Entrevista

«Temos um grande foco e preocupação com o fit cultural que existe entre os nossos consultores e os nossos clientes»

Entrevista a Pedro Rodrigues, CEO da Hexis Technology Hub.

A Hexis é uma empresa portuguesa de nearshore criada em 2017 e tem clientes quase exclusivamente internacionais. Pedro Rodrigues, CEO, explicou que o grande foco é criar uma ligação entre os clientes e os consultores, com soluções de qualidade.

Como é que a Hexis Technology Hub se apresenta ao mercado?

É uma empresa que se dedica essencialmente à área de nearshore, em que quase 100% dos nossos clientes são internacionais. Procuramos oferecer sempre soluções de qualidade, ter bons profissionais e obviamente no final entregar um bom produto junto do nosso cliente. Basicamente, somos dedicados à área de nearshore e de desenvolvimento de projectos – procuramos projectos de longa duração. Somos também criteriosos na escolha dos clientes com quem trabalhamos. Creio que é muito importante, não só para a empresa, mas também para a nossa equipa, estar em projectos desafiantes em termos tecnológico e de crescimento profissional.

De que sectores são os vossos clientes-tipo?

Não temos um core e não restringimos a nossa actividade a sectores estratégicos. Trabalhamos com áreas que vão desde o e-commerce aos dispositivos médicos, com a indústria de metalomecânica, entre outras áreas; ou seja, não trabalhamos só com empresas de carácter tecnológico, mas também com outras indústrias que necessitam da tecnologia para fazer evoluir o seu produto e que não têm o conhecimento, internamente, para poder fazer o desenvolvimento de determinada solução ou de uma nova funcionalidade. É nesses momentos que entram em contacto connosco, para os ajudarmos.

Também gostávamos de explorar mais a área de blockchain, que está a atrair a atenção dos developers, e a indústria tradicional, que precisa da tecnologia para se manter competitiva. É um grande desafio: temos o know-how interno, temos case studies e podemos ajudar estas empresas a crescer.

Disse que «quase 100%» dos vossos clientes são internacionais. Quais são os vossos clientes nacionais?

O único cliente que podemos considerar nacional é a Farfetch porque, apesar de não ter sede em Portugal, tem origens no País. As nossas equipas trabalham em conjunto com as equipas deste cliente no Porto, portanto diria que é o único projecto onde, tipicamente, a língua oficial acaba por ser o português.

O que vos torna diferenciadores?

Estamos muito focados na qualidade do nosso serviço. Queremos crescer, mas não queremos crescer a qualquer custo. Acho que é super-importante e é o que a Hexis tem tentado fazer: criar um bom engagement, não só com todos os consultores que temos na equipa, mas também com o próprio cliente. Temos um grande, grande foco e preocupação com o fit cultural que existe, não só dos consultores com a Hexis, mas também entre os nossos consultores e os nossos clientes – é fundamental para que as coisas possam resultar. Isto nem sempre é fácil, provavelmente é o principal desafio que temos pela frente, à medida que vamos crescendo; conseguir manter o espírito de grande proximidade que se vive. Queremos ser uma empresa onde toda a gente se conhece e toda a gente sabe o que é que cada um faz.

Depois de dois anos de pandemia e de um início de 2022 conturbado em termos geopolíticos, quais são as vossas perspectivas até ao final do ano?

Cheguei à Hexis em 2021. Entrei num momento de pandemia, o que é extremamente complicado para quem assume a responsabilidade de uma empresa, para conhecer a sua estrutura e perceber quem são as pessoas. Existe um grande foco nas pessoas, que já existia no passado, e esta foi uma das nossas preocupações. A questão da pandemia trouxe-nos alguns desafios, como manter o envolvimento com as pessoas que já faziam parte da organização, mas também com as novas contratações. O trabalho remoto, obviamente, também teve impacto. A nossa política sempre se baseou muito, e já era assim antes da pandemia, numa grande abertura ao trabalho remoto. Os nossos objectivos sempre foram crescer: queremos chegar a uma facturação de 2,6 milhões de euros em 2022 e estamos a conseguir cumprir estes objectivos.

Quais são os mercados onde actua a Hexis Technology Hub?

Sem dúvida, no mercado europeu. Tem havido uma forte aposta no mercado nórdico, trabalhamos com empresas na Dinamarca e na Islândia. Estamos ainda em Israel, com várias solicitações, no Reino Unido e em França. O mercado europeu tem sido o grande foco, mas queremos apostar forte no mercado norte-americano. Já temos aí um cliente, agora queremos explorar novas oportunidades, e estamos em conversações. Na Europa, gostávamos de explorar mais o mercado holandês e o belga. Muitos dos negócios que temos surgem por referência de clientes actuais – esta é a melhor prova que podemos ter da qualidade do nosso trabalho. Creio que as portas se vão abrir, mais tarde ou mais cedo.

Há planos de internacionalização, de abertura de escritórios fora de Portugal?

Não temos uma estratégia definida relativamente à expansão internacional. O nosso interesse é começar pela base, ter uma estrutura sólida em Lisboa e, eventualmente, no Porto ou em qualquer outra região do País que nos permita encontrar talento e, obviamente, tornar o negócio cada vez mais sustentável. Não vejo, para já, a necessidade de abrir escritórios fora de Portugal.

Quantos colaboradores têm? Vão aumentar a equipa este ano para acompanhar o crescimento da empresa?

Sim, o nosso objectivo para este ano era aumentar a equipa em 40% e já vai um pouco acima. A expectativa é de que, até ao final do ano, se consiga atingir os 50% de crescimento face àquilo que tínhamos no ano anterior. Neste momento, temos cerca de cinquenta colaboradores, dos quais quarenta são consultores que estão envolvidos em projectos. No próximo ano, a equipa vai aumentar dentro da mesma da mesma ordem de grandeza, cerca de 30 a 40%.

Como vêm o desafio de contratar e reter talentos?

É um desafio que existe na área tecnológica. As nossas equipas têm uma proximidade muito grande com o cliente, de tal forma que isso torna mais difícil o processo de recrutamento. Quando fazemos a contratação, não nos preocupamos apenas com as hard skills, mas também com as soft skills e com o fit cultural. Temos de ter a preocupação se aquela pessoa vai estar enquadrada com a equipa e com quem vai encontrar do lado do cliente.

Na Hexis, temos conseguido aumentar a nossa equipa, o que significa que as coisas estão a correr bem. Tivemos de mudar um pouco o mindset na forma como fazemos contratações: inicialmente, o foco estava mais em conseguir contratar pessoas que estavam na zona de Lisboa pela questão de trabalharem presencialmente. Mas, neste momento, já começamos a olhar para outras regiões de Portugal e a tentar encontrar talento fora de Lisboa, onde há mais pessoas que estão disponíveis no mercado de trabalho.

Qual é a vossa abordagem para contornar a situação da escassez de talento?

Queremos crescer, mas nunca abdicar desta cultura de proximidade que temos. Todos os colaboradores têm a possibilidade de participar na melhoria de processos e procedimentos internos. Com esse envolvimento, conseguimos garantir um melhor fit cultural com a organização. Trabalhamos muito a nossa cultura para garantir que as pessoas estão satisfeitas no local de trabalho. Um dos processos de recrutamento passa pela referenciação, em que as pessoas que cá trabalham indicam amigos e ex-colegas. Tivemos muito sucesso nesta acção, já que os nossos colaboradores são os nossos melhores embaixadores.

E a contratação fora de Portugal, é algo que equacionam?

Nunca vou fechar portas. Diria que essa não é a nossa primeira abordagem, até porque quando o cliente entra em contacto connosco procura uma solução típica para projectos de longa duração, com equipas de, pelo menos, três pessoas – é muito importante que exista proximidade. A verdade é que nem sempre as pessoas têm de estar no local de trabalho e nós não obrigamos a estar fisicamente na empresa. Contudo, sabemos que há momentos em que é importante essa convivência entre os elementos que fazem parte da equipa. Contratar lá fora não faz tanto sentido, já que torna estes processos muito mais complicados.

Como vê o futuro da Hexis e como é que gostava que a empresa evoluísse?

A forma como gostava que a empresa também pudesse evoluir era no desenvolvimento de um produto e na sua comercialização. Obviamente que o nosso core, neste momento, é a área de nearshore e dar esse acompanhamento aos clientes que temos na Europa e nos EUA, mas este é um dos objectivos que eu gostava de ver cumprido. Até lá chegarmos, ainda pode demorar.