Não ter medo de falhar
No painel com o tema ‘Mais Transformação Digital no Sector Bancário?’ foi debatida a necessidade de inovar e os processos de digitalização da banca nacional. António Miguel Ferreira, managing director para a Iberia & Latin America da Claranet, disse que a pandemia «fez transparecer a necessidade de acelerar a transformação digital» e que a banca «tem ainda de aprender» referindo um estudo da McKinsey que revela que «menos 30% dos projectos no sector têm sucesso».
O responsável alertou que é «preciso os bancos saberem falhar» e explicou que muitas tecnológicas têm sucesso por não terem medo de falhar. António Miguel Ferreira realçou que o «conservadorismo» associado à banca «tem impedido que isto aconteça».
A banca tradicional «tem uma estrutura tecnológica de legado, que precisa de ser renovada, e com uma arquitectura em silos que traz uma dificuldade de transformação digital rápida», esclareceu Mariana Jordão, vice-presidente de operações da Feedzai. A responsável acrescentou que é por isso que «há bancos a criar marcas paralelas dedicadas ao digital para começarem a aprender e a acelerar a resposta».
O legacy foi também abordado pelo responsável da Claranet, que disse que «não pode servir de desculpa para não se mudar» e que «se tem de criar uma cultura de inovação a começar nos líderes para que um banco possa ser realmente digital». Caso contrário, «os challengers podem ultrapassar os bancos tradicionais como já aconteceu noutras indústrias» já que se os «bancos não mudam, os clientes mudam».
Paulo Costa Martins, sócio da Cuatrecasas, alertou que «há um longo caminho a percorrer» na transformação dos bancos, «em que os reguladores vão ter um papel importante na forma como a digitalização e a inovação vão acontecer na banca».
Mais digital e menos agências
Antes da pandemia, a banca tinha 40% dos seus clientes digitais, mas nos «primeiros seis meses deste ano houve um crescimento na ordem dos 10 a 20%», revelou Nuno Cordeiro, partner da Deloitte. «A banca está a aproveitar para transferir parte dos clientes para o digital, mas isso não esgota a transformação digital». Na base desta mudança «estão clientes que não têm proficiência digital» e, por isso, há que fazer um «trabalho de formação dos colaboradores para ajudar esta transição da base de clientes para o digital». Se isto for feito, vai trazer benefícios consideráveis para o negócio, já que por um lado «os bancos podem rever a sua rede de balcões» e por outro lado, «aproveitar os momentos de contacto digital para personalizar a experiência do cliente e proporcionar uma melhor oferta», afirmou.
A «walletização da banca» foi o grande contributo da SIBS para a transformação digital das instituições a operar em Portugal, explicou Ricardo Chaves, CCO da empresa. O responsável explica que têm «procurado áreas de investimento infraestrutural, em esse investimento pode ser diluído entre vários bancos» para ajudar à «digitalização do País e dos bancos».
Nuno Cordeiro considera que o futuro dos bancos está em «usar a quantidade de dados que têm dos clientes e a confiança para oferecer serviços não financeiros que depois se integrem com a restante oferta», como por exemplo viagens e depois fornecer crédito para as mesmas.
O partner da Deloitte disse que «há um conjunto de tecnologias que vão influenciar o futuro da banca» e realçou «a IA», que «a curto prazo poderá permitir aos bancos darem um salto qualitativo nos serviços que dispõem, com ofertas mais adequadas e personalizadas. Por outro lado, no backoffice vai possibilitar mais eficiência e substituir o poder de decisão parcialmente em algumas áreas».