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Portugal tem potencial de inovação na área da saúde digital

O País é bastante inovador na área da saúde digital e telemedicina. Mas é necessário trabalhar em conjunto com governos e autoridades reguladoras para facilitar o processo de inovação e a criação de novos produtos neste sector, diz a EIT Health.

Nos últimos anos, registou-se um rápido crescimento no campo da tecnologia médica e de saúde. Não foi apenas o número de players que aumentou neste sector – também a diversidade de produtos e serviços evoluiu exponencialmente. Portugal é exemplo disso. Segundo a EIT Health, uma Knowledge Innovation Community (KIC) lançada pelo European Institute of Innovation and Technology, existem aproximadamente duzentas empresas portuguesas que distribuem produtos médicos, sobretudo pequenas ou médias estruturas, empregando entre quinze a sessenta pessoas.

Embora haja benefícios claros em toda esta dinâmica empresarial, há um notório desafio na forma como os inovadores – aqueles que desenvolvem soluções -, são capazes de se estabelecer neste mercado, um campo altamente regulado, muitas vezes complexo e lento, para que evolua em linha com as novas tecnologias. «Isso é particularmente importante quando vemos cada vez mais soluções a serem desenvolvidas por inovadores que não são específicos do sector e, portanto, podem não ter experiência relevante e entendimento das especificidades do mercado da saúde», salientou a EIT Health.

O cenário regulatório e de reembolso neste sector também está em constante mudança, apresentando novos desafios em termos de desenvolvimento, testes, implementação, usabilidade e adopção de novas soluções de assistência médica.

Como resultado, os inovadores e outras partes interessadas podem enfrentar outros obstáculos ao manterem-se simplesmente a par de como aceder ao mercado de assistência médica. À luz desse ambiente, o mais recente relatório do EIT Health Think Tank, um fórum europeu para especialistas e líderes que influenciam o futuro dos cuidados de saúde, apresenta algumas conclusões sobre o estado português da telemedicina, o seu possível processo de optimização e recomendações passíveis de serem implementadas.

Acesso à saúde virtual é essencial
Com vinte anos de prática em telemedicina, Portugal enfrenta actualmente alguns desafios em relação a um maior desenvolvimento neste campo. Embora 87% dos hospitais públicos recorram à telemedicina – de acordo com uma pesquisa de 2019 publicada pela Glintt, Global Intelligent Technologies - apenas 44% dos profissionais de saúde estão motivados para a sua utilização. Além disso, como a pesquisa revela, ainda há uma visível falta de know-how e infra-estruturas de TI adequadas nesta valência. No entanto, 64% dos consumidores afirmam que é conveniente ter acesso à saúde virtual. Isto permite definir uma clara tendência em direcção ao desenvolvimento e adopção de soluções digitais de saúde. Portugal encontra-se numa situação privilegiada devido à ampla e activa comunidade de inovação e interesse de novos talentos. Por exemplo, as startups e investigadores portugueses são um dos mais activos nos programas europeus de educação e aceleração realizados pelo EIT Health.

«O número de startups e empresários portugueses que participam nos nossos programas de aceleração e educação europeus aumenta ano após ano. São geralmente muito competitivos, ocupam lugares de topo e criam soluções de saúde realmente revolucionárias que estão a ser reconhecidas a nível pan-europeu», afirmou Nuno Viegas, diretor do EIT Health em Portugal. Alguns exemplos são stents biodegradáveis, inteligência artificial para identificação precoce de sinais de doenças neurodegenerativas ou aplicativos médicos que ajudam a gerir as doenças de uma forma mais prática, simplificando o atendimento domiciliar. «Em muitos casos, esses são produtos prontos a consumir e exemplos de inovações orientadas para as necessidades detectadas. A questão principal ainda está no processo de adopção destas novas tecnologias no mercado, incluindo o sistema público de saúde». O Global Health Care Outlook de 2019, da consultora Deloitte, revelava que 64% dos consumidores assumem um forte interesse em soluções de telemedicina que lhes permitem gerir a sua saúde remotamente.

Como é que Portugal pode melhorar, desenvolver e adoptar soluções inovadoras em saúde? As recomendações apresentadas no relatório regional do EIT Health Think Tank referem-se a todas as etapas do processo de inovação: das ideias iniciais, à fase de concretização na entrada no mercado e da adopção da solução.

Abordagem integrada
Entre as recomendações, o relatório indica a necessidade de desenvolvimento de uma abordagem mais integrada dos cuidados prestados aos cidadãos – é necessário criar um ecossistema que permita juntar as partes interessadas, organizações e instituições mais inovadoras, no sentido de trabalharem em conjunto em objectivos concretos, de forma a procurarem produtos e soluções médicas sustentáveis. Nas fases iniciais do caminho, várias são as barreiras com que os investigadores se deparam no acesso a pessoas com poder de decisão e a locais de prestação de cuidados de saúde necessárias para ensaios clínicos, que é um primeiro componente crucial para qualquer solução de telemedicina em saúde.

Associado a isso, o relatório identifica ser necessário facilitar acesso aos pacientes que possam vir a utilizar a solução em desenvolvimento, permitindo que a necessidade real do paciente seja avaliada e, dependendo da solução, fazer com que a mesmo possa ser co-desenvolvida com os potenciais utilizadores. O documento identifica ainda uma lacuna em relação à saúde e à literacia digital em saúde entre cidadãos e cuidadores. Os especialistas indicaram a necessidade de aumentar a consciencialização sobre o processo de inovação, incrementando as capacidades técnicas através de formação, educação, programas de certificação dirigidos não apenas a estudantes, mas também a profissionais, locais de transferência de tecnologia e reguladores.

«Na EIT Health, promovemos uma educação inovadora e abrangente que procura envolver profissionais na área da saúde, estudantes, paciente e cidadãos. O objectivo é aumentar a literacia na área da saúde em novas tecnologias e permitir uma melhor comunicação entre os vários grupos durante o desenvolvimento de uma nova solução ou produto na área da saúde. Com isso, esperamos induzir optimizações significativas na área da saúde para benefício dos cidadãos e contribuir para aumentar a prevenção de doenças, melhorar a qualidade de vida na Europa, reduzir custos e facilitar o tratamento de doenças crónicas. Organizamos anualmente cerca de cinquenta programas e formações diferentes, para estudantes, empreendedores, executivos e profissionais, além de cidadãos», acrescentou Nuno Viegas.

Envolvimento precoce dos consumidores
Os especialistas destacam que é necessário um foco no desenvolvimento de inovações que procurem resolver um problema de saúde ou para o qual os mercados ainda não disponham de uma solução imediata. Isto requer o envolvimento precoce de consumidores, pacientes e hospitais no processo de criação de novas soluções e no levantamento das suas necessidades e pontos de vista.

Para além disso, é necessário trabalhar em conjunto com governos e autoridades reguladoras de forma a facilitar o processo de inovação e a criação de novos produtos de saúde. Os especialistas defendem que isto não se aplica apenas ao sistema de saúde português, mas a todo o sistema europeu, que terá de se adaptar às novas tecnologias e adoptar o recurso a serviços como a telemedicina, além de favorecer o processo de implementação e licenças.