A sétima edição do Building The Future ficou marcada pelo regresso ao Pavilhão Carlos Lopes e à duração de apenas um dia. O sucesso da conferência dedicada à transformação digital ficou patente no número de participantes: mais de sete mil pessoas, presencialmente e online. Na abertura, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, salientou que a inovação é «central para a produtividade da economia», um «elemento diferenciador e a única forma de criar de emprego». O responsável deu o exemplo da Unicorn Factory, que já atraiu «setenta empresas e criou mais de dezasseis mil oportunidades de emprego», assim como dos hubs daí decorrentes, como é o caso do AI Hub, da qual faz parte a Microsoft. Carlos Moedas referiu ainda que a Europa «se pode posicionar no mundo como o lugar onde as pessoas acreditam que a IA existe para o bem da humanidade e não para a substitur»; o presidente da CML acredita ainda que a esta tecnologia vai «ser essencial no futuro, quer no trabalho, quer na saúde e a salvar vidas».
No ano em que a Microsoft comemora cinquenta anos, Andrés Ortolá, general manager da tecnológica, em Portugal, falou da «importância da capacidade de pegar na inovação e de a difundir através da rede de processos empresariais, para criar valor». O responsável lembrou que há países que tem «maior capacidade de inovar», mas que «não são tão bons a pô-la a trabalhar para a sua economia»; depois, há outros que são «melhores a difundir a inovação e não a criá-la». O director-geral disse que Portugal tem esta oportunidade porque a tecnologia está no País e «pronta a ser utilizada», deixando um recado: «Temos de trabalhar arduamente para a difundir rapidamente, mais depressa que outros mercados, e garantir que todos tiram partido da tecnologia. Sabemos que não vai ser fácil, mas precisamos de trabalhar em conjunto».
Copilots e agentes de IA
O general manager da Microsoft Portugal assegurou que a tecnológica acredita que, «em breve todos os utilizadores terão um Copilot e todos os processos das empresas terão um agente», o que conduzirá a um «aumento da produtividade». Andrés Ortolá assegurou que, em Portugal, há clientes que estão a fazer «grandes coisas com a IA»; o seu avatar, com quem partilhou o palco, deu alguns exemplos, entre os quais o do Hospital de Santa Maria, em que os profissionais de saúde «pouparam 40% de tempo na realização de relatórios clínicos com ajuda da IA».
O responsável indicou que, de acordo com a Organização Mundial do Comércio, nos próximos cinco anos, 8% dos empregos desaparecerão», mas que isso não é razão para alarme, pois mais «14% serão criados» e salientou a importância das competências: «Ao olharmos para o futuro, vemos que é aqui que temos de investir para criar capacidade para Portugal. Temos de continuar a formar pessoas para que possam, efectivamente, trazer a inovação de volta ao nosso sistema económico e criar o valor».
A Microsoft quer contribuir para esta missão e Andrés Ortolá anunciou o Microsoft’s AI National Skilling Program com o objectivo de «formar seis milhões de pessoas para as novas competências de inteligência artificial». A tecnológica vai, ainda, ter preços especiais para PME, mentoria para empresas em colaboração com a Nova SBE e a sua AI Innovation Factory, além de um programa de televisão chamado AI Global, no qual vai partilhar dicas de como se pode adoptar a tecnologia no dia a dia e «aproveitar a oportunidade» da IA.
Máquinas e humanos
Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez e especialista na interacção entre humanos e máquinas, esclareceu que estas «não são perfeitas, mas melhores em algumas tarefas»; por isso «estão a ser mais bem-sucedidas que os humanos em muitas áreas, já que cometem menos erros». Contudo, salientou que são as pessoas que «definem os problemas e fazem as perguntas» e que esta é, «provavelmente, a maior força» dos humanos.
Kasparov referiu ainda que a «colaboração humanos/máquinas necessita de melhores processos e que IA deveria significar «inteligência aumentada», explicando o motivo: «As máquinas tornam-nos mais fortes e mais rápidos. Não me parece que devamos ignorar o facto de máquinas inteligentes poderem tornar-nos mais inteligentes. O nosso papel passa por geri-las e orientá-las de forma a criar oportunidades».
Além disso, a tecnologia tem de estar assente em «interfaces inteligentes e low-code», pois isto requer «menos formação e reskilling das pessoas para a próxima geração de empregos» que vão surgir com a inteligência artificial. O especialista sublinhou que a IA «vai fazer tarefas rotineiras, libertando as pessoas para serem mais criativas e estratégicas, ou seja, mais humanas». É por isso que, como humanidade, «vamos sempre ganhar» com a IA. Garry Kasparov recordou que «há certos custos a pagar», mas que não se deve tentar abrandar o processo e a tecnologia: «Correr riscos é arriscado, mas não correr riscos é muito mais arriscado». O campeão mundial de xadrez, que lembrou nunca ter perdido um jogo até ter defrontado o computador Deep Blue, deixou uma mensagem animadora: «Não estamos a ser substituídos, estamos a ser promovidos».
Uma IA transversal
O presidente da Microsoft Western Europe, Joacim Damgard, sublinhou que a Microsoft «continua a investir na construção da infraestrutura de IA necessária para garantir que esta tecnologia seja acessível e impactante para todas as organizações». O responsável falou do potencial transformador da IA em vários sectores, destacando o papel na resolução de desafios globais como a «instabilidade política, a inflacção e as alterações climáticas». Por outro lado, afirmou que a inteligência artificial está posicionada como a «próxima tecnologia de uso geral», ou seja, «semelhante à imprensa e à electricidade» ,já que vai ser «capaz de revolucionar o trabalho, a vida privada e a indústria». O presidente da Microsoft Western Europe falou do compromisso da empresa em «criar uma IA responsável» e do papel da Secure Future Initiative neste processo: «Estamos a reconstruir a forma como concebemos os nossos produtos porque percebemos a influência que a IA vai ter. Por isso, destacámos 34 mil engenheiros para redesenhar o nosso conjunto de tecnologias de forma a sermos totalmente seguros».
Joacim Damgard voltou a “bater na tecla” das competências: «A IA nunca irá arrancar verdadeiramente, a menos que nós, nesta sala, e as pessoas lá fora, percebam que a IA será como a electricidade. Estará em todo o lado. Investimos muito dinheiro em capacidades e competências de IA, porque acreditamos que, se não a compreendermos, se não soubermos como funciona, se não conseguirmos interagir com ela, não a utilizaremos. Por isso, todos precisamos de adquirir competências». O responsável disse ainda que, mais que mostrar o que a IA faz hoje, é essencial «demonstrar o que poderá fazer no futuro e como vai transformar a vida das pessoas».