Iniciativas como o InvestAI e o Scaleup Europe Fund representam uma «inflexão clara na ambição digital do continente», acrescenta João Carvalho. Esta última iniciativa visa colmatar o défice de financiamento nas fases mais avançadas de crescimento, com mais de dez mil milhões de euros em fundos público-privados e uma meta ambiciosa: permitir que a constituição legal de uma startup leve menos de 48 horas em qualquer país da União. Desde Novembro de 2023 está igualmente em curso o Large AI Grand Challenge, uma iniciativa que concede acesso a supercomputadores e apoio financeiro a startups europeias de IA com projectos de elevada ambição tecnológica.
O apoio público alarga-se também através do EIC Fund (European Innovation Council Fund), que ambiciona angariar até vinte mil milhões de euros até 2027 para investir em tecnologias emergentes. Em paralelo, o programa InvestEU visa robustecer o ecossistema de capital de risco europeu, com o suporte do Fundo Europeu de Investimento e da iniciativa European Tech Champions. A Comissão anunciou ainda a criação do Scaleup Europe Fund, com mais de dez mil milhões de euros em fundos público-privados para apoiar empresas com elevado potencial e colmatar o défice de financiamento nas fases mais avançadas de crescimento. Uma das metas é reduzir o tempo necessário para a constituição legal de uma startup para menos de 48 horas, promovendo a simplificação administrativa em toda a União.
No domínio da tecnologia, para além das gigafactories, a UE está a apoiar projectos emblemáticos como o da neerlandesa AxeleraAI, que recebeu 61,6 milhões de euros para o desenvolvimento de chips de inferência destinados a centros de dados. Este financiamento insere-se numa aposta mais vasta no reforço da computação de ponta e na criação de centros públicos acessíveis a investigadores e startups. «O financiamento está finalmente a acompanhar o discurso político. Mas é fundamental que a burocracia não atrase o acesso a estes apoios, especialmente em fases críticas de crescimento, onde tempo e agilidade são tudo», adverte o economista. Apesar deste impulso, o novo AI Act, em vigor desde Agosto de 2024, tem gerado debate entre os agentes do ecossistema. Embora represente o primeiro quadro legal abrangente para a IA a nível mundial, há quem alerte para o risco de uma regulação excessivamente rígida limitar a capacidade de inovação e a agilidade das startups europeias neste domínio altamente competitivo. «O AI Act é um marco importante, mas a sua implementação precisa de equilíbrio. Uma regulação excessivamente rígida pode comprometer o dinamismo das startups, que precisam de espaço para experimentar, errar e evoluir rapidamente», defende João Carvalho.
Portugal também aposta na IA para o futuro digital
Também em Portugal, o desenvolvimento da Inteligência Artificial tem vindo a ganhar tracção através de uma conjugação de políticas públicas, incentivos financeiros, infraestruturas tecnológicas e um ecossistema empreendedor. A Estratégia Nacional para a IA, integrada no programa INCoDe.2030, traça uma visão até 2030 centrada na educação, investigação e aplicação da tecnologia em sectores-chave da economia e da administração pública. Coordenada por entidades como a FCT, o IAPMEI, o INA e a Comissão de Coordenação da Inovação, esta estratégia pretende posicionar o País como utilizador avançado de IA e fomentar uma cultura de experimentação e adopção responsável.
Neste esforço, têm surgido novos mecanismos de apoio a startups e projectos de base tecnológica. O Governo lançou recentemente o sistema de incentivos Start from Knowledge, integrado no programa «Acelerar a Economia», que concede apoios não reembolsáveis entre dez e sessenta mil euros a empresas emergentes, com prioridade às que desenvolvem tecnologia disruptiva, procuram internacionalização ou se encontram em fase de demonstração.