e constrói muita tecnologia, mas o DNA da empresa são processos de negócio. Se falar com pessoas da SAP, a tendência para que a conversa vá precisamente nesse sentido é muito grande.

Já se fala em tecnologia 5.0, que vem realçar o factor humano na automatização e sensorização da indústria que caracterizou os últimos tempos. Portugal passou pela ‘revolução’ 4.0? 

Estamos a passar por ela e a desenvolver projectos nesse sentido, nomeadamente ao nível da componente de sensorização e previsibilidade. Os projectos não estão a ser realizados de forma massiva, mas estão a começar a ser cada vez mais comuns.

As empresas sabem quanto gastam em Tecnologias de Informação? 

Hoje, é difícil as empresas saberem quanto gastam em TI, porque já não existe só o orçamento, digamos, central de TI, mas em termos departamentais também existe investimento, o que de resto oferece facilidade e uma rápida resposta ao negócio. Ou seja, é cada vez mais importante haver dentro das organizações uma boa arquitectura e estruturação dos investimentos. Porque o risco futuro já não é de a infra-estrutura ou os datacenter falharem… é mais o risco de apagões de know-how. A complexidade hoje é tanta que vai ser difícil arranjar recursos para resolver determinados tipos de problemas, até pela proliferação de diferentes tecnologias nas organizações.

O que sugerem? 

Que haja um fio condutor, nomeadamente de soluções, o que de resto a SAP designa por ‘empresa inteligente’. Soluções que podem ou não ser SAP, mas que garantam uma base e uma estrutura coerente. Aliás, os modelos de gestão da SAP são todos muito transparentes e, até pela dimensão da empresa, usamos as nossas próprias tecnologias mais recentes. Basicamente, podemos dizer que somos early eadopters das nossas próprias tecnologias, o que acaba por criar alguma robustez relativamente aos produtos que colocamos no mercado. A tal gestão em tempo real que apregoamos enquanto empresa inteligente usamos em nós próprios e isso dá-nos muita transparência. Sabemos dentro da empresa o que é que funciona em cada subsidiária, em cada área de negócio… hoje, a administração da SAP utiliza a solução digital boardroom que, em tempo real, consegue analisar desde os grandes indicadores ao detalhe mais preciso, por exemplo, de uma despesa de viagem. Permite ainda fazer simulações com dados reais. Isto é uma revolução que torna a gestão muito mais eficaz.

Actualmente, o negócio SAP vem, sobretudo, da venda do software? 

Sim, com os processos de consultoria a serem feitos maioritariamente pelos nossos parceiros. Não quer dizer que não participemos em alguns processos, nomeadamente os que envolvem alguma novidade tecnológica ou aos quais particularmente acrescentemos valor. Mas a estratégia da SAP continua a ser assentar o seu negócio nos parceiros.

Quantos parceiros activos têm?

Cerca de oitenta. Temos as grandes consultoras, depois algumas empresas de dimensão local para além de um ecossistema aberto, com parceiros de nicho a serem altamente especializados, seja na área de compras, de produção, de BI… até porque nessas áreas temos muitos concorrentes diferentes.

Actualmente, são vocês que ditam as tendências ou são as necessidades do mercado que guiam a vossa estratégia?

Diria que é um misto das duas. Por um lado, olhamos para o mercado e procuramos identificar e antecipar as necessidades dos clientes. Exemplo disso é que a grande oferta e um dos enfoques da SAP é o que designamos por ‘gestão da experiência’, ou ‘economia da experiência’, porque verificamos que existe uma clara discrepância entre o que é a experiência do dia-a-dia do utilizador, de um funcionário, e as decisões que são tomadas nos conselhos de administração.

A SAP acredita que os modelos disruptivos estão precisamente no ‘gap’ que existe entre o que são os sistemas operacionais e as experiências de utilização. Quanto melhor a empresa estiver ligada à experiência e quanto mais rapidamente conseguir responder maior liderança e mais disruptiva vai ser no mercado. A nossa estratégia é aproximar cada vez mais o que é a experiência do que são os sistemas operacionais. E isso é estar à frente. Aliás, acreditamos que esta é uma área que vai tornar-se numa nova categoria.

Portugal é um mercado pequeno mas muitas vezes apontado como ideal para a ‘experiência’ de algumas tecnologias e abordagens. Como é vista a SAP Portugal pelas restantes sucursais europeias?

A principal diferença é mesmo o volume. Porque em termos de inovação não somos menos inovadores que os nossos colegas. Pelo contrário, até somos é conhecidos por desenvolvermos modelos de negócio e projectos inovadores que muitas vezes servem de referência para grandes projectos internacionais. Na indústria 4.0, que falávamos há pouco, já temos empresas portuguesas a funcionarem sem operários. Normalmente, são estruturas que trabalham com operadores mundiais e que servem de exemplo e acabam por ser replicados lá fora. Ou seja, a SAP é vista como uma subsidiária obviamente do tamanho do nosso mercado, mas em termos de espectro de inovação bastante reconhecida.

Como está o cliente ‘Administração Pública’?

Tem andado… penso que a Administração Pública precisa de algumas reformas estruturais que inevitavelmente estão associadas a investimentos com algum volume. São investimentos que eu acredito vão mesmo ter de acontecer, a grande questão é os governos saberem dar prioridade a esses investimentos.

Em termos de negócio, como decorreram primeiros cinco meses do ano?

O nosso primeiro trimestre foi bom, de resto em linha com as previsões e estamos bastante optimistas para os restantes meses.

Há particularmente alguma área ou sector que tenha estado em destaque nestes últimos tempos?

Uma das vantagens da SAP é que ao actuar em vários sectores não depende em particular de nenhum. Por exemplo, se hoje tivéssemos uma grande dependência do sector público… o que muitas vezes conseguimos é equilibrar os sectores que estão em momentos menos bons com outros que estão a registar um maior crescimento. Claramente que, nos últimos anos, os serviços, o retalho e alguma indústria têm estado bastante activos e transformadores. Os números de Portugal têm estado em linha com os resultados apresentados internacionalmente e temos beneficiado de um bom momento de mercado e uma muito boa adopção da nossa oferta.

Como resume a presença da SAP em Portugal?

Há 25 anos que a SAP Portugal assumiu um compromisso no País que tem vindo a cumprir e renovar. Conseguiu manter durante todo este tempo a confiança e a proximidade com os seus clientes, estando ao seu lado a fazer co-inovação e ajudando-os na sua transformação de negócio. Sempre tendo em vista a criação de valor.