No coração de Bruxelas, onde a política europeia se cruza com a ciência e a indústria, o European Institute of Innovation and Technology (EIT) apresentou dois programas de larga escala que prometem transformar a paisagem do talento europeu. A nova European Advanced Materials Academy, lançada durante o EIT Education and Skills Days 2025, é o mais recente pilar da estratégia da União Europeia para reforçar a liderança no domínio dos materiais avançados.
A iniciativa, liderada pela EIT RawMaterials, propõe-se formar 200 mil aprendentes até 2029, num esforço concertado para preencher lacunas de qualificação em sectores críticos como a energia, mobilidade, electrónica e construção. «Com o lançamento da European Advanced Materials Academy, o EIT está, uma vez mais, a mobilizar o seu ecossistema único para responder às necessidades de competências da Europa», afirmou Martin Kern, director do EIT. «Como único organismo de inovação da UE com uma presença forte em todos os Estados-Membros, ligamos o mundo empresarial e a educação no terreno, garantindo formação alinhada com a procura real da indústria. Esta Academia vai dotar os aprendentes de competências em materiais avançados para os empregos de hoje, ao mesmo tempo que prepara a Europa para a liderança global neste domínio estratégico».
O enfoque é claro: criar uma força de trabalho preparada para a inovação, a sustentabilidade e a competitividade. As formações da nova Academia serão modulares, multilingues e acreditadas, cobrindo toda a cadeia de valor dos materiais avançados – desde o design digital e a manufactura aditiva à aplicação de inteligência artificial e à inovação sustentável por concepção.
Moldar o futuro
Para Bernd Schäfer, CEO e Managing Director da EIT RawMaterials, a aposta é mais do que educativa: é estratégica. «A corrida pela liderança industrial europeia será ganha por quem inovar mais depressa, desenhar de forma sustentável e desenvolver talento em escala. Com o lançamento da European Advanced Materials Academy, não estamos apenas a preparar o futuro, estamos a moldá-lo», afirmou. E acrescentou: «Ao envolver duzentos mil aprendentes em toda a UE, estamos a construir as competências e a soberania de que a Europa necessita. A EIT RawMaterials orgulha-se de desempenhar um papel central na ligação da cadeia de valor – das matérias-primas às aplicações mais avançadas – e no desenvolvimento do talento crítico para as transições verde e digital».
A Academia foi formalmente inaugurada por Maria Cristina Russo, directora de Prosperidade da Direcção-Geral de Investigação e Inovação da Comissão Europeia, e por Bernd Schäfer, no segundo dia do evento. O projecto surge alinhado com a Advanced Materials for Industrial Leadership Strategy, lançada em 2024, e com o futuro Advanced Materials Act, previsto para 2026, reforçando também a «Union of Skills» — o esforço transversal da Comissão Europeia para preparar a mão-de-obra para uma economia sustentável e tecnologicamente avançada.
Mas o Education and Skills Days 2025 não se ficou por aqui. No dia seguinte, o EIT apresentou novas iniciativas que alargam a sua intervenção no domínio da formação tecnológica e científica.
Entre elas está a evolução da Deep Tech Talent Initiative, agora transformada em EIT STEM Tech Talent Induction, que já envolveu mais de um milhão de aprendentes em áreas como a inteligência artificial, cibersegurança e cleantech. A ambição é certificar pelo menos um milhão de pessoas em STEM e deep tech até 2028, através de microcredenciais reconhecidas em toda a União Europeia.
Dar competências no feminino
Outra das novidades foi o lançamento do Girls Go STEM, sucessor do programa Girls Go Circular, que já formou oitenta mil estudantes em competências digitais e empreendedoras. A nova versão foca-se nas disciplinas nucleares de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, com o objectivo de formar cem mil raparigas até 2028, contribuindo para a meta europeia de envolver um milhão de mulheres e raparigas em educação STEM.
O EIT anunciou ainda uma nova call no âmbito da Higher Education Initiative (HEI), destinada a reforçar a capacidade de inovação e empreendedorismo das universidades europeias. A iniciativa, que já conta com mais de mil organizações parceiras, pretende formar 200 mil estudantes, docentes e técnicos até 2028, fortalecendo as ligações com as European University Alliances e com as comunidades de inovação e conhecimento do EIT.
Segundo Martin Kern, estas iniciativas são parte integrante da visão de longo prazo do instituto: «Não há inovação sem educação. Com estas iniciativas, o EIT continua a alimentar o motor da inovação europeia – dotando jovens, estudantes e profissionais das competências, da mentalidade empreendedora e das redes de que necessitam para ter sucesso. Ao investir na educação STEM, no talento deep tech e na capacidade do ensino superior, garantimos que a Europa se mantém competitiva, resiliente e capaz de liderar nas tecnologias e indústrias do futuro».
No conjunto, estas medidas integram o EIT Innovation Campus, um portefólio coordenado de educação que visa formar 2,3 milhões de aprendentes até 2028, consolidando o papel do EIT como uma das principais forças motrizes da Europa na formação e valorização do talento científico e tecnológico.
Em Bruxelas, o tom das intervenções deixou claro que a Europa encara o futuro com pragmatismo e visão. A aposta no conhecimento e nas competências é vista como a via essencial para assegurar a autonomia industrial e a liderança global em sectores estratégicos. E, como sublinhou Martin Kern, o diretor do EIT, o desafio não é apenas formar para o futuro, mas garantir que o futuro se constrói com quem aprende hoje.






