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Profissões em ascensão “dominam” força de trabalho em Portugal

Quase um quarto dos trabalhadores portugueses está em profissões com elevado potencial para tirar partido da inteligência artificial e, simultaneamente, protegidas contra o risco de automação, revela um novo Policy Paper da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Nguyen Dang Hoang-nhu/Unsplash

Quase um quarto da força de trabalho em Portugal está em ‘Profissões em Ascensão’. Esta é uma das conclusões do mais recente Policy Paper da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que analisou a fundo os efeitos da IA) e da automação na estrutura da força de trabalho portuguesa. A investigação explora, não só as profissões e sectores com maior potencial para se beneficiarem destas novas tecnologias, mas também as que correm um risco acrescido de serem substituídas ou profundamente transformadas.

O documento indica três grandes categorias, cada uma com graus de exposição diferenciados à IA e à automação. As ‘Profissões em Ascensão’ correspondem às ocupações que conseguem tirar partido de soluções avançadas de IA, mas que não são facilmente substituídas pelas máquinas. Estas funções, frequentemente ligadas à análise de dados, programação, gestão de projecto e comunicação, reforçam a importância de competências humanas complementares à tecnologia, explora o documento. O relatório assinala, com algum optimismo, que quase um quarto dos trabalhadores portugueses se encontra neste perfil.

Por outro lado, cerca de 30% dos trabalhadores em Portugal exerce o que o estudo designa de ‘Profissões em Colapso’, isto é, funções com elevada probabilidade de substituição, pois muitas das suas tarefas são rotineiras e facilmente automatizáveis. Para este grupo, o relatório recomenda estratégias de requalificação e formação contínua, capazes de mitigar o impacto das transformações tecnológicas no emprego.

Profissões em ascensão podem aumentar
Existe ainda um terceiro grupo, o ‘Terreno dos Humanos’, onde a investigação identifica as ocupações como «altamente complementares à IA», uma vez que exigem, sobretudo, competências de empatia, criatividade, pensamento crítico e interacção humana. Um dos elementos mais encorajadores apontados pelo Policy Paper é que muitos dos trabalhadores que se encontram em ‘Profissões em Colapso’ têm, afinal, competências já próximas daquelas requeridas no ‘Terreno dos Humanos’.

Para ilustrar o alcance destes dados, Hugo Castro Silva, um dos autores do relatório, realçou à businessIT a ambiguidade das descobertas: «Foi uma surpresa positiva verificar que quase um quarto da força de trabalho está em ‘Profissões em Ascensão’ – aquelas que apresentam elevado potencial para beneficiar dos efeitos transformativos da IA, estando ao mesmo tempo protegidas dos efeitos destrutivos da automação». Para o autor, esta proporção poderá, até, aumentar, tendo em conta o crescimento sustentado das qualificações médias dos trabalhadores. «Por outro lado, foi uma surpresa negativa constatar que cerca de 30% dos trabalhadores se encontram em Profissões em Colapso, com elevado risco de substituição e baixo potencial de complementaridade com a IA», ressalvou Hugo Castro Silva.

O resultado que mais surpreendeu positivamente o autor foi perceber que muitos dos trabalhadores das ‘Profissões em Colapso’ terem competências relativamente próximas das exigidas em profissões do ‘Terreno dos Humanos’: «Isto significa que, com esforços moderados de requalificação, é possível que consigam transitar para ocupações menos ameaçadas pela automação».

O Policy Paper da FFMS sublinha a importância de programas de reconversão e formação profissional, tanto públicos como privados, capazes de apoiar a transição de milhares de trabalhadores para áreas de maior valor acrescentado. O documento sugere ainda que as empresas devem apostar numa adaptação tecnológica «mais ampla», não se limitando à adopção de equipamentos automatizados, «garantindo oportunidades de actualização de competências aos seus colaboradores».

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