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Os novos desafios dos CIO

tecnologias disruptivas

A Gartner identificou alguns desafios para os Chief Information Officer do futuro. Escolhemos três para aprofundar: alinhar as TI com o negócio, a capacidade para actuar em cenários de segurança cada vez mais complexos e o de reter talentos. Depois, convidámos os CIO de empresas portuguesas para nos ajudarem a comentar estes desafios. E não foi, de todo, uma tarefa simples…

A tecnologia evoluiu a um ritmo impressionante ao longo da última década. E o papel dos Chief Information Officer (CIO), também. Aliás, mais que o papel – que em muito continua a ser identificar as soluções de TI mais adequadas e garantir que a infra-estrutura tecnológica da empresa está alinhada com os objectivos de negócio – evoluiu a sua responsabilidade e importância na cadeia executiva empresarial.

Hoje, com a tecnologia e os dados a desempenharem uma função cada vez mais proeminente nas operações de praticamente todo o tipo de negócio, os CIO assumem ainda mais obrigações, muito além da provisão de serviços de TI e manutenção de infra-estrutura. O mundo empresarial “reclama” que o CIO deve criar verdadeiros roteiros estratégicos para optimizar as soluções de TI e alinhar a infra-estrutura tecnológica com os objectivos comerciais. Tudo, reduzindo custos. Sempre reduzindo custos, mas aportando valor.

E num mundo onde os ecossistemas empresariais são cada mais complexos, cabe aos CIO procurar formas de agilizar as operações de TI e desbloquear o valor oculto das organizações. É que ao melhorar os processos com soluções avançadas de TI e uma infra-estrutura mais eficaz, os CIO garantem, assim, que a empresa gere o máximo valor dos investimentos em tecnologia.

Uma coisa parece mais do que certa: tendências como a transformação digital já estão a modificar as relações profissionais e a dinâmica dos resultados de uma empresa. O CIO que compreender mais rapidamente o seu papel estratégico dentro da organização será o executivo que conquistará um lugar cativo ao lado do CEO. Lugar que tem vindo a ser reclamado desde “sempre”.

Prelúdio

Mas melhor que explorar todas as teorias e conjecturas do mundo é ouvir quem está no “terreno”. O que, desde logo, assume ser tarefa hercúlea. Convidamos 22 empresas, dos mais diversos ramos de actividade, para darem o seu testemunho. Convidamos empresas – obviamente que tivessem um CIO na sua estrutura – da indústria hoteleira, grande distribuição, vinhos, transportes, saúde, logística, seguros…

Das 22, apenas três responderam às nossas questões. Questões essas que pretendiam, mais que tudo, perceber quais os desafios que os CIO enfrentam nas suas organizações e que projectos tinham entre mãos. A questão que mais nos colocaram foi: «Pode ser o CEO a responder?». Dissemos que não, que tinha de ser, mesmo, o CIO. O que denota desde logo que, em Portugal, o tal CIO, muitas vezes, ainda não tem o lugar cativo à “mesa” da administração.

 

Os desafios, by Gartner

A Gartner identificou alguns desafios para os CIO do futuro. Escolhemos três para aprofundar. O primeiro é (continua a ser) alinhar as TI com o negócio. O segundo, a capacidade para actuar em cenários de segurança cada vez mais complexos. O terceiro, a habilidade para reter talentos.

Centremo-nos no primeiro desafio: alinhar as TI com o negócio. Diz Carlos Alves, director de Sistemas de Informação da Sogrape Vinhos, que a questão é bastante mais complicada do que parece. Isto porque sendo as TI um factor de desenvolvimento das organizações, são-no não só como suporte aos principais processos internos, mas cada vez mais como facilitador dos processos de inovação e definição de novos modelos de negócio.

«As novas tecnologias são hoje determinantes em todos os processos de envolvimento dos clientes, permitindo novas experiências e na definição de novos modelos de negócio que vão ao encontro das suas expectativas». Por isso, diz o responsável, o desafio não é tanto alinhar a estratégia de TI com a estratégia da organização, mas sim garantir que a tal estratégia de TI faça parte, de forma natural, da estratégia da organização, «partilhando objectivos comuns e definindo linhas de desenvolvimento em conjunto, potenciando a transformação do próprio negócio».

Paulo Rosa, CIO da Chronopost Portugal admite que, sendo as TI uma peça-chave nas organizações dos dias hoje e do futuro – considerada mesmo uma commodity –, são uma peça fundamental para o sucesso do negócio e o seu alinhamento. «Acredito que as TI são um veículo de inovação, flexibilidade e maior produtividade para as organizações, como tal, essa deverá ser a génese das TI dentro das organizações».

Sogrape e o seu Wine Connection

O último projecto que a Sogrape Vinhos teve entre mãos foi o Wine Connection, de transformação digital da enologia, que resultou na construção de uma plataforma que gere os processos desde a uva até ao engarrafamento de forma simples e intuitiva. «Foi um projecto muito ambicioso, em que a inovação e agilidade faziam parte do DNA, não só através do sistema que foi desenvolvido, mas também da utilização de novas metodologias mais ágeis na abordagem ao projecto», disse Carlos Alves.

 

Retenção de talento é crucial

Dos quatro desafios sugeridos pela Gartner, Eduardo Romano, CIO da Liberty Seguros, atesta não ser nada fácil elaborar um grau de importância entre quatro temas. No entanto, e no caso específico de Portugal, assevera que a retenção de talento tem sido um enorme desafio. «Desafio porque a procura excede em larga escala a quantidade (tímida, na minha opinião) de jovens formados nas áreas de tecnologia. Portugal está na moda e não apenas pelo turismo. Os nossos recursos técnicos são cobiçados por muitas organizações estrangeiras que veem em Portugal uma fonte de talento a preços muito competitivos e, regra geral, um bom domínio de outros idiomas».

De resto, esta é uma opinião corroborada quer pela Sogrape Vinhos, quer pela Liberty Seguros. «O mercado está muito dinâmico, existindo falta de recursos qualificados na área das TI. Também não ajuda a instalação em Portugal de empresas multinacionais que são fortes consumidoras de recursos», disse Carlos Alves.

Para contornar esta situação, a Liberty Seguros vê-se obrigada a encontrar outras formas de atrair talentos. «Temos de ser mais disruptivos, aprender a “vender” projectos desafiantes e inovadores. No nosso caso, sentimos que a associação entre o vinho e a tecnologia é um facilitador. São áreas muito interessantes e desafiantes que podem definitivamente ligar-se/conjugar-se e gerar projectos inovadores».

No entanto, continua Carlos Alves, «o maior desafio é mesmo reter, já que é necessário manter os colaboradores motivados e dar-lhes incentivo, algo dinâmico. Reconhecemos que as funções não podem ser estanques, portanto há que procurar novos desafios e projectos interessantes, criando perspectivas de evolução».

Sobre o tema reter talentos, Paulo Rosa, CIO da Chronopost Portugal, acredita que este é um desafio não só para as TI, mas deverá ser uma questão essencial para todas as organizações. «No caso de um profissional de TI este pode trabalhar em qualquer parte do mundo, de forma remota, gerindo o seu tempo e as suas experiências. A parte salarial é, obviamente, importante, mas não será a principal no futuro. Nesta área, estarão pessoas altamente qualificadas para dar apoio à AI, robótica, veículos autónomos, Data Science, entre outros, que terão de estar motivados pelos projectos apresentados pelas organizações e ter o devido reconhecimento». Resumindo: ou os projectos são inovadores e cativantes ou a questão salarial não vai resolver esta questão.