Em 1973, o Earth Overshoot Day - data calculada do calendário em que o consumo de recursos da humanidade para o ano excede a capacidade da Terra do os regenerar – foi a 1 de Dezembro. Em 2022, foi a 28 de Julho. A verdade é que, nos últimos cinquenta anos, a tecnologia mudou de forma drástica. Em 1973, os mainframes e os minicomputadores ainda dominavam, e os computadores pessoais mal tinham saído do papel – o Altair 8800 da MITS estava a um ano de distância, enquanto o Apple I só apareceu em 1976. Toda a Internet – então conhecida como ARPANET – podia ser mapeada numa única folha de papel e, mais tarde nesse ano, fez a sua primeira ligação internacional (à Noruega), enquanto a World Wide Web só apareceria em 1989. A primeira chamada de telefone portátil de sempre foi feita por Martin Cooper, da Motorola, em Nova Iorque, a 3 de Abril de 1973, com um aparelho que pesava dois quilos.
O que a reportagem da ZDNet enfatiza é que, ao longo deste período de meio século, o avanço tecnológico não atenua, por si só, os efeitos do aumento da população e da distribuição do consumo de recursos – muito pelo contrário, em muitos aspectos, grande parte da tecnologia criada e utilizada nos últimos cinquenta anos contribuiu significativamente para o aquecimento global. Os alarmes começam, agora, a soar um pouco por todo o mundo: os últimos oito anos foram os mais quentes de que há registo; os últimos 2,5 anos representam 10% da subida global do nível do mar desde o início das medições por satélite, há quase trinta anos; em 2022, observaram-se ondas de calor que bateram recordes em muitos países; e a precipitação tem sido consistentemente inferior à média em algumas áreas (África Oriental) e sem precedentes noutras (Paquistão).
Como afirma o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, no seu relatório Alterações Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, o «aquecimento global, atingindo 1,5°C a curto prazo [2021-2040], causaria aumentos inevitáveis em vários perigos climáticos e apresentaria vários riscos para os ecossistemas e os seres humanos». A questão é: somos suficientemente inteligentes para utilizar a tecnologia de forma mais eficaz para ajudar a criar uma economia global mais sustentável e podemos construir e utilizar a tecnologia de forma mais sustentável? A McKinsey acredita que sim.
O papel das empresas
Atingir as emissões líquidas zero exigirá um esforço imenso para inventar, aperfeiçoar e implementar tecnologias climáticas, aquelas que têm como objectivo expresso acelerar a descarbonização. A consultora McKinsey sugere, por exemplo, que a produção anual de hidrogénio limpo, um vector de energia com baixo teor de carbono, teria de aumentar mais de sete vezes para que o mundo atingisse o zero líquido em 2050. A capacidade global de armazenamento de energia de longa duração, que apoia a utilização de energia renovável, tem de aumentar quatrocentas vezes até 2040, para ajudar o sector da energia a atingir a neutralidade carbónica nesse ano, de acordo com um estudo da McKinsey de Novembro de 2021. «Vemos dez famílias de tecnologias climáticas como essenciais para enfrentar o desafio do zero líquido e esperamos que surjam outras», refere a consultora, no artigo ‘Disponibilizar as tecnologias climáticas necessárias para net zero’. Entre estas, constam as energias renováveis, o hidrogénio, as baterias e armazenamento de energia, os combustíveis sustentáveis e a economia circular.