Relativamente às tendências mais promissoras no ecossistema português, Miguel Mondragão aponta a diversidade e sofisticação crescente das áreas de actuação. «Em Portugal, destacam-se várias tendências promissoras no campo da biotecnologia e inovação em saúde. A biotecnologia marinha tem ganho relevância, com projectos focados no desenvolvimento de novos produtos e processos sustentáveis a partir de recursos marinhos. A saúde digital e a medicina de precisão também têm registado avanços significativos, impulsionados por startups e spin-offs que introduzem soluções inovadoras no mercado». O executivo falou ainda em iniciativas ao nível da medicina personalizada, terapias para cancro e doenças crónicas, bem como para doenças infecciosas. «A área da alimentação tem registado também diversos avanços, com desenvolvimento de novas fontes de proteína a partir de fermentação bacteriana ou da produção de insectos, agricultura celular, novas soluções nutracêuticas, suplementos alimentares, etc.».
Na óptica da colaboração, a P-BIO aposta em várias frentes para aproximar indústria, ciência e regulação. «A associação lançou o plano estratégico Portugal Bio-Saúde 2030, que visa posicionar o país como um centro de investigação e desenvolvimento em biotecnologia e ciências da vida, promovendo a interacção entre os diferentes actores do sector». Recentemente, e em conjunto com o Biocant Park e o laboratório colaborativo AccelBio, a associação conseguiu também assegurar Portugal como o próximo país anfitrião da Bio-Europe Spring, «um dos maiores eventos de parceria nas áreas de Ciências da Vida e da Biotecnologia da Europa, que reúne mais de 3400 participantes, representando cerca de 60 países».
Da sala de aula ao mercado
Na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, a investigação e a ligação à indústria não são dimensões paralelas, mas partes integrantes de um mesmo percurso formativo, explicou Paula Castro, directora da instituição. Desde o primeiro ano das licenciaturas até aos programas de doutoramento, os alunos são envolvidos num ecossistema onde a ciência aplicada, o espírito empreendedor e a colaboração empresarial se entrelaçam com naturalidade.
«Na Escola Superior de Biotecnologia vive-se uma cultura de colaboração entre a investigação e o sector empresarial desde o primeiro ano das licenciaturas até ao final dos doutoramentos», explica. «Estimulamos nos alunos o espírito empreendedor através da participação em concursos e outras actividades nacionais e internacionais, da integração em projectos de investigação aplicada e do apoio ao desenvolvimento de ideias de negócio».
A proximidade com o tecido económico traduz-se numa rede extensa de parcerias e numa orientação clara para a criação de soluções com aplicabilidade real. «O nosso centro de investigação desenvolve ciência muito aplicada, mantemos ligações activas com mais de cerm empresas, temos em curso anualmente muitas dezenas de projectos nacionais e internacionais (dos quais cerca de metade são em cooperação com a indústria) e orgulhamo-nos do nosso hub de co-criação com empresas que alimentam estas ligações estreitas», acrescenta Paula Castro.