Entrevista

«As empresas não devem ver a tecnologia como uma limitação, mas sim como uma forma de inovar»

SAP - Helle DochedahlHelle Dochedahl

Para a responsável da SAP, Helle Dochedal – VP EMEA South, Heading Center of Excellence and Presales, é importante que as empresas tenham a capacidade para se adaptar às tendências que o mercado vai apresentando – e utilizar a tecnologia como um apoio ao seu negócio.

No seu perfil do LinkedIn, menciona que tem uma «paixão por desbloquear o potencial desconhecido das empresas». O que é que pode ser este potencial?
Acredito muito que a tecnologia e a digitalização podem ajudar a fazer muito mais e melhor a estabelecer ligações entre pessoas e as empresas, no sentido em que, ao olharmos para aquilo que é possível fazer hoje em dia com a tecnologia, com a plataforma SAP Leonardo, por exemplo… Ao fazermos isso, acredito que podemos ajudar os negócios a funcionar melhor.

O que quero dizer com isto é que podemos automatizar as coisas, podemos garantir que usamos os dados, os transformamos e garantimos que, em vez de apenas apresentarmos os dados, também temos uma capacidade preditiva. E isso é a forma de ajudarmos ainda mais.

Além disso, há anos que automatizamos os processos, ao melhorar procedimentos na indústria. Todo esse conhecimento é bom, mas com as novas tecnologias podemos pensar em novas formas de procedimentos e modelos de negócio, para as empresas actuais e para as startups. Hoje em dia, com a tecnologia, as empresas podem ir mais além e é mesmo daí que vem a minha paixão: como é que os novos negócios podem melhorar no futuro, tanto nos seus modelos de negócio como nos seus procedimentos.

 

Hoje em dia, para se ser uma empresa bem-sucedida, independentemente da maturidade da empresa, o que acha que tem de ser uma prioridade?
Acho que é muito importante, antes de tudo, ter uma base, garantir que a tecnologia disponível funciona como um apoio. Pode ser na cloud, por exemplo. Hoje em dia é mainstream, tem todos os standards e necessidades, vai sendo actualizada todos os trimestres… é uma forma mais inteligente de funcionar, do que tendo toda a tecnologia on-premises.

Depois disso, onde as empresas se distinguem e diferenciam, é pensar «o que é que esta plataforma e as mudanças de hoje em dia nos podem dar?». Por isso, é preciso estar a par das mudanças tecnológicas para se ser flexível e ágil na adaptação dos modelos de negócio e processos à actualidade. Não se limitar pela tecnologia, mas sim usá-la como uma forma de inovar.

 

De que forma é que a SAP pode ajudar neste campo?
Hoje em dia, estamos a olhar para tudo, para o core, para onde olhámos até agora, mas com nova tecnologia, novos modelos de implementação que são necessários para algumas empresas. Também estamos a ver todas as áreas que têm ligações àquilo que está ligado ao core: workforce, clientes… é uma solução que vai mesmo até ao utilizador final, é assim que podemos ajudar.

E podemos ajudar os nossos clientes a olharem para a perspectiva do utilizador final e garantir que dão uma experiência competitiva e que estão na linha da frente na forma como se ligam ao cliente final, tendo em conta a sua estratégia e modelo de negócio.

Acho que isto é importante, porque a nossa plataforma e a nossa tecnologia pode ajudar os clientes a utilizarem todos os dados (de IoT, de redes sociais…), e transformá-los em inteligência para as empresas, para apoio à decisão. E é aí que também entra a Inteligência Artificial e o machine learning, também. É um ponto-chave para nós a forma como as empresas se podem diferenciar e pegar em toda essa informação para seguir o caminho certo, poder olhar para uma forma de inovar o negócio e mudar procedimentos.

 

Falamos muito sobre transformação digital, a velocidade da mudança tecnológica e que as empresas precisam de acompanhar esta onda. Para si, o que é que este conceito de transformação digital representa?
Para mim, é uma forma de as empresas estarem sempre a pensar numa forma de mudar. Não é crucial que estejam na linha da frente da inovação, mas é importante que estejam a par da tecnologia. É um pouco como mudar o frigorífico à medida que o consumo energético vai mudando no mercado.

É importante ser ágil para o mundo actual, garantir que é possível mudar – podem não querer mudar, mas ao menos ter a possibilidade para o fazer, caso queiram. É por isso que hoje é importante ter um nível de tecnologia pronto – e é aí que entra o ponto forte da cloud, que se vai actualizando automaticamente e garantindo que os clientes vão acompanhando o mercado.

 

O que é que pensa que vai acontecer às empresas que não se adaptarem a esta mudança?
Não sei o que é que vai acontecer, mas se olharmos para aquilo que se diz, que no futuro as Fortune 100 podem nem estar na lista no futuro… Nem tudo tem que ver com a tecnologia, mas também está ligado ao mindset, à atitude enquanto empresa face às mudanças do mundo. Acho que não vão ser tão bem-sucedidas quanto são hoje, já que a indústria está a mudar.

Olhemos um pouco para trás, para a Blockbuster, por exemplo. Eles ganhavam tanto dinheiro com os atrasos das multas, esse modelo resultava tão bem que fez com que não se actualizassem, que não saltassem para novos modelos dentro da sua indústria. E isto é um truque que as empresas devem ter, a capacidade de saber quando devem saltar.

O mesmo acontece na indústria da música, por exemplo. As empresas têm de pensar em forma de adoptar novos modelos – nem precisam de ser elas a inventá-los – mas têm de saber quando o fazer. Também aconteceu à SAP quando adoptou o negócio da cloud, foi um salto. As empresas mais bem-sucedidas no futuro, para mim, serão aquelas com agilidade e proactividade para adoptar novos modelos na indústria. Há muitas coisas a acontecer e é importante saber o que é que querem fazer. E isto não é exclusivo de apenas um sector, é transversal, há mesmo muita coisa a mudar, é diferente.

 

E assustador?
Sim, é assustador. Por exemplo, tenho um Tesla, e fazer isso, mudar para um carro 100% eléctrico é um grande salto. Mas também é importante adaptarmo-nos: se no futuro quiser vender um carro que usa petróleo, vai ser difícil, poderá não ser rentável. É uma questão de adaptação. E, nas empresas, também é importante isto, mas tendo em conta factores como a força de trabalho. É importante ter um mix dentro das empresas, composto por quem não tem medo de arriscar, mentalidade de startup, por exemplo, pessoas com ideias.

Mas é importante ter também o outro lado, ter sensibilidade para a liderança. Por exemplo, os millennials na força de trabalho, é importante, para que haja ideias; mas também são precisas pessoas como eu. É importante ter diversidade nas empresas e ter a capacidade para captar pessoas mais novas. Porque essas pessoas não se sentem tão limitadas pela tecnologia, porque já nasceram num mundo em que isso existia, era natural. Pensam de uma forma diferente, puxam pelas pessoas, para encontrar uma forma diferente de pensar.