Ninguém parece escapar ao poder dos dados. Seja grande, média ou pequena empresa, todas dependem da qualidade dos dados que dispõem. Mas estará Portugal a investir em ferramentas de Big Data?
A revolução que o Big Data protagoniza já gerou qualquer coisa como seis milhões de empregos, aproximadamente o mesmo número de habitantes da Dinamarca, diz a Allianz Global Investors. Os dados, o poder dos dados, é agora tema de toda e qualquer conferência a que assistimos. Seja porque é o tema central, seja porque o tema é a Internet das Coisas, ou a Inteligência Artificial, ou, ou, ou… lá vamos nós ter, inevitavelmente, ao Big Data.
Aliás, o mercado já apelida os dados de “o novo ouro”, o activo mais precioso das empresas neste novo século. A questão é que os dados são muitos, extraídos das mais diversas fontes, dos mais diversos suportes. Mas serem muito não quer dizer que sejam grande coisa. E por isso, ao gerar cada vez mais dados, a necessidade de afunilar a técnica para analisar e extrair informação de valor é absolutamente primordial. Senão, basicamente estão a ocupar espaço em um qualquer servidor.
Qual o volume de dados que estamos a falar, exactamente? E a que velocidade se produzem? A Allianz Global Investors diz que mais de 90% dos dados que existem no mundo foram criados em apenas dois anos. Nos últimos dois anos, para sermos mais exactos, sendo que o total acumulado e armazenado pelos dados da indústria de Big Data dobra a cada 1,2 anos.
Para isso em muito contribui, e vai contribuir cada vez mais, os quase cinquenta mil milhões de objectos conectados à Internet das Coisas que haverá até 2020, em todo o mundo. Aliás, em termos de aparelhos domésticos inteligentes, deverão aumentar de 83 milhões em 2015 para os 192 milhões já em 2020. E sim, podemos muito bem estar a falar de frigoríficos com ligação à Internet que farão as encomendas de mercearia por nós. Nada do outro mundo.
O mercado apelida os dados de “o novo ouro”, o activo mais precioso das empresas neste novo século.
Além disso, o fenómeno associado à Inteligência Artificial irá impulsionar o aumento de receitas. Receitas que irão passar dos 503 milhões de euros no ano passado para os 30,9 mil milhões em 2025. De resto, é todo um novo mundo que temos à nossa frente. Exemplo disso são as análises de vídeo através de inteligência artificial que podem gerir ameaças e alertar as forças de segurança em tempo real.
Ou o facto de com mais de dois mil milhões de utilizadores de redes sociais, a inteligência artificial conseguir agora filtrar informação complexa para ajudar a priorizar as interacções. Ou, tão simples quanto isto, os milhares de programas que usam inteligência artificial, com potentíssimos algoritmos, que nos ajudam a descobrir mais conteúdos, cada vez mais personalizados.
Tudo isto são dados que, defendem os vários players do mercado, quando devidamente usados e aproveitados, podem gerar receita directa nas empresas.
Timidez lusa
Em Portugal, são ainda tímidos os projetos que as empresas portuguesas implementam para melhor aproveitar a grande quantidade de dados que recolhem diariamente. E são as organizações de maior dimensão que mostram estar mais predispostas para investir em Big Data, confirma o estudo Project Trends Roadmap, produzido pela consultora tecnológica e de negócio portuguesa Infosistema.
Ainda assim, diz este estudo cedido pela Huawei, que é no sector energético que se evidencia uma atenção mais relevante dada a esta temática. Mais de 18% dos projectos de tecnologias de informação e comunicação (TIC) previstos pelas empresas deste sector estão relacionados com Big Data, mas são apenas as empresas de grande dimensão que os inscrevem no lote de projectos a implementar, e sempre a longo prazo. Ou seja, para concretizar daqui a mais de um ano.
São as organizações de maior dimensão que mostram estar mais predispostas para investir em Big Data.
No sector do retalho, há empresas de grande dimensão a apostar neste tipo de projectos, mas são, uma vez mais, aquelas de muito grande dimensão que mais avançam com abordagens relacionadas ao Big Data. Um em cada dez projetos TIC do sector está relacionado com esta temática, mas sempre para implementar num prazo superior a doze meses, concretiza o estudo.
Já no sector financeiro, é possível encontrar empresas de pequena e média dimensão com a preocupação de tratar os grandes aglomerados de dados. Mas os projectos de Big Data não têm peso superior aos 10% no conjunto dos projectos TIC nas empresas deste sector, que não pensam implementá-los nos próximos doze meses.
Relevante é ainda o facto de muitos sectores não disporem ainda de qualquer projecto de Big Data inscrito como prioritário, segundo este levantamento da Infosistema. É o caso dos sectores alimentar, automóvel e construção, entre outros.
Abordagem centrada no cliente
Vamos ao que dizem as empresas com “assento na praça”. Fonte oficial da Vodafone garante que o tecido empresarial português, tal como o internacional, procura tirar valor e conhecimento dos dados para antecipar as necessidades e expectativas dos seus clientes e melhorar as suas experiências. «Neste vasto campo de actuação incluem-se, por exemplo, a gestão de grandes quantidades de informação para a criação de novas ofertas, personalização de produtos e serviços ou a optimização de canais de venda, processos internos e infra-estruturas».
Na Vodafone, a abordagem é «centrada no cliente, actuando sempre de acordo com princípios éticos que conduzem as nossas decisões na análise e tratamento de dados». Esta telco é, de resto, um dos participantes activos na área de Big Data for Social Good, uma iniciativa que tem por objectivo utilizar dados anonimizados e agregados em grande escala para ajudar na tomada de decisões no contexto de saúde pública, transportes e até inclusão financeira.
A empresa de comunicação admite que o volume de dados e as suas origens vão continuar a aumentar para ordens de grandeza superiores às actuais, um aumento que representa, segundo a Vodafone, «simultaneamente, um desafio e uma oportunidade».