Discurso directo – Que implicações tem no negócio o facto de os dados não serem considerados “propriedade” pelas seguradoras?
Pedro Corista | Capgemini Portugal
«Num mundo onde a digitalização de informação ganha cada vez mais relevo, a perda de dados implica um impacto crítico na operação de um negócio. A tendência de mercado é que as empresas precisarão de seguros específicos para proteger os seus dados (da mesma forma que algumas seguradoras já fazem para cyber attacks) já que as apólices tradicionais não cobrem intangíveis. Ao não considerar dados uma propriedade, as seguradoras não estão a assegurar um activo crítico para as empresas e que hoje em dia já começa a ser duramente regulamentado por normas de protecção de dados (ex: GDPR e AI Act)».
João Anastácio | Accenture Portugal.
«Num contexto empresarial cada vez mais dependente de dados e tecnologia, ao não considerarem os dados como “propriedade”, as seguradoras expõem as empresas a desafios significativos. Sem a protecção de seguros tradicionais para incidentes de quebras de segurança ou perdas de dados, as empresas ficam mais vulneráveis financeiramente, enfrentando perdas não cobertas e custos acrescidos para, por exemplo, contratar seguros cibernéticos especializados, que frequentemente oferecem uma cobertura limitada e condições rigorosas.
A valorização das empresas pode ser afectada, e os custos de financiamento podem aumentar, à medida que investidores e agências de crédito percepcionam maior risco em negócios altamente dependentes de dados. Em muitos casos, torna-se necessário alocar mais recursos para medidas de mitigação e protecção de dados, o que pressiona os orçamentos de IT e desvia fundos de outras áreas estratégicas. Isso é essencial para cumprir exigências regulatórias, reduzir a exposição a questões legais, mitigar potenciais danos reputacionais significativos e evitar a necessidade de activar planos de continuidade de negócio com recursos próprios sem o suporte das seguradoras, o que muitas vezes se revela insustentável. Esta situação pode restringir a capacidade de inovação das organizações, dificultar colaborações e parcerias, ameaçar ecossistemas empresariais e cadeias de fornecimento, e até aumentar os riscos de subsistência dos negócios».
Hugo Dionísio | NTT DATA Portugal
«A inexistência de coberturas sobre dados pode ter implicações severas nos negócios, por não cobrirem perdas significativas associadas a violações de segurança, perda de dados críticos e ataques de ransomware, obrigando as empresas a suportar os custos totais de recuperação e mitigação em caso de incidentes. Isso leva a uma maior incerteza financeira e a uma potencial vulnerabilidade a riscos cibernéticos e operacionais. Sem a cobertura de seguro adequada, as empresas ficam expostas a impactos financeiros significativos, decorrentes de problemas com os seus dados, o que pode afectar seriamente a sua estabilidade e operações».
Luís Gregório | IBM Portugal
É preciso ter em atenção a que tipo de dados nos estamos a referir e que na Europa os dados pessoais serão sempre propriedade do cidadão, a quem dizem respeito, e a organização é seu fiel depositário e garante do seu bom uso. Independentemente do tipo de dado e da sua propriedade, a primeira implicação está relacionada com a segurança dos dados e os negócios não podem partilhar esta responsabilidade através de um seguro.
Outra implicação relacionada com a concentração da responsabilidade dos dados na organização leva a que as organizações definam uma prática de remover dados o mais rapidamente possível para baixar custos e limitar a exposição ao risco. Isto faz com que as organizações limitem os insights que extraem dos dados e, logo, diminuam o seu valor.