‘Recrutamento e Retenção de Talento no Mercado Tecnológico – o Desafio da Formação’ foi o tema da mesa-redonda organizada pela sociedade de capital de risco e pela escola 42 Lisboa. Teresa Fiúza, vice-presidente da Portugal Ventures, começou por explicar que o «factor-chave a ligar a inovação, a competitividade e crescimento no seculo XXI é o talento e não o capital».
Pedro Santa Clara, director da 42 Lisboa, esclareceu que esta é uma «escola de engenharia de software inclusiva, gratuita, aberta 24 horas por dia e com método de ensino inovador em que aprendizagem é baseada em projectos e na colaboração entre pares, sem aulas e professores». O responsável salientou que faltam «cinquenta a cem mil engenheiros de software em Portugal e cerca de um milhão na Europa» e que «as escolas tradicionais não conseguem dar resposta», pelo facto de o modelo de ensino estar «desajustado» e de não existirem «docentes suficientes para se aumentar o número de alunos».
É por isso que as «escolas alternativas, como a 42, são e serão vitais» para o «crescimento da economia nacional», já que permitem ter alunos diversos e de diferentes áreas que «querem mudar de profissão, não entrar para a universidade» ou preferem «fazer reskilling e upskilling».
Daniela Braga, CEO da Defined.ai, destacou que o seu percurso começou com «formação em Letras», mas que isso não a impediu de fazer um «mestrado e doutoramento na Faculdade de Engenharia do Porto», o que a ajudou a criar a startup que é, hoje, uma das mais bem-sucedidas na área da inteligência artificial. A responsável considera que a «interdisciplinaridade é o pilar do conhecimento do século XXI».
Além disso, Pedro Santa Clara referiu que, na escola que dirige, os alunos «aprendem a aprender, a colaborar e a ser resilientes», algo que «dura a vida toda e que são soft skills vitais para o futuro»; o principal desafio «é que os alunos fiquem na escola e façam a especialização», pois são «tentados pelas tecnológicas com propostas de trabalho antes de finalizarem o curso».
Ambiguidade e espírito empreendedor
A outra participante da Defined.ai, a chief people officer Teresa Nascimento, esclareceu que o mundo das startups é diferente do empresarial, no que diz respeito ao talento: aqui, as pessoas «têm de saber lidar com a ambiguidade, gostarem de arriscar e de tudo o que é novo». A responsável disse ainda que a «flexibilidade, liberdade e a ausência do militarismo e disciplina com muitas regras do mundo empresarial» são a “chave” para «atrair o talento tecnológico e quem tem um espírito empreendedor». Teresa Nascimento acrescentou ainda que quem «encara os desafios como oportunidade em vez de problemas, como no mundo corporativo, deve trabalhar neste ecossistema».
Rita Soares, head of people da BitSight, disse que, quer a atracção, quer a retenção, são «factores críticos para as empresas» e que é fundamental apostar na «formação e na aprendizagem constante». Estes parecem ser os ingredientes para o sucesso deste unicórnio, conhecido como a ‘Moody´s da cibersegurança’; a empresa «conseguiu não perder qualquer um dos profissionais das equipas de engenharia de software nos últimos dois anos, em Portugal».
Verónica Orvalho, fundadora e CEO da Didimo, considerada uma das 21 empreendedoras mais inovadoras da europa, falou da necessidade de se «adaptar os cursos tradicionais para serem mais interdisciplinares», já que «estas competências são fundamentais para os profissionais de tecnologia». A responsável, que também é docente, explicou que, na startup que gere, há três iniciativas de formação «fundamentais» para o sucesso do talento: «A talent incubator, para dar educação interdisciplinar à equipa; os internships, para quem está a finalizar o mestrado e em que os estagiários têm de desenvolver algo para um cliente em dois meses; e, por fim, o Paper Wings, um programa de mentoria e de bolsas de estudo para universitários». Esta é uma forma de «transmitir conhecimento», de «juntar a academia com o mundo empresarial e das startups» e, assim, desenvolver o talento.