Entrevista

«Queremos acompanhar as empresas desde o início e ajudá-las a crescer»

Entrevista a Luís Silva, Presidente da Porto Tech Hub.

Luís Silva © Porto Tech Hub

Na 10.ª edição da Porto Tech Hub Conference, Luís Silva faz o balanço de uma década de crescimento do ecossistema tecnológico do Norte e projecta os próximos passos da associação. A aposta passa pela formação, pela cooperação internacional e pelo apoio ao talento emergente.

Dez anos de Porto Tech Hub Conference é um marco importante. Que balanço faz desta década de conferências e de que forma o evento contribuiu para posicionar o Porto como um pólo tecnológico de referência?

Olhamos para estes dez anos com o reconhecimento de quem contou com pessoas que nos ajudaram a suportar este percurso de forma ímpar. Foram todos, tal como o resto da direcção, pessoas que continuam a associar-se de forma voluntária, sem qualquer tipo de retorno económico, e acho que isso diferencia muito a nossa zona.

Inevitavelmente, nestes últimos dez anos, isto ajudou o Porto a afirmar-se como referência no sector?

Sem dúvida. Mas estes dez anos não são só a conferência. Tem sido também um trabalho mais vasto de formação e envolvimento do ecossistema. Temos os cursos Switch que, entretanto, se alargaram a cinco. Fizemos uma parceria com a Católica para criar um curso de Inteligência Artificial dirigido a gestores. Temos cursos de especialização, cursos de qualificação e realizamos bastantes eventos – um por mês com as comunidades –, que hoje estão aqui e têm pela primeira vez o seu palco. Isso é muito importante, porque são elas que dinamizam o ecossistema, também de forma voluntária. Acredito que esse espírito é outro traço do Norte, porque noutras zonas do País, nomeadamente em Lisboa, isso não existe.

Estamos muito orgulhosos por termos chegado aos dez anos com a maior conferência de sempre, com o maior número de participantes, empresas e parceiros. Neste momento estamos também a fazer uma parceria com uma associação tecnológica do Brasil, porque o nosso foco é a expansão internacional. Queremos que esta capacidade de dinamizar o ecossistema vá agora mais além, para o plano internacional.

E vamos poder ver isso replicado onde?

Ainda não podemos revelar, mas vêm aí várias surpresas nesse sentido. Estamos a estabelecer novos protocolos com entidades locais com as quais nunca tínhamos trabalhado, para nos tornarmos mais fortes, nomeadamente com a AEP, o que é algo inédito para nós.

Estamos a alargar os horizontes, para além do que já fizemos nestes dez anos e que consideramos bem feito. A conferência foi um catalisador importante do ecossistema. Pode ter sido coincidência, mas há dez anos o sector tecnológico do Norte, e do país, ganhou grande dinamismo. Não somos os únicos responsáveis, mas com certeza fomos um dos agentes que mais lutou por isso, e de forma voluntária, sem esperar retorno económico. Por isso, estamos muito orgulhosos desta conferência.

A conferência acaba por funcionar quase como um cartão-de-visita para tudo o resto: dá visibilidade, mas integra outros projectos. O que é que podemos esperar mais? Já sabemos que é muito mais do que uma conferência, mas o que podemos esperar da zona e do País?

O que gostaríamos, daqui para a frente, é apoiar o tecido empresarial emergente da cidade de outra forma. Estamos a trabalhar em várias parcerias para potenciar não só as empresas que já estão instituídas, mas também as que estão a nascer. Criámos um segmento de associativismo próprio para startups que precisam de ajuda – em mentoria, em valorização dos seus recursos, em captação de talento. Queremos atrair este tipo de empresas, que estão a crescer e que fazem do Porto um ecossistema vibrante, com espaços como a UPTEC e a Founders2Founders, onde surgem projectos inovadores. Queremos estar mais próximos delas, sem esquecer as empresas já solidificadas, que foram essenciais para chegarmos aqui, como a Blip e a Critical Software, que estão connosco há dez anos. Mas queremos também auxiliar, dentro dos nossos recursos, as empresas que estão a crescer, porque serão elas, no futuro, a dinamizar o ecossistema. E queremos acompanhá-las desde o início.

Estes últimos dez anos foram particularmente interessantes. Vimos as pessoas despertarem para a IA. Sabemos que não é nova, mas o mundo empresarial massificou o seu uso. O que considera mais notável nesta transformação?

Sou talvez parcial nessa questão, mas acredito que a IA só vai funcionar bem quando as pessoas souberem utilizá-la. O mais essencial nestes dez anos foi termos criado condições para que muita gente entrasse no mercado tecnológico e para que quem já cá estava tivesse melhores oportunidades de vida. Sentimos que isso contribuiu para o crescimento do nível de vida na região. Temos mais empresas, mais ofertas e mais concorrência, o que permite às pessoas da nossa zona terem um nível de vida mais elevado, justamente porque há mais condições para o alcançarem.

Hoje fala-se muito em retenção e captação de talento. Que feedback têm, considerando a vossa ligação às universidades e estudantes? Até que ponto ajudam a mostrar o Porto como um bom lugar para se fixar talento?

A cidade fez um excelente trabalho nesse sentido. Tornou-se mais atractiva, mais interessante e com mais talento. Isso faz com que as pessoas queiram fixar-se cá mais rapidamente. A Associação tem aqui um papel importante, porque consegue mostrar às empresas que ponderam instalar-se no Porto – ou na zona Norte – as vantagens de o fazerem. Prefiro sempre falar da zona Norte, porque temos empresas desde Coimbra até Braga. Essa força que a Associação ganhou junto de empresas que estavam indecisas tornou-se muito relevante, até porque somos o único movimento associativo deste género em Portugal. Acolhemos as empresas, as pessoas e o talento de uma forma diferente, e isso cria uma comunidade difícil de replicar noutras cidades.

Há alguma coisa no programa deste ano que destaque em especial?

É difícil escolher entre tantos oradores e temas…Destacamos sobretudo os workshops.

Já no ano passado tinham introduzido essa vertente mais hands-on, certo?

Exactamente. Há uma grande diversificação na nossa conferência porque as pessoas trazem o computador, programam no local com o formador e levam para as empresas conhecimento prático – seja para corrigir erros, confirmar boas práticas ou descobrir novas formas de trabalhar. Mais do que uma conferência de talks, queremos trazer conhecimento real para dentro das empresas, e acreditamos que é através dos workshops que isso acontece. Não destaco nenhum em particular, porque todos são importantes para o ecossistema.

Empresas e mundo académico estão hoje mais próximos?

Muito mais próximos. O nosso ecossistema está em contacto constante com as faculdades da zona Norte, nomeadamente com o ISEP e a FEUP, que são referências. Mas estamos também a expandir colaborações com outras instituições e com as comunidades tecnológicas, com quem realizamos uma série de actividades e cursos que iremos revelar ao longo do ano. A tecnologia não é só programação. Há pessoas que trabalham em tecnologia, mas não programam. Por isso, fizemos também uma parceria com a Católica Porto Business School, para apoiar gestores de empresas tecnológicas, o que é igualmente essencial.

E afinal, hoje nasce primeiro a necessidade das empresas ou a tecnologia que a tenta resolver?

Diria que são as pessoas que criam a necessidade da tecnologia.

E levam essa necessidade para as empresas?

Exactamente. As pessoas são o maior motor das empresas tecnológicas, são elas que identificam as necessidades, os novos paradigmas e as oportunidades criadas por tecnologias como a Inteligência Artificial. São os pivôs e embaixadores dentro das empresas que impulsionam a inovação. Temos visto isso, por exemplo, nos nossos podcasts: um problema identificado numa empresa acaba por ser comum a outra, e através dessa partilha o ecossistema cresce e evolui.

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