Alemanha na liderança
Já o N26 assemelha-se em tudo a uma conta “normal”. Cada cliente tem uma conta bancária registada na Alemanha, com um IBAN que nos permite fazer transferências e receber pagamento como seria qualquer conta bancária tradicional.
O detalhe de ter uma conta bancária na Alemanha não é trivial. O N26 não é um banco alemão com prestação de serviços em Portugal, mas um banco alemão que opera oficialmente na Alemanha e aceita clientes residentes em Portugal. No mundo virtual é um detalhe irrelevante, mas tem algumas implicações práticas: do ponto de vista fiscal, é dinheiro depositado no exterior pelo que tem de ser declarado como tal sempre que superior a 50 mil euros. Isso também significa que a conta é regulada e protegida por instituições alemãs e do fundo de garantia de depósitos (que cobre cem mil euros por entidade pessoa, como o português).
Também é necessário considerar que, como o número da conta é um IBAN estrangeiro, às vezes não será aceite em Portugal. Demos este IBAN a três entidades distintas para pagamento de serviços efectuados e foi-nos dito que só aceitavam contas de bancos a operar em Portugal. Em teoria, isto não devia acontecer: no seio do espaço único europeu de pagamentos (SEPA), o IBAN é um identificador padrão que deve ser aceite independentemente do país da UE a que pertence. Mas, na prática, muitas vezes é necessário que o número da conta seja nacional, provavelmente pelos custos de transferência internacional que acarreta.
Enquanto o cartão Revolut está associado à plataforma Visa, a versão gratuita do N26 oferece um cartão de débito MasterCard totalmente operacional, que é recebido por correio cerca de uma semana após a solicitação. Além de um design transparente original, o cartão pode ser bloqueado instantaneamente na aplicação, de resto como o Revolut. A política de uso inclui cinco levantamentos gratuitos mensais em ATM em todo o mundo.
Não há almoços grátis
Mas se é tudo gratuito, onde ganham estas plataformas dinheiro? O modelo de negócio da banca tradicional é o de beneficiar da diferença de juros entre o dinheiro emprestado (hipotecas e empréstimos) e depositadas (contas de depósito actual e prazo), às quais se juntam as taxas de serviço (por exemplo, por transferências para outros bancos ou divisas) ou pela venda de produtos de terceiros (apólices de seguros ou fundos de investimento). Mas o novo lote de bancos geralmente não oferece empréstimos ou hipotecas.
Assim, primeiro, estas plataformas ganham dinheiro pelos serviços premium que prestam. Segundo, pelo uso dos cartões. Bancos como o N26 oferecem cartões gratuitos aos seus clientes e fazem parte da comissão associada a cada pagamento que o cliente faz com eles. Essa é a razão fundamental pela qual a versão gratuita do N26 exige que o cliente faça pelo menos nove pagamentos trimestrais com o cartão fornecido. Outra fonte de receita é a venda de produtos de terceiros, daí as parcerias com a Raisin ou a Younited.
Mesmo assim, operar um banco não é barato, e menos ainda com o modelo ‘freemium’ proposto pelo N26. Resta ver se o modelo de negócio do banco digital alemão é lucrativo. Não sendo uma empresa cotada, não tem obrigação de ter as suas contas públicas, o que gera certas dúvidas à imprensa especializada sobre a sua capacidade de gerar benefícios. Essa ‘opacidade’ é agravada por episódios como os de há alguns anos, quando a N26 fechou contas de centenas de clientes por ‘actividade suspeita’, que em muitos casos parecia consistir simplesmente em um intensivo de ATM (um serviço que sempre resulta muito caro para o banco emissor do cartão quando o caixa automático usado pertence a um concorrente).
Apesar das dúvidas, levando em conta o ritmo de aquisição dos clientes e as expectativas geradas, devemos estar atentos à evolução destas novas plataformas financeiras. Juntamente com concorrentes como a Revolut, prometem dar mais do que uma dor de cabeça à tradicional banca europeia.