Fundada em 2014, a Undersee tinha como objectivo inicial «desenvolver um veículo autónomo submarino», mas evoluiu para «uma solução que permite recolher dados de qualidade da água em larga escala», explica o co-fundador e CEO, Jorge Alexandre Vieira.
Com o programa ESA BIC Portugal, da Agência Espacial Europeia, houve uma nova progressão e o sistema passou a dar dados «em tempo real», a ser «facilmente adaptável a qualquer plataforma marítima, como embarcações, boias, estações fixas», e a combinar «dados de imagens satélite».
O responsável revela a missão da startup, que criou com Tiago Cristovão: «Existe uma carência global de amostragem de ambientes marinhos, que pretendemos solucionar». A monitorização ambiental é a área de actuação mais importante da startup, mas a solução «pode beneficiar várias actividades e costeiras e estuarinas, como por exemplo a pesca e a aquacultura».
Hardware e software
O sistema, salienta o Jorge Alexandre Vieira, «consiste em retirar dados de qualidade da água (temperatura, turbidez, clorofila) através de sensores in-situ e de imagens de satélite que servem de input aos modelos numéricos» e que «permitem obter uma visão holística do estado da água».
Para a recolha de dados, a startup desenvolveu «uma box de dimensões reduzidas onde estão colocados os sensores num circuito hidráulico, um data logger, GPS e sistema de transmissão de dados 3G», designada FerryBox, que é posteriormente «instalada em embarcações e em estações fixas».
O CEO destaca que o sistema é colocado em barcos que já circulam normalmente» que «permite a recolha de dados em larga escala a um custo muito reduzido». O modelo de negócio é diferenciador, já que funciona em «data-as-a-service ao contrário da concorrência» e «inclui as tarefas de instalação e manutenção dos sensores e do restante equipamento, mediante uma subscrição anual».
Os dados recolhidos «são disponibilizados na plataforma online, que permite aos utilizadores focarem-se no que realmente lhes interessa, que são os dados da qualidade da água».
Jorge Alexandre Vieira diz que a Undersee está também a desenvolver o «software para análise dos dados» e que «não é comum uma empresa nesta área tentar resolver os problemas de recolha de dados de qualidade da água e ao mesmo tempo trabalhar na analítica desses dados. Acreditamos que esta é a melhor abordagem para sermos competitivos a longo prazo».
Para já, o sistema da startup está em funcionamento numa estação fixa no estuário do Mondego e numa produção de peixe da empresa Nasharyba. Há também FerryBox montadas num barco de passageiros da Transtejo e no barco de pesquisa do IPMA.
Apoios foram fundamentais
A Universidade de Coimbra tem sido «parceira em quase todas as vertentes do desenvolvimento» da Undersee e que tem fornecido «recursos humanos altamente qualificados». Além disso, a startup tem contado com o apoio dos centros de investigação da Universidade e com IPN, «que acreditou no projecto desde o início», refere. O responsável salienta ainda que a incubadora deu «acesso a um ecossistema de inovação» e aos programas da ESA e sem os quais a Undersee «nunca teria saído da fase de ideia».
Jorge Alexandre Vieira está confiante no futuro: «Quando iniciámos o projecto em 2015 pouco ou nada se ouvia falar sobre Economia do Mar. Mas agora tudo mudou e o que estamos a fazer é visto como prioritário. O sector da aquacultura é um dos que mais cresce no mundo inteiro. Só podemos estar optimistas».
A expansão para outros mercados será uma das apostas, já que «sem internacionalizar não é possível crescer» e a startup está a fazer «prospeção de negócio» em vários países. A Noruega é o principal mercado alvo, refere o empreendedor: «Neste momento estamos a iniciar um projeto-piloto numa aquacultura deste país, no âmbito do programa EEA Grants – Blue Growth, que contamos ser fundamental para converter muitos contactos já realizados, em negócio».