A primeira vez que lidamos com a Infor foi em 2010, num evento que esta empresa norte-americana de software empresarial realizou em Annecy, França. Na altura, há nove anos, tudo andava à volta de uma parceria com a Microsoft. Entretanto, o mundo avançou, o CEO mudou e trouxe toda uma nova filosofia à empresa. Charles Phillips assumiu a ambiciosa estratégia de reformar a Infor. É que apesar de ter uma base de clientes impressionante, as suas aplicações estiveram anos sem serem alvo de investimento. À empresa, faltava liderança e visão. Sobravam-lhe os clientes. A era do CEO Philips veio trazer todo um novo dinamismo à Infor, colocando-a como uma clara alternativa à alemã SAP e à também norte-americana Oracle.
Charles Phillips muniu-se de uma forte equipa executiva e reformulou a estratégia da corporação, investindo milhares de milhões de dólares na criação de uma empresa de software empresarial moderna, voltada para a nuvem… e com design. É que para além da qualidade e robustez do software, a empresa começou a comunicar que queria ter um software «beautiful», ou seja, bonito, um atributo que normalmente não imputamos a um software empresarial. «Somos o fornecedor líder de bonitas aplicações de negócio especializadas por indústria e construídas para a cloud». Uma forma, digamos, diferente de uma software-house se apresentar e que deno alguma irreverência num sector clássico, pelo menos dentro das TI.
A bendita da cloud
Em 2016, em Nova Iorque, onde também estivemos presentes, a Infor dava outro salto e anunciava uma redefinição da sua estratégia de cloud, com um maior foco nos serviços, na rede e na IoT. As aplicações foram «reescritas» para a nuvem, executadas no novo Infor OS, hospedado na Amazon Web Services. Outros desenvolvimentos foram introduzidos ao longo dos anos, nomeadamente numa nova plataforma de BI, após a aquisição da Birst; numa nova plataforma de inteligência artificial (Coleman); assim como houve a importante aquisição da GT Nexus. No entanto, a liderança de Charles Phillips nunca perdeu o foco: são uma empresa altamente verticalizada e com garantida presença na nuvem.
Ser privada ajudou a Infor a investir onde precisava, sem prestar grandes contas a «ninguém». Atraiu ainda clientes de alto perfil nos últimos anos e teve dois investimentos milionários da Koch Industries, o que poderá alavancar a empresa para o que poderá ser um dos maiores IPO (Oferta Pública Inicial) da indústria de tecnologia.
Foco nas pessoas
Em Amsterdão, no seu evento europeu ‘Inspire’, não foram propriamente apresentados produtos ou soluções, tendo o foco sido a estratégia, o negócio mas, sobretudo, as pessoas. Disse Charles Phillips na sua apresentação que apesar dos avanços tecnológicos da última década, a produtividade na Europa e nos EUA aumentou em apenas 8% ou 9%. «Isso significa que as economias não crescem e a prosperidade diminui».
O executivo disse que este aspecto pode ser melhorado, seja aumentando a quantidade das pessoas disponíveis, seja tornando-as mais produtivas. No entanto, argumentou que os fornecedores de aplicações de negócio não costumam colocar as pessoas no centro dos seus planos de desenvolvimento. «Provavelmente temos mais de 100 milhões de utilizadores. E o que está a acontecer é que a definição de trabalho está a mudar, impulsionada pelo facto da tecnologia e da automação estar a mover-se a um ritmo muito acelerado. Podemos tornar as pessoas mais produtivas? Diminuindo as barreiras à entrada para as pessoas aprenderem tarefas complexas? Retirando tarefas mundanas com a automação de processos robóticos? Podemos mudar a maneira como as pessoas trabalham?».
Charles Phillips diz claramente que sim, sustentando que Infor tem uma visão de 360 graus sobre o impacto das pessoas no trabalho. «Sabemos o quão produtivos os colaboradores são. Quem precisa de formação. Dentro das aplicações da Infor, construímos algo chamado Business Graph ao qual podemos conectar pessoas e activos. No passado, cada um dos elementos era construído como um silo, não comunicavam um com o outro. Mas precisamos olhar para a organização de uma forma holística. E nós construímos isso, temos acesso a isso».
Colher os frutos
Em Amsterdão, Phillips confirmou que a empresa se expandiu com sucesso a partir da sua base tradicional de produção e distribuição. A empresa investiu pesadamente nas plataformas de nuvem e de rede e em tecnologias emergentes, como IA ou analítica. Como resultado do investimento, a empresa adicionou três mil recursos às soluções CloudSuite nos últimos 12 meses e confirmou que actualmente possui 1.900 parceiros e opera em mais de 200 países em todo o mundo. Já lá vamos a Portugal.
«Tomámos a decisão de nos concentrar na camada de aplicações onde podemos agregar valor real aos clientes e não entrar no negócio de infra-estrutura», disse Phillips. Uma decisão que parece estar a colher os seus frutos. A empresa tem quase 9 mil clientes, com 77 milhões de utilizadores no Infor Cloud.
De acordo com o CEO, «vimos a revolução da nuvem a chegar e reformulámos algumas das nossas aplicações. Tornámos as nossas soluções nativas na nuvem e realizámos o trabalho de infra-estrutura necessário para torná-las prontas para a cloud». Como resultado, a empresa registou um crescimento de 36% na receita de SaaS. Na EMEA, 25% das receitas vieram das actividades da empresa na cloud.
Nos últimos quatro anos, a Infor investiu quase quatro mil milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento. Phillips espera que a tendência de investimento continue enquanto a empresa procura criar seu próprio ecossistema.
Soma Somasundaram, CTO da organização, sugeriu que a Infor é a única empresa que opera em escala em todo o ambiente da cadeia de abastecimento. «Trabalhamos com empresas que fabricam produtos, enviam produtos e vendem produtos. Tudo isso fica no Infor OS», enfatizou.
O futuro
O objectivo parece claro: a Infor quer concentrar-se no cliente por forma a retê-lo e atrair novas empresas para o seu negócio na cloud. «Até agora tínhamos muitas linhas de negócio e havia demasiada separação entre serviços e licenças. Tudo foi reestruturado de uma forma única», comentava na sua apresentação Charles Phillips.
O evento da Europa, geografia responsável por uns simpáticos 40% do negócio global, ficou marcado pela comunicação de uma aposta em equipas locais, quer na vertente comercial, quer na vertente dos parceiros. Uma vez mais, já lá vamos a Portugal.
Tudo isto levou a uma alteração de equipas, com os principais rostos europeus a mudarem – na verdade, pelo que percepcionámos, a maioria dos executivos que entrevistámos nos últimos anos já nem sequer fazem parte da estrutura da empresa. A justificação foi que a anterior estratégia estava a ficar obsoleta, sobretudo porque estava demasiado focava na base de clientes instalada e não na procura de novo negócio. As novas linhas de acção obviamente não pressupõem o abandono dos actuais clientes – pelo contrário, já que mesmo que não abracem a nuvem a empresa vai continuar a garantir suporte, isto quando alguns concorrentes estão a comunicar que vão abandonar o suporte on-premise – mas há um claro foco em novos mercados e sectores. «Não desenvolvemos soluções standard que depois são adaptadas para cada sector. Criamos ferramentas específicas para cada sector», afirmou Phillips.
Resumo
A empresa está a atrair novos clientes em sectores como a distribuição, a moda e a hospitalidade. E apesar de não ser, agora, tão claramente visto como um fornecedor de ERP de produção e distribuição, não esqueceu as suas raízes. Muitos fabricantes estão a procurar substituir as suas soluções de ERP, pelo que a Infor ainda está bem posicionada para arair estes negócios. Os produtos Infor CloudSuite foram reescritos para permitir que os clientes os adoptem sem terem de adicionar personalização, o que torna o produto mais caro o que, uma vez mais coloca a Infor em vantagem contra os seus rivais tradicionais, dizem os analistas. A empresa continua a apoiar a migração de clientes locais para soluções baseadas em nuvem e é capaz de adoptar tecnologias emergentes, como inteligência artificial (AI). Existe ainda o denominado Infor’s Education Alliance Program, uma rede internacional de futuros profissionais com expertise nas soluções da empresa. Além disso, a Infor parece ter bastante dinheiro no “colchão” pelo que o IPO podendo ser interessante, não parece uma urgência. “Só nos tornaremos públicos se quisermos, somos financeiramente saudáveis”, garantiu Charles Phillips.
Portugal.es
E Portugal? Essa era a grande dúvida que levávamos em carteira. Porque assumindo-se claramente como uma alternativa à SAP ou Oracle, a verdade é que em Portugal a marca Infor não é (re)conhecida como a dos seus parceiros. A empresa pouco comunica no nosso país (em conversa com colegas espanhóis percebemos que o mesmo se passa lá) e o que vamos sabendo é sempre em eventos internacionais como este de Amsterdão para os quais regularmente nos convidam. Ou seja, a tal “regionalização” e proximidade com os mercados locais faça todo o sentido.
Portugal era gerido já desde Annecy, na era pré-Phillips, por Maria João Tavares, mas que parece ter-se reformado. Assim – no mapa do site da Infor Portugal não é tido como um dos países onde actuem – é Espanha que tem entre mãos o negócio luso, como confirmou à businessIT Laurent Jacquemain, responsável para o sul da Europa da multinacional, de resto uma entrevista que publicaremos na próxima edição.
No entanto, a marca tem clientes importantes em Portugal, claramente fruto do trabalho dos parceiros no terreno, com relevantes negócios, a maioria cujo nome não tivemos ainda autorização para divulgar. A Polisport é um deles, um caso de estudo de igualmente apresentaremos numa próxima edição.