A biotecnologia emerge hoje como um dos vectores mais poderosos de transformação económica e social, assentando na convergência entre biologia e tecnologia para desenvolver produtos e processos inovadores que impactam sectores tão diversos como a saúde, a agricultura e o ambiente. Os números confirmam este “poder”: um estudo recente da Precedence Research avalia o mercado global de biotecnologia em 2025 em cerca de 1744,83 mil milhões de dólares, devendo alcançar os 5036,46 mil milhões de dólares até 2034, crescendo a um ritmo anual composto (CAGR) de 12,5% ao longo desse período.
Os especialistas advogam que este crescimento assenta em várias dinâmicas: o envelhecimento populacional e a consequente ascensão de doenças crónicas impulsionam a procura por terapias avançadas; os investimentos em Investigação & Desenvolvimento (I&D) e as colaborações entre indústria e academia aceleram a inovação; e as tecnologias de ponta, de terapias genéticas e celulares a vacinas de mRNA e bioprocessos avançados, continuam a redefinir as fronteiras do possível na medicina de precisão e além. Além disso, a procura crescente por medicamentos biológicos, pela sua capacidade de acção mais específica e menor toxicidade sistémica, sustenta-se num enquadramento regulatório cada vez mais favorável à sua aprovação e comercialização.
Não obstante o enorme potencial, o sector não deixa de enfrentar desafios significativos: a articulação de diferentes frameworks regulatórias, a necessidade de garantir rigorosos padrões de segurança e eficácia, bem como as questões éticas suscitadas por técnicas como a edição genética e a medicina personalizada. Estes factores, reflectem os especialistas da Precedence Research, obrigam as empresas a uma gestão rigorosa da conformidade e do diálogo transparente com stakeholders e sociedade civil. Neste contexto de oportunidades e desafios, é óbvio que a adopção de Inteligência Artificial assume-se como imperativa para a próxima vaga de inovação em biotecnologia. Os analistas insistem que a IA permite acelerar o despiste de candidatos a fármacos, optimizar processos de fabrico, analisar grandes volumes de dados genómicos e clínicos e antecipar resultados terapêuticos, potenciando uma medicina verdadeiramente personalizada.
Impulso à competitividade
Um dos maiores desafios da biotecnologia, aliás, da saúde em geral, reside na capacidade de converter conhecimento científico em soluções com impacto real na vida dos cidadãos. Neste plano, o papel de entidades agregadoras tem sido fundamental para fomentar a valorização do conhecimento e a articulação entre investigação académica, tecido empresarial e sistema de saúde. Joaquim Cunha, director executivo do Health Cluster Portugal (HCP), sublinha que este desígnio esteve na origem da própria criação do cluster, em 2008, e continua a nortear as suas actividades. «É hoje claro o diagnóstico que aponta a menor capacidade em valorizar o conhecimento – no caso da saúde, transformando-o em produtos e serviços que vão de encontro às efectivas necessidades do mercado, ou seja, dos cidadãos e, em particular, dos doentes – como o grande ponto fraco do nosso país e, de uma forma geral, da Europa, em termos da sua competitividade global», afirma Joaquim Cunha.
O responsável admite que, desde a sua fundação, o Health Cluster Portugal assumiu como missão «contribuir para uma maior competitividade da cadeia de valor nacional da saúde através da valorização do conhecimento gerado e disponível nas universidades, nos institutos de investigação, nos hospitais e nas empresas, num quadro de desenvolvimento económico e social, de sustentabilidade e de mais e melhor saúde para todos», acrescenta.