Em Foco

Startups de IA assumem protagonismo no empreendedorismo europeu

Um quarto de todo o capital de risco investido na Europa já se concentra em startups de inteligência artificial. Portugal começa a posicionar-se na corrida com estratégia, talento e ambição tecnológica.

Freepik

O fenómeno não está circunscrito a um único país, mas é inegável que o Reino Unido continua a liderar o panorama europeu. Com 3,2 mil milhões de dólares angariados no primeiro trimestre, Londres mantém-se como o principal hub de investimento tecnológico, superando em volume conjunto mercados como França, Alemanha e Espanha. Ainda assim, cidades como Madrid, Dublin e Estocolmo têm vindo a afirmar-se como pólos relevantes de inovação, alimentados por rondas significativas em startups de IA e por um ecossistema cada vez mais conectado a fontes de financiamento internacionais. «Londres lidera, mas o fenómeno é pan-europeu. A conectividade entre ecossistemas urbanos e o envolvimento crescente de capital internacional reforçam a ideia de que a IA é um activo estratégico, com implicações políticas e geoeconómicas», afirmou o economista.

A conjugação destes dados sugere que o impulso das startups de IA não é apenas conjuntural. A tendência aponta para um papel cada vez mais central no desenvolvimento económico e tecnológico do continente, com implicações directas na definição das políticas de inovação, nas estratégias dos investidores e na configuração do empreendedorismo europeu como um todo. «Estamos perante um momento de inflexão: quem investir, regular e escalar a IA com inteligência económica terá uma vantagem decisiva na próxima década. E as startups estão claramente a liderar esse movimento», concluiu João Carvalho.

Apoios europeus reforçam a posição das startups de IA
Financiamento directo, infraestruturas de supercomputação, iniciativas de investimento público-privado e simplificação regulamentar. Esta é a abordagem, digamos, multifacetada que a Comissão Europeia tem vindo a adoptar para potenciar as startups de Inteligência Artificial. «A abordagem europeia ao desenvolvimento da Inteligência Artificial está a evoluir de uma lógica reactiva para uma política industrial assertiva. O reforço do investimento público e os mecanismos de cofinanciamento visam reduzir a dependência externa e posicionar a Europa como líder tecnológico», observa João Carvalho.

Na estratégia ‘A European approach to AI’, vemos que os programas Horizon Europe e Digital Europe disponibilizam, todos os anos, mil milhões de euros para projectos de IA, mobilizando investimento privado e dos Estados-membros. O objectivo, lê-se no documento, é atingir os vinte mil milhões de euros até ao final da Década Digital, uma iniciativa estratégica da Comissão Europeia que define as metas e prioridades para a transformação digital da União Europeia até 2030. «A Década Digital é mais do que um plano de digitalização. É uma tentativa de definir soberania tecnológica à escala europeia, e a IA está no centro desse esforço», sublinha João Carvalho.

No âmbito do pacote InvestAI, lançado em Fevereiro de 2025, a Comissão comprometeu-se a mobilizar duzentos mil milhões de euros para o desenvolvimento da IA na União Europeia. Este plano inclui a criação de cinco ‘AI gigafactories’ e de mais de uma dezena de ‘AI factories’ com acesso a supercomputação, vocacionadas para startups, centros de investigação e empresas industriais. «A IA vai melhorar os nossos cuidados de saúde, impulsionar a investigação e a inovação e reforçar a nossa competitividade», afirmou, na ocasião, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. João Carvalho acrescenta que as gigafactories de IA e o acesso a supercomputação são« factores diferenciadores que podem acelerar a maturação das startups europeias»; para o economista, o desafio é «garantir que estas infraestruturas não se concentram apenas em alguns países», lembrando que «nunca a UE colocou tanto capital e recursos estratégicos ao serviço da inovação como está a fazer com a IA».

Deixe um comentário