A IA está a afirmar-se como a força motriz mais relevante no ecossistema de startups europeu, tanto em termos de capital como de impacto transversal. De acordo com o relatório ‘Europe Tech Update – Q1 2025’, da Dealroom, as startups de IA na Europa arrecadaram 3,4 mil milhões de dólares nos primeiros três meses do ano. Este valor representa 25% de todo o investimento em capital de risco realizado no continente, igualando a fatia registada no conjunto de 2024 e evidenciando uma trajectória de crescimento que contrasta com os 7% de quota verificados há uma década.
«O facto de um quarto do capital de risco europeu estar hoje concentrado em startups de IA é revelador de uma mudança estrutural na economia da inovação. Não estamos apenas perante uma tendência tecnológica, mas diante de um novo paradigma de investimento», comentou à businessIT o economista João Carvalho, especializado em inovação e tecnologia. Para o especialista, «há uma década, a IA era uma promessa de futuro; hoje é o motor mais poderoso da nova economia europeia. O salto de 7% para 25% na quota de investimento «mostra como o sector amadureceu e conquistou a confiança dos investidores».
Este desempenho ganha ainda mais relevo por ter sido alcançado num trimestre em que o volume total de investimento em startups europeias atingiu 13,9 mil milhões de dólares. Ou seja, uma em cada quatro unidades monetárias investidas em capital de risco na Europa teve como destino empresas de base tecnológica cuja proposta de valor está assente em IA. Esta concentração não é acidental: o investimento nesta tecnologia cresceu 55% face ao período homólogo, tornando este o segundo trimestre mais forte de sempre em termos de financiamento a startups desta natureza, apenas superado pelo primeiro trimestre de 2022, ano marcado por um pico histórico de liquidez nos mercados globais.
O relatório da Dealroom indica que o crescimento é sustentado por uma maturação progressiva do sector, que começa a ganhar expressão nas fases mais avançadas do ciclo de investimento. Um exemplo é o caso da Isomorphic Labs, uma spin-off da Google DeepMind sediada em Londres, que arrecadou seiscentos milhões de dólares numa ronda de financiamento de capital de risco tardio. Também a Synthesia, focada em soluções de vídeo com inteligência artificial, obteve 180 milhões de dólares numa ronda de série D, reforçando a tendência de consolidação de empresas tecnológicas em segmentos altamente especializados. «O investimento não está apenas a crescer em volume, mas também em sofisticação. Ver rondas tardias de centenas de milhões em empresas altamente especializadas, como a Isomorphic Labs ou a Synthesia, é um sinal claro de consolidação e de retorno esperado em larga escala», sublinhou João Carvalho.
Esta nova vaga de startups de IA está a expandir-se por diferentes sectores da economia, como demonstra o facto de a saúde ter sido a indústria mais financiada da Europa no início de 2025, com diversos projectos a integrarem tecnologias de IA nas suas abordagens. Entre as áreas em destaque incluem-se a biotecnologia, os cuidados preventivos, o treino médico virtual e os sistemas de apoio ao diagnóstico. Para João Carvalho, o impacto das startups de IA «ultrapassa o universo tecnológico» e a sua «transversalidade, da saúde à logística, da educação à energia, torna-as peças centrais na transformação económica europeia e em áreas de forte impacto social».