Dizem-nos constantemente que os dados são o activo mais valioso da nossa economia digital. No entanto, nos mundos da contabilidade e dos seguros, os dados não são um activo formal, nos livros. Não é um objecto com valor tangível, como um servidor ou um edifício.
Este estatuto parece invulgar, uma vez que as pessoas e as empresas compram e vendem produtos de dados e há uma grande dependência de competências baseadas precisamente em dados, como a inteligência artificial (IA) e a análise avançada. Os profissionais de tecnologia e de negócios defendem, assim, que os dados devem ser tratados como um activo indispensável e tangível de valor variável, mesmo que não estejam nos registos contabilísticos.
Pedro Corista, da Capgemini Portugal, admite que, com o processo de transformação digital, o conceito de dados tem vindo a ganhar um papel de destaque devido ao seu potencial de gerar insights e, consequentemente, de produzir valor. O responsável explica que os dados não são formalmente reconhecidos nos balanços das empresas, devido à falta de normas contabilísticas e claras para a sua valorização: «Tal acontece porque os critérios tradicionais são difíceis de aplicar a este tipo de activo que, por natureza, é volátil e dinâmico, com variações na qualidade e quantidade de valor que se pode extrair».
A mesma opinião é partilhada por João Anastácio, da Accenture Portugal, que assume que, nos últimos vinte anos, a capacidade de gerar, recolher e analisar dados evoluiu a tal ponto que dominar estes aspectos é agora crucial para o sucesso nos negócios: «As organizações que conseguem tirar partido eficaz dos dados obtêm vantagens significativas, melhorando a tomada de decisões, optimizando processos e inovando em produtos e serviços». No entanto, João Anastácio esclarece que, apesar do rápido avanço na produção e utilização de dados, a sua valorização continua a enfrentar desafios importantes: «Esta dificuldade em reconhecer universalmente o valor dos dados deve-se à falta de normas contabilísticas adequadas. Os dados são activos intangíveis e as regras contabilísticas que deveriam reflectir o seu valor económico não têm acompanhado o seu crescente impacto e importância».
Como resultado, defende o especialista, os dados não são contabilizados nas rubricas de activos dos balanços das empresas: «Assim, enquanto os dados se tornam cada vez mais fundamentais para a competitividade e sucesso das organizações, as práticas contabilísticas permanecem desactualizadas, não reflectindo com precisão o valor crescente desses activos intangíveis essenciais». Esta discrepância entre a realidade digital e as normas leva a uma necessidade urgente de revisão e actualização das normas contabilísticas. Apesar da sua importância crucial, os dados são um activo intangível e não existe actualmente uma forma precisa de avaliar o seu valor, pois diferentes tipos de dados possuem valores distintos e este pode ter grande volatilidade, acrescenta Hugo Dionísio, da NTT DATA Portugal: «A sua definição de propriedade também é muitas vezes um desafio, especialmente devido a questões legais e de privacidade, tornando ambíguo quem efectivamente detém o dado e, consequentemente, quem pode reconhecer o seu valor e transaccioná-lo».