Empreendedorismo

Fundadores e gestores mais qualificados vão ser fundamentais para o futuro das startups nacionais

No V Fórum Link to Portugal, Diogo Mónica, co-fundador e presidente da Anchorage Digital, explicou as principais diferenças entre ser empreendedor nos EUA e em Portugal e disse o que o País pode fazer para ter startups com maior sucesso e continuar a atrair talento.

O evento organizado pela Portugal Agora e pelo site Link to Learders pretende «dar voz à diáspora portuguesa» e «apresentar boas ideias usadas lá fora que possam ser transpostas para Portugal», explicou Carlos Sezões, fundador e coordenador desta plataforma de cidadania. Diogo Mónica, um empreendedor luso-americano que fundou um dos actuais unicórnios de origem portuguesa, revelou que «aprendeu a ser um empreendedor» quando trabalhou na empresa de serviços financeiros Square, de Jack Dorsey (fundador do Twitter), e que a Anchorage Digital nasceu em virtude de ter percebido que «existia uma oportunidade de negócio» quando um investidor «perdeu a password de uma carteira de investimento de bitcoins no valor de cinco milhões de dólares» e lhe ofereceu «20%» se conseguisse entrar na mesma.

Capital vs. startups
Sobre o ecossistema empreendedor, Diogo Mónica esclareceu que «há vários loops que fazem com que funcione»; um dos mais importantes é o de «venture capital [VC] investido em startups que têm talento e que, por sua, vez geram capital». O presidente da Anchorage Digital salientou que os «valores que se conseguem levantar nos EUA são três vezes superiores» aos que se conseguem no País, mas disse que Portugal «evoluiu muito» e que, actualmente, já existem «muitos VC». Desta forma, o «capital já não é o principal bottleneck» para a evolução das empresas nacionais.

O empreendedor considera que há «muito boas startups e leis em Portugal» e referiu a lei de stock options é a «mais competitiva da Europa». Para Diogo Mónica, o problema é que os «investidores americanos não conseguem investir no País, porque é um processo difícil»; para resolver isto, o empresário dá uma possível solução: «Explorar acordos bilaterais», para que esse financiamento possa chegar ao mercado nacional.

Mais empreendedores
Relativamente ao talento, Diogo Mónica considerou que o principal problema é a existência de «middle managers muito facos» e que isso se deve a uma cultura diferente da presente, nos Estados Unidos, em que o «gestor ajuda os colaboradores nas suas carreiras e a serem produtivos» e onde perder um profissional da equipa é visto como «algo muito mau». O responsável indicou que esta cultura de gestão «deve ser adoptada a nível nacional» para que as startups «tenham sucesso». Por outro lado, o presidente da Anchorage Digital disse que há «falta de fundadores qualificados» e que é «preciso de criar a próxima geração de empreendedores». Para isso, é necessário «ter exits (a venda da startup com retorno financeiro para investidores e fundadores) em Portugal», algo que nunca aconteceu. Diogo Mónica sublinhou que esta situação é importante, já que, assim, «esse talento pode ser business angels» que não vão ter medo de arriscar e ajudar outros projectos a serem bem-sucedidos: «Somos um País com aversão ao risco e temos leis com incentivo ao investimento, mas não que reduzam os efeitos das perdas. É uma diferença muito grande. Nos EUA, se tiver uma perda, consigo descontar isso nos meus ganhos de capitais, algo que é muito importante para os investidores».

O empreendedor realçou que a riqueza vem de apostar no tecido empresarial: «Nenhuma das pessoas mais ricas do mundo chegou lá com o salário, ficaram ricas com participações em empresas. Só quando tivermos vários milionários em Portugal que criaram riqueza através das startups é que vai haver fé que estas empresas e que o equity têm valor real e tangível. E será essa nova geração de angel investors que vai fechar o loop do capital, startups e talento».