A Conquest One, multinacional brasileira, pretende criar um hub de recrutamento internacional em Portugal para a área das TI. O objectivo é expandir a actividade para o mercado europeu, numa primeira com foco nos países nórdicos. Joana Crispim é a responsável pelas operações no mercado nacional.
Estão a começar actividade em Portugal mas têm uma experiência na área do recrutamento em TI de 24 anos acumulada no Brasil. Que imagem querem passar?
Acima de tudo, queremos passar a imagem de que somos uma empresa de pessoas. Tive a possibilidade de ir à sede da companhia e conhecer a realidade no dia-a-dia e o que somos é mesmo uma empresa de pessoas. Sobretudo, na Conquest One estamos muito direccionados para o talento, seja ao nível da estrutura interna seja ao nível de consultores de profissionais de TI. Além de desenvolvermos soluções digitais de inteligência artificial – sempre assentes no modelo de recursos humanos, como contratação e procura de talentos – temos equipas direccionadas para o acompanhamento quer de clientes e consultores, quer da próxima equipa interna. Posso mesmo dizer que, além das nossas soluções tecnológicas, o nosso core são as pessoas.
Falamos de outsourcing de recursos humanos?
Sim. O nosso foco principal é o ‘hunting’ e outsourcing. Ou seja, encontrar colaboradores, talentos, atrair e retê-los nos nossos clientes. No ‘hunting’, contratamos directamente para os quadros internos do cliente, no outsourcing é o modelo tradicional.
Recrutam na área das tecnologias de informação. Pelos vários estudos a que vamos tendo acesso, sabemos que há uma notória falta de profissionais nesta área. Como é que uma empresa que baseia a sua actuação precisamente neste sector consegue alimentar o mercado? Como atraem os talentos para a vossa carteira de profissionais?
Temos uma equipa de recrutadores que está activamente à procura desses talentos. Somos dezasseis ao nível de equipa interna. Temos igualmente em Portugal um modelo de referência, no qual um consultor pode referenciar outros que sejam da sua confiança, o que acaba por nos dar uma maior agilidade. Temos depois as nossas soluções digitais que assentam em modelos de Inteligência Artificial e, através de algoritmos, pesquisam novos consultores, sempre direccionados para as TI.
Trabalham juntamente com algumas entidades, nomeadamente faculdades, para vos ajudar nesse sentido? Ou o mercado procura em outsourcing, fundamentalmente, profissionais já com experiência?
Sim, quando um cliente recorre ao outsourcing é porque precisa de alguém com experiência que não está a encontrar no mercado. No Brasil temos parcerias com universidades e em Portugal também o faremos, mas este modelo de negócio é, sem dúvida, para profissionais já com experiência.
Falou em atrair talentos mas também em retê-los. Hoje, o que é mais complicado?
Conquistar é difícil, retê-los é ainda mais difícil. Nenhuma das versões é fácil até porque estamos a falar de uma área com muita rotatividade. Mas aposto que reter os consultores é mais difícil.
Porquê?
Porque estamos num mercado muito agressivo, com muita procura e pouca oferta. Basta surgir outra empresa, com melhor expectativa salarial e um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal e… por exemplo, desde que surgiu a pandemia que as pessoas cada vez mais procuram o teletrabalho, este foi um dos factores que este período trouxe de maior diferenciação. E as nossas soluções baseiam-se muito neste acompanhamento online, conseguimos monitorizar todo o desempenho e bem-estar do consultor, esteja no Brasil, em Portugal ou em qualquer outro país do mundo.
Hoje, quais as áreas que vos solicitam mais?
As próprias tecnológicas, banca e seguros.
E pedem recursos com que especialização?
Procuram mais programadores ao nível de desenvolvimento. Têm sido essas as necessidades que nos surgem de forma mais recorrente.
No comunicado de imprensa, assumem que escolheram Portugal como ponto de partida para a internacionalização na Europa. Por quê?
Primeiro, pela afinidade com o idioma. Depois, porque Portugal tem excelentes profissionais. Somos um País que aposta muito na vida académica, temos muitos bons cursos superiores. O mercado internacional, principalmente europeu, procura muitos profissionais em Portugal. A mão-de-obra é mais barata e a excelência profissional é muito valorizada. Apesar de sermos um País pequeno, temos muitos talentos e estão a ter muita procura.
Portugal tem então boas condições?
Temos condições para ser o Silicon Valley da Europa. Temos os melhores talentos, algo potenciado pelo Web Summit, e temos procura, mesmo por parte de empresas europeias. Sem dúvida que Portugal está a ser cada vez mais explorado e daí também esta rotatividade entre os consultores. Embora estejamos na cauda da Europa, somos um excelente ponto de partida.
Os clientes que têm em Portugal são novos ou, nesta fase, estão a acompanhar clientes com operações no Brasil que vieram para Portugal?
É um pouco dos dois. Trabalhamos parcerias com multinacionais e para as quais trazemos toda a relação que existe no Brasil para Portugal e Europa, desde Microsoft, Oracle, Pfizer Bayer… mas sem dúvida que vamos explorar empresas portuguesas. Será um misto, em regime híbrido, das duas estratégias.
Qual a grande diferença entre Portugal e Brasil, para além da sua óbvia dimensão?
No Brasil, por realmente ser um país maior, com um maior número de empresas, os processos burocráticos são mais demorados porque mesmo dentro das empresas há muitos interlocutores. Em Portugal, vamos quase directamente a uma pessoa responsável. A cadeia de decisão é mais curta, além de que é um país pequeno, pelo que acabamos por nos conhecer mais facilmente. Isso é uma grande diferença entre os dois. Cá em Portugal, as consultoras de TI têm muito o modelo de duas equipas: uma de recrutamento e outra de management. No Brasil, a Conquest One está organizada de uma forma muito detalhada: tem uma equipa só de management, outra só de recrutamento, outra que só trata da parte contratual, outra de talento management que está totalmente dedicada ao acompanhamento dos consultores. Isto é bastante diferente do modelo que, normalmente, as consultoras têm em Portugal, no qual o manager faz todo este processo do princípio ao fim. Com o nosso modelo, conseguimos acompanhar as nossas equipas e consultores de uma forma muito mais atenta e humana.
Como vão potenciar a vossa marca?
Neste momento estamos a arrumar a casa. Estamos a dar os primeiros passos, apesar de todo o background que trazemos da empresa no Brasil. Mas o que vos vai diferenciar e potenciar são estas soluções digitais direccionadas para os recursos humanos. Porque são soluções que o mercado necessita e nos permite sermos mais ágeis, dinâmicos e assertivos. Queremos focar-nos e distinguir-nos através precisamente destas soluções. Soluções que podem ser concertadas com a nossa concorrência. Aliás, não nos queremos posicionar no mercado propriamente como concorrentes porque estas soluções também nos permitem criar parcerias com outras consultoras de TI.
Na vossa incursão pela Europa, para onde querem avançar em primeiro lugar? Já têm definido?
Sim, vamos apostar no mercado nórdico, países que têm uma dinâmica de TI muito grande, para além de terem uma cultura muito disciplinada e focada, acabando por se assemelhar à nossa cultura. É um mercado onde queremos estar.
Como gostariam de ver a empresa daqui a três anos?
Uma das nossas estratégias, a curto-médio prazo, é triplicar a base de dados quer ao nível de consultores e clientes.