É espanhol mas fala um português perfeito, com um quase imperceptível sotaque. Josep María Raventós, country manager da Sage Portugal, diz que as empresas nacionais são ‘early adopters’ e que os portugueses são, tecnologicamente, muito avançados. Tanto que esta empresa britânica escolheu o País para instalar o seu centro de inovação.
Comunicaram ao mercado que a Sage renovou a imagem para «reflectir as necessidades em mudança dos clientes». Que mudanças são estas? O que quer esta nova imagem reflectir?
Estamos a mudar de uma forma global. E estamos a mudar porque o próprio mercado está a sofrer alterações. A Sage quer viver uma transformação e uma mudança muito importante dentro da própria organização para chegar a ser ‘uma grande companhia Sage’. Não há dúvida de que o mercado está a mudar, de que os clientes estão a mudar, os seus negócios estão a evoluir, estando agora cada vez mais dependentes da tecnologia para se poderem adaptar, agir e reagir muito rapidamente a essa evolução. Como consequência de tudo isto, o que os clientes esperam de nós é que sejamos um facilitador do negócio e que, na experiência que têm connosco, como fornecedor de tecnologia, sejamos cada vez mais rápidos e mais simples. Assim, quando falamos na mudança de marca, nas constantes interacções que temos com o mercado e com os clientes, é isso que queremos reflectir. O que definimos não é uma mudança de símbolo, em si. É um símbolo de mudança dentro de toda a organização. É muito mais do que um rebranding.
Qual é a ambição?
Sermos a maior rede mundial de PME, com uma experiência integrada na rede digital mais humanizada, permitindo que o negócio dos nossos clientes flua com mais simplicidade, com mais rapidez e que ajudemos o negócio a desenvolver-se e a crescer. Como, de resto, não pode deixar de ser.
Neste mundo pós-COVID fala-se muito na aceleração da digitalização nas empresas, potenciado por todo este contexto e se, de alguma forma, essa aceleração teria sido sustentada. O que mais vos preocupa?
A pandemia foi uma alavanca muito grande nessa digitalização das empresas, até nos micro negócios. A tecnologia, e nós como fornecedores, tivemos de fazer um esforço muito grande para ajudar. Mas ainda estamos numa fase muito inicial desse processo de adaptação. Ainda há uma margem muito relevante para desenvolver a digitalização das empresas. A interacção entre o que são os negócios, os clientes, os fornecedores, a própria administração pública, tem um espaço para crescer. E é aí onde estamos a colocar o nosso foco, nessa interacção, nessa formação, nessa instrução e ajuda que nós, como fornecedores tecnológicos, temos de dar aos nossos clientes para lhes dar visibilidade das vantagens e dos benefícios que a tecnologia pode significar para os seus negócios.
Tivemos a sorte de o nosso negócio ser considerado essencial. Se somos tão relevantes e essenciais, o que temos de fazer é dar continuidade a essa evolução através da digitalização das empresas. Também queremos ser uma parte relevante na interacção com o Governo e com os fundos europeus, no sentido de ajudarmos, dando tecnologia necessária às empresas para poderem evoluir, transformar e progredir. Ou seja, dar uma maior eficiência, produtividade e competitividade, algo essencial num mundo em rápida transformação.
Como correu o negócio da Sage nestes últimos dois anos?
Tenho de admitir que sinto muito orgulho, foi muito satisfatório. Continuamos a crescer de forma sustentável. Primeiro, porque estivemos muito perto, aliás, ao lado dos nossos clientes. Até para ajudar os que estavam em maior dificuldade, criando um fundo dentro da própria empresa para auxiliar em algumas situações críticas, fornecendo tecnologia com ‘delay’ nos pagamentos ou até com algum suporte económico para ajudar as empresas a evoluir neste período tão complicado. Isto acabou por ajudar a manter a confiança dos nossos clientes na nossa organização. Tivemos crescimentos muito positivos. Aliás, Portugal foi o país em que a Sage teve o maior crescimento, dentro do ecossistema global, basicamente porque desenhámos um plano de contingência muito ‘ad hoc’ para responder às necessidades dos nossos clientes. Isto também nos ajudou a mexer na nossa base de clientes: activos, temos agora quase 62 mil, um boom muito importante, e continuamos a crescer na angariação. O crescimento manteve-se de forma sustentada e consistente nos últimos dois anos em que houve tantas dificuldades. Ou seja, tanto organicamente, como nas receitas recorrentes, estamos a crescer. Outra coisa da qual sinto particular orgulho é termos o net promoter score mais alto do mundo dentro da Sage. Isto diz que o nível de satisfação dos nossos clientes em Portugal é muito elevado em relação a outros países do mundo Sage.
Entre os produtos e serviços que têm disponíveis, qual tem sido o mais requisitado pelas empresas portuguesas?
O Sage 50C, um ERP para as pequenas e médias empresas. Este é o nosso produto-estrela e presente em 70% dos nossos clientes. Em termos de facturação, será responsável por metade do negócio, tem um grande sucesso em Portugal.
A rede de parceiros é muito importante para a Sage. Houve alguma triagem do mercado durante estes últimos dois anos? Como está, hoje, este ecossistema?
A vocação da Sage é ser 100% canal. Neste momento, estamos aproximadamente nos 82%, sendo o restante venda directa. Achamos que o canal é quem mais está perto do cliente, quem melhor conhece as suas necessidades e é capaz de adaptar as nossas soluções à realidade desse mercado. O know-how do que está a acontecer no mercado está no canal. Portanto, para nós é muito relevante.
Hoje, o canal é mais reduzido que há quatro anos, quando tínhamos cerca de 1100 parceiros – actualmente são 658. O que fizemos foi segmentar o canal, com especializando-os nos segmentos de SSB (startups and small business), SMB (small and medium business), midmarket e enterprise market e nos contabilistas. Há parceiros que têm mais que uma especialização. O que queremos é ter os melhores especialistas do mercado, certificados e que passem as provas e os testes de aptidão, com as qualificações adequadas para poderem dar as melhores soluções aos nossos clientes. Estamos a crescer de uma forma muito expressiva e com parceiros mais especializados.
Como vê a predisposição das empresas portuguesas para investir em tecnologia? Como encaram o custo?
Tenho a oportunidade de conhecer o mercado português e espanhol: Portugal é um ‘early adopter’, uma característica que poucos países têm. Por exemplo, uma das diferenças é que a relação entre as empresas e a autoridade tributária, com o SAF-T, ainda não existe em Espanha. Essa tecnologia que o Governo e as empresas utilizam para poderem facilitar a digitalização é uma mostra clara de como estamos avançados em Portugal. Culturalmente, os portugueses gostam de experimentar novas tecnologias, novas ‘features’ nos produtos, novas propostas de valor… é verdade que o tema do custo é de máxima sensibilidade para o mercado português, a tecnologia ainda é vista um pouco como um custo e não como um investimento. Mas, tecnologicamente, os portugueses são tremendamente avançados. Aliás, a Sage está a desenvolver um ‘innovation hub’ mundial e escolheu Portugal para o instalar – ainda está em fase de projecto, mas deve ficar aprovado no próximo ano fiscal.
Quais as razões que vos levaram a instalar esse centro em Portugal?
A primeira razão é pela formação dos recursos, pelas universidades que existem, quer em Lisboa, quer no Porto. Depois, pelos campus tecnológicos – se há tanto talento exportado, porque não tê-lo em Portugal? Depois, pelo facto de haver um custo relativamente inferior ao que teríamos se fosse noutros países, com a vantagem de termos uma melhor preparação e formação. Ou seja, queremos aproveitar essa circunstância para ter aqui o ‘innovation hub’. Para tudo o que lançarmos, primeiro fazemos o teste em Portugal e só depois depois passamos para o resto do mundo. Portugal tem um nível profissional extraordinário.
Como é que o negócio vai evoluir nos próximos dois anos?
Prevemos uma evolução passo-a-passo para o mundo cloud, esta é a nossa direcção. Obviamente, temos a necessidade, enquanto empresa, de manter a liderança em todos os mercados, temos confiança de que se vão continuar a desenvolver. É verdade que há coisas que não podemos controlar, como a guerra na Ucrânia ou as consequências que daí advenham, como os custos ou as dificuldades logísticas. Mas creio que temos uma oportunidade na Península Ibérica. Vamos continuar a inovar tecnologicamente os nossos produtos para podermos responder às necessidades dos clientes. Estou optimista face ao futuro.
1 comentário
Os comentários estão encerrados.