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Investimento em inovação: parar não é opção

Num contexto de desaceleração económica, o investimento contínuo em inovação emerge como uma estratégia crucial para a sobrevivência e obtenção de vantagem competitiva. Portugal, apesar dos seus exemplos de sucesso, continua a ser considerado um ‘inovador moderado’. A solução parece estar no investimento contínuo nesta área, com base nos apoios financeiros disponíveis. 

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Investir ‘ad aeternum’
A Bial é um exemplo clássico da importância de manter uma aposta contínua na inovação. A empresa só existe porque, há trinta anos, resolveu apostar em I&D de forma consistente, esclarece António Portela, CEO desta farmacêutica portuguesa que celebra este ano o seu centenário. Esta foi uma aposta materializada na comercialização de dois medicamentos que potenciaram a internacionalização da empresa trofense e a triplicação da sua facturação: «Passámos a vender medicamentos inovadores e patenteados no resto da Europa, EUA e Ásia, o que permitiu à organização dar um salto enorme». Convém salientar que, na indústria farmacêutica, os processos de desenvolvimento de produtos podem levar, em média, entre dez a doze anos. «Não nos podemos ainda esquecer que em cada quinze a vinte mil compostos químicos que descobrimos, apenas um chega ao mercado. Ou seja, basicamente andamos a maioria do tempo a fazer coisas que não servem para nada, que vão acabar no lixo», sublinha António Portela.

Neste contexto, conjugar esta realidade de investimento, persistência e resiliência – e altamente consumidora de recursos financeiros e humanos – é particularmente complicado; António Portela não tem dúvidas de que o crescimento da Bial depende da capacidade de inovar e trazer novos medicamentos para o mercado. «Reduzir, parar ou travar é dar um tiro no pé» no futuro da empresa, esclareceu o CEO.

Portugal inova em cibersegurança
Em Portugal, são vários os casos de sucesso no campo da inovação. A Ethiack, uma plataforma SaaS de cibersegurança que ajuda organizações a prevenir os ciberataques e optimizar custos/recursos (através de hacking ético autónomo), é um dos exemplos. Este portal combina automação, hackers éticos e inteligência artificial para fornecer testes de segurança contínuos e instantâneos com 99% de precisão, garante a empresa. Isto é algo que permite às equipas de segurança gerir a sua superfície de ataque externa e identificar e mitigar vulnerabilidades de forma rápida e eficiente. Jorge Monteiro, co-fundador e CEO da Ethiack, admite que a empresa, sendo uma startup de pequena dimensão, tem mais agilidade nos processos de inovação, mas, por outro lado, tem em conta os escassos recursos disponíveis e, desta forma, mais dificuldade em inovar «face ao elevado número de concorrentes e players no mercado». À pergunta ‘por quê inovar em cibersegurança?’, Jorge Monteiro responde com números: «Hoje, um em cada oito negócios é atacado, com mais de seis dígitos de prejuízo. Começa a ser assustador e dramático», nomeadamente pelo facto de os ataques serem dirigidos a estruturas críticas da sociedade, «como foi o caso do Hospital de Barcelona, pondo em causa vidas».

Inovar em cibersegurança torna-se ainda mais relevante quando as infra-estruturas digitais são cada vez maiores: «Nunca pensámos que o trabalho remoto atingisse as proporções que atingiu. Nunca imaginávamos que estaríamos a trabalhar de forma tão digital e assincronamente. Cada vez mais as organizações se assemelham a grandes cidades: têm muita superfície exposta. Como conseguiremos proteger tudo isto?». O primeiro passo, diz Jorge Monteiro, é identificar todos os “edifícios” que compõem esta “cidade”. Fazendo o paralelismo com o mundo corporativo, o executivo diz que, actualmente, as grandes empresas não conhecem cerca de 30% da sua infraestrutura digital, que se encontra naturalmente exposta: «Como conseguimos proteger algo desconhecido?».