Num Directions que regressou ao Centro de Congresso do Estoril após dois anos de pandemia, mas que mesmo assim não perdeu a componente digital, Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC Portugal, falou dos 25 anos do evento e relembrou como sempre foi um fórum de discussão «das principais tendências tecnológicas» e de como estas «influenciam o mercado das TI e os negócios».
O responsável relembrou que em 1997, no primeiro evento, se falava «do crescimento da Internet, do aparecimento do eCommerce, de como novos dispositivos iam criar um consumo da informação diferente e da passagem da segunda plataforma (computadores, servidores, redes) para a terceira plataforma (cloud, mobile, big data e redes sociais)». Em declarações à businessIT, Gabriel Coimbra salientou que esta foi a «melhor edição de sempre com o maior número de parceiros e de participantes: 1500 pessoas no evento físico e mil no digital». Nesta edição, foi claro que todos os players convergem numa tendência: «Vivemos num mundo digital-first, quer na relação com o cliente, quer na forma como operamos e trabalhamos e por isso o digital, mesmo com a crise gerada pela guerra e inflacção, vai ser a área menos afectada e a que mais vai contribuir para o sucesso e resiliência das organizações».
O futuro das TI
O leading executive advisor da IDC Portugal, Bruno Horta Soares, disse que está a acontecer uma passagem da terceira para uma quarta plataforma, constituída por «tecnologias de automação e edge» e que esta computação será «feita pelas máquinas», porque apenas estas conseguem «lidar e compreender com a complexidade gerada pela enorme quantidade de dados disponíveis». É, também, uma plataforma orientada pelos «temas da personalização e das experiências», como o metaverso.
O responsável destacou a «grande visão» do futuro que a IDC lançou recentemente, que se junta ao ‘future enterprise’, o «future of IT», ou seja, em que «as TI são a verdadeira plataforma e o sistema operativo que vai permitir que as empresas sejam efectivamente digital native». Bruno Horta Soares referiu ainda que «as TI, os dados e as tecnologias são (e serão) os factores de disrupção». Já Gabriel Coimbra lembrou que as TI deixam de ser um «centro de custo» e de estar apenas «ligadas à eficiência empresarial»; ao mesmo tempo, passam a ser «responsáveis por novas fontes de receitas, modelos de negócio» e, por isso, pela «sustentabilidade financeira e ambiental das organizações».
Previsões globais
O leading executive advisor esclareceu que o tema da confiança é o «mais importante da agenda dos CEO das empresas», mas referiu outros dois, igualmente fundamentais: «A importância do ecossistema e da inteligência, porque será com dados que as empresas vão ter de mostrar que são confiáveis». Sobre os riscos para o futuro, o responsável sublinhou que as organizações globais indicam «não serem capazes de manter a resiliência face à disrupção, a cibersegurança e problemas que afectem as cadeias de abastecimento»; os líderes das empresas também estão a definir «novos modelos de negócio, sempre com foco no que o cliente quer e no as-a-service». Além disso, as organizações vão investir em «tecnologia que gere receitas e ajuda a atrair talento»; contudo, esse investimento pode «até desacelerar em relação aos últimos dois anos, fruto das vantagens que a automação já trouxe às empresas».
O mercado nacional
Em Portugal, há um desalinhamento em relação ao que acontece globalmente» e o que está na agenda dos líderes, apesar de também incluir a confiança, é a «construção de infraestruturas digitais e a criação de novos canais e experiências para os clientes», indicou Gabriel Coimbra. Segundo o responsável, as empresas nacionais não estão «tão evoluídas» e daí «esta discrepância em relação ao que pensam os CEO a nível global».
O inquérito da IDC realizado aos líderes portugueses mostrou que os dois temas críticos para o futuro são a falta de talento e a cibersegurança e que, em convergência com o que se passa no resto do mundo, os novos modelos de negócio que estão a ser criados também são baseados em as-as-service. Mas este tema ainda está «no início», como revelou o country manager, que acredita que se está ainda a «dois/ três anos de chegar à maturidade das organizações globais» no desenvolvimento de modelos como serviço.
Investimento a crescer
Sobre o investimento, as empresas terão como foco a automação de processos internos para criar eficiência e mais de metade dos CEO nacionais inquiridos diz que vai aumentar «10%» este valor, e «17% indicam que vão aumentar o investimento em mais de 20%». Gabriel Coimbra disse que «a IDC não acredita que vá existir este crescimento de dois dígitos», já que «o impacto da guerra, da inflação e do respectivo abrandamento económico fará com que Portugal cresça menos de 1/3 do que estava previsto». No entanto, explicou que está optimista em relação ao mercado: «A transformação digital vai representar 50% de todo o investimento nacional em tecnologia até ao final de 2025 e o mercado de TI em Portugal irá ultrapassar pela primeira vez os cinco mil milhões de euros. Um aumento de 3,9% face a 2021».A receita deixada pelos responsáveis da IDC para ultrapassar as dificuldades é que se deve usar «a inovação como a arma do futuro» e Gabriel Coimbra explicou porquê: «A inovação é cada vez tecnológica e a única forma de conseguirmos mudar o status quo, de criar valor e resolver problemas, até mesmo os criados pela inflação e pela guerra».