Bom, bonito e barato
A um sistema energético “pede-se” que seja sustentável do ponto de vista ambiental, económico e de serviços. Por outras palavras, um fornecimento de energia barato, verde e confiável. No entanto, segundo Miguel Fernandes, esta é uma equação difícil de equilibrar. «Até conseguimos construir sistemas de energia confiáveis e razoavelmente baratos, como a electricidade, o petróleo ou gás… mas claramente não são verdes o suficiente».
Neste contexto, a crescente pressão social e política para reduzir as emissões de CO2 tem feito da descarbonização um dos principais objectivos de todas as empresas de energia. Até ao momento, não há um consenso claro sobre quais são as medidas mais eficazes a serem aplicadas. «Vão desde a inclusão de impostos específicos, até a inovação e o desenvolvimento de acções de eficiência energética».
Para o especialista, a mudança dos combustíveis fósseis para o aumento da electrificação por fontes de energia renováveis muda fundamentalmente a paisagem energética para um sistema que é mais complexo. «A crescente quantidade de comunicação e tecnologia da informação já está a mudar a forma como produzimos, distribuímos e consumimos energia. Ao contrário dos combustíveis fósseis, que são encontrados no subsolo, o tema está a tornar-se cada vez mais uma questão de ter acesso à tecnologia, mais do que ter acesso a recursos. Existe uma vasta gama de aplicações de tecnologias de digitalização que apoiam a descarbonização, desde a optimização no sector da energia, à desmaterialização geral ou a uma utilização mais inteligente dos recursos».
Artur Mendes foca-se na enorme quantidade de dados que estão a ser recolhidos em várias áreas e no facto de uma boa gestão desses dados poder permitir que o big data se torne numa das principais ferramentas na descarbonização, tornando as redes eléctricas inteligentes mais precisas ou melhorando as avaliações do ciclo de vida de produtos e das suas cadeias de valor. «Da mesma forma, a inteligência artificial e a aprendizagem de máquina podem apoiar o design de produtos mais sustentáveis, aprendendo com experiências anteriores e obtendo o resultado ideal numa velocidade maior do que antes».
Um longo caminho a percorrer
Além de optimizar os processos de produção, Artur Mendes relembra que a IA e a aprendizagem de máquina (machine learning) podem apoiar a descarbonização do sector de energia, prevendo a produção de espaços eólicos e solares. «A IA tem ainda um grande potencial no fornecimento de serviços aos consumidores como geradores de energia e personalização de dispositivos de energia. O aumento do uso da Internet das Coisas pode prolongar a vida útil dos produtos, monitorizando o seu funcionamento através de uma manutenção previsível, ou contribuir para um uso mais eficiente de energia por meio do aumento do uso de medidores inteligentes ou aplicação em veículos eléctricos».
Embora as soluções digitais e tecnológicas às vezes pareçam ser a «solução óbvia», Artur Mendes não tem dúvida que existem barreiras que precisam ser superadas e possíveis efeitos de repercussão a serem observados. «Ainda há um longo caminho a percorrer para que a infra-estrutura digital aproveite totalmente o potencial das soluções digitais. Além disso, o aumento do uso de IoT e IA levanta questões relacionadas à privacidade, confiança e segurança que devem ser abordadas para obter a aceitação dos cidadãos e do sector público».
Uma coisa parece certa: o estado da Europa em 2050 será o resultado dos esforços para tornar o continente verde e adequado para a era digital. Como reconhece a estratégia digital da UE: «As tecnologias digitais, por mais avançadas que sejam, são apenas uma ferramenta». No entanto, são ferramentas que possuem um enorme potencial para acelerar a transição verde.