O EIC Summit teve dois dias: o primeiro, foi dedicado aos beneficiários dos apoios com diversos workshops temáticos: o segundo à sessão plenária com a entrega dos European Prize for Women Innovators. Michiel Scheffer, president of the board do EIC, explicou que o evento é «uma celebração da inovação» e que os objectivos da entidade são «apoiar a inovação de alto risco e de elevado impacto das deep tech, ligar os ecossistemas de inovação europeus, nacionais e regionais, simplificar a jornada dos inovadores, promover a experimentação e ampliar o Fundo EIC».
Já Ekaterina Zaharieva, comissária europeia para as startups, investigação e inovação, revelou os resultados do EIC Impact Report 2025. O estudo mostra que a organização europeia já apoiou mais setecentas startups e PME de deeptech num valor de seis mil milhões de euros.
Assim, o Fundo EIC investiu, desde a sua criação em 2021, «em mais de 150 rondas de financiamento, sendo que sessenta das quais se realizaram em 2024», destacou a comissária. Este instrumento atraiu ainda com sucesso «mais de 1,6 mil milhões de euros em co-investimento em rondas de capital directo, o que equivale a mais de três euros de investimento adicional por cada euro de investimento pelo EIC», referiu.
As empresas que receberam um investimento do Conselho Europeu conseguiram, ainda, atrair mais de doze mil milhões de euros de investimentos adicionais, principalmente de capital de risco. Além disso, em média, as empresas apoiadas pelo EIC registaram um aumento de 50% no emprego e no volume de negócios no prazo de dois anos após terem recebido um prémio desta organização. Em termos de áreas financiadas, Ekaterina Zaharieva salientou que a principal foi a de «semicondutores quânticos e semicondutores, com 850 milhões de euros», seguida da IA, com «725 milhões» e das soluções de «produção e armazenamento de energia, com 700 milhões».
Unidade é fundamental
A comissária europeia deixou alguns avisos para o futuro: «Apesar de se ter dado um grande passo num curto espaço de tempo, não nos podemos dar ao luxo de carregar no botão de pausa. A nossa competitividade está em jogo. Temos de fazer o nosso melhor, começando por colmatar o défice de inovação, tanto em relação aos EUA como à China».
A responsável disse que ficar para trás na inovação é «uma das maiores ameaças à segurança económica europeia» e que o objectivo deve ser «fazer da Europa o melhor destino para os inovadores», sendo que esta deve ser «uma missão comum» de todos os Estados-membros.
Ekaterina Zaharieva esclareceu que a Comissão Europeia está a «preparar a primeira estratégia de startups e scaleups da Europa», porque«o financiamento é «apenas parte da solução», destacando aquilo que é ainda necessário fazer: «Temos de simplificar e harmonizar a regulamentação para permitir que os nossos empresários prosperem na Europa. Vamos introduzir um estatuto único e atractivo para as empresas inovadoras em toda a União Europeia, o chamado 28.º regime. Juntos, podemos tornar a Europa mais forte, mais autónoma, mais próspera e o melhor lugar para o talento trabalhar e desenvolver-se».
A comissária finalizou a sua intervenção falando da importância da unidade: «É realmente crucial concluirmos o mercado único, porque temos de perceber que não podemos competir uns com os outros. Temos de acabar com a fragmentação e facilitar a expansão dos nossos inovadores pelos Estados-Membros e parte disso é exactamente este fluxo livre de talento, de investigadores, de ideias, de conhecimento».
Importância da livre circulação
O painel mais relevante do evento contou com a participação de Enrico Letta, dean da IE e presidente do Instituto Jacques Delors. Este responsável disse que a fragmentação é um «problema» e frisou, tal como a comissária, a necessidade de «fazer um mercado único», caso contrário «não é possível escalar e a Europa ser maior». O também antigo primeiro-ministro italiano explicou que há dois grupos de países: os «pequenos e outros que não sabem que são pequenos».
Enrico Letta afirmou ainda que, quando o mercado único foi criado, inicialmente, a Europa er«a o centro do mundo» e que, nessa altura, a economia era «diferente e o mercado era constituído por quatro liberdades: a circulação de bens, serviços, capitais e pessoas». Agora, é preciso «incluir os intangíveis, ou seja, a quinta liberdade». Estes dizem respeito à «inovação, ao conhecimento e às competências». O responsável frisou também a questão do 28.º regime: «É muito importante para ultrapassar a complexidade da regulamentação e a burocracia criando um regime legal europeu único, que funcione como uma espécie de via rápida para a inovação».
Carlos Moedas, que também esteve presente neste painel, lembrou que a Europa «já foi líder» da inovação e deu como exemplo «o início da Internet» e empresas como a «Siemens ou a Ericsson». O presidente da Câmara Municipal de Lisboa falou da necessidade de «contar as histórias» para ajudar a «escalar» as ideias e disse que a Europa tem de «comunicar os seus casos de sucesso de forma diferente». Carlos Moedas, que já foi comissário europeu da inovação, sublinhou que é possível voltar a liderar, mas que, para isso, a Europa tem de «ser mais ágil e ter menos burocracia».
A Unicorn Factory foi, também, um dos temas abordados por Carlos Moedas: «Funciona como um pipeline de talento e inovação», sendo que esta última é a «única forma de criar emprego». O presidente da CML referiu que gostava de ver uma «fábrica de unicórnios em todas as cidades da Europa», já que seria uma estratégia para «aumentar a altura de uma pirâmide é preciso alargar a sua base», fazendo uma analogia do vértice com a Europa e da base, com as cidades.