Reportagem

Será que a banca e os seguros estão preparados para o futuro?

A conferência Banca e Seguros 4.0, organizada pela ACEPI, quis dar resposta a esta pergunta e mostrar como estes dois sectores de actividade, tradicionalmente avessos à mudança, estão a realizar profundas alterações nos seus processos e modelos de negócio para abraçar a revolução digital.

A manhã foi dedicada à banca e iniciou com as boas-vindas de Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI, tendo sido seguida pela apresentação do Capgemini World Retail Banking Report. Luis Batista, principal manager de Application Development and Management (ADM) da Capgemini Portugal, indicou que uma ideias chave do relatório é a de que os «bancos têm de se posicionar de forma diferente» e arranjar «novos modelos de negócio» se quiserem oferecer «melhores experiências aos clientes».

Outras das conclusões são apontam para uma realidade onde as API vão ter um papel fundamental no processo de digitalização e que os bancos devem aproveitar, não só sinergias com as fintechs, mas também as iniciativas de open banking, como é o caso da Payment Services Directive 2.

A PSD2 é uma directiva da União Europeia, cujo objectivo é contribuir para a criação de um mercado único de serviços de pagamento na Europa, em que o cliente tem liberdade de dar acesso às suas contas de pagamento a outros prestadores de serviços.

Bancos vs. fintechs

O estudo da Capgemini e da European Financial Management Association (EFMA) revelou também que apesar de possuírem, ainda, uma maior base de clientes em termos globais, já quase um terço dos consumidores usou serviços de fintechs. A verdade é que 91,3 % dos bancos já olha para as estas novas empresas como parceiros enquanto que 4,3% vê-as como competição. Já 18,5% das fintechs vêm os bancos como concorrentes e 75,3% como agentes de colaboração.

Em relação às API, as maiores preocupações das fintechs e dos bancos são semelhantes. A principal diz respeito à segurança dos dados, seguida pela privacidade e pela perda do controle sobre os dados.

Transformação digital é inevitável

Durante o painel dedicado à banca foi destacada a importância de colocar o «cliente no centro das preocupações» e oferecer soluções e produtos «cada vez mais personalizados», assim como a «colaboração com as fintechs».

Rui Negrões, head of digital bank department da CGD, indicou que «a natureza e o âmbito das funções que os bancos têm hoje em dia está claramente em mudança» e alertou que estas instituições «ou se adptam ou vão morrer», sendo que a «colaboração com as startups é fundamental». Para Rosa Santa Bárbara, head of direct baking department do Millenniumbcp, os bancos estão atentos: «A nossa vida está entranhada na tecnologia e a banca não tem estado indiferente a esta nova realidada, mas não é tão ágil nem tão rápida como as fintechs». A responsável referiu que a transformação digital deve ocorrer «interna e externamente, mas sempre com foco nos clientes».

Sérgio Santos, director de banca digital do BPI, referiu que «o aspecto mais saliente da transformação digital é a transformação» e que esta deverá ser assente em «inovação contínua» para que seja bem-sucedida. Lídia Sá, directora da direção de banca direta do Crédito Agrícola indicou que mudança que o sector atravessa é mais uma questão de «cultura da organização» e que é preciso envolver as pessoas. A executiva alertou que é necessário que a banca se saiba «reinventar» para criar «novas oportunidades e modelos de negócio».